Vivemos o universo econômico dos paradoxos, onde é preciso agregar valor reduzindo custos, atuar regionalmente globalizando e massificar customizando. Simultaneamente, na era em que a novidade de hoje é o antiquário de amanhã, enxergar o que o cliente deseja — antes mesmo que ele se dê conta — exige mais do que desenvolver produtos; impõe uma abordagem empática e pluralista. E isso passa necessariamente por inteligência coletiva nas organizações.

Não importa o ramo da sua empresa: não é possível encontrar caminhos inovadores adotando os mesmos métodos decisórios de 70 anos atrás. Hoje você vai entender como a inteligência coletiva pode revolucionar a forma de responder à complexidade do ambiente de negócios. Acompanhe!

A “sabedoria das multidões”: afinal, o que é inteligência coletiva?

Ao contrário do que pensavam os antigos líderes corporativos, a centralização decisória invariavelmente resulta em visão limitada da realidade, distante dos anseios dos clientes e esterilizadora do potencial criativo de seu capital humano.

Assim, inteligência coletiva se baseia na ideia de que pensar conjuntamente amplia exponencialmente a capacidade de compreender o mundo ao redor. Trata-se do resultado potencializado das inteligências individuais quando entram em contato umas com as outras. Ela manifesta-se quando estamos em sociedade, vivendo coletivamente, compartilhando diferentes maneiras de raciocinar e manifestar os pensamentos.

É a partir de um trabalho colaborativo, agregando repertórios diversos, que são entregues os olhares múltiplos necessários para compreender os desafios empresariais e transformar “problemas” em valiosas oportunidades.

Quando o termo teve origem?

O termo é oriundo das reflexões do filósofo tunisiano (radicado na França) Pierre Levy. Ainda no início da década de 90, Levy tratava das tecnologias da inteligência e sustentava que, na economia do futuro, o capital seria o “homem total”.

Segundo ele, os seres humanos são incapazes de pensar só e sem o auxílio de qualquer ferramenta. Vale destacar, contudo, que a principal ferramenta em questão é a linguagem. Afinal, o uso da linguagem possibilita o exercício da inteligência, visto que permite ao grupo expressar seu raciocínio, construir conceitos e debater ideias.

Como a inteligência coletiva se relaciona com o Design Thinking?

As primeiras considerações sobre o tema foram feitas por Levy, mas foi com o Design Thinking que a consciência de construção cooperativa do conhecimento ganhou destaque.

Centrado no ser humano, o designer desenvolve métodos de raciocínio que misturam lógica e intuição, arte e ciência, escuta empática e visão de negócios. A abordagem de inovação do profissional do design é tão completa que passou a ser usada também por empresas de todos os portes e segmentos. É por isso que as escolas de Design Thinking são tão buscadas atualmente como indutoras de aceleração da inovação.

Ocorre que esse processo está apoiado em uma estratégia de “pensamento abdutivo”, fruto da contribuição de todos os envolvidos em um projeto, inclusive os próprios consumidores finais. Ou seja, estamos falando de inteligência coletiva.

Quais são as áreas da inteligência coletiva?

Segundo Pierre Levy, a inteligência coletiva pode ser subdividida em algumas categorias:

  • inteligência técnica — capacidade de compreensão do mundo concreto, mediante o domínio da Ciência, da lógica matemática e das habilidades analíticas;
  • inteligência conceitual — aptidão para a absorção e interpretação do universo simbólico (olhar para além do literal);
  • inteligência emocional — gestão dos sentimentos, englobando a faculdade de controlar impulsos, lidar com frustrações e impedir que a ansiedade bloqueie a capacidade de raciocinar.

Vai ao encontro desse pensamento o conceito de coeficiente emocional, proposto por Daniel Goleman. Ela envolve soft skills como a sensibilidade e empatia, que desenvolvemos com o tempo para alcançarmos relacionamentos mais profundos.

Nesse sentido, a união da inteligência linguística e emocional, por exemplo, viabilizam relações generativas que nos aproximam de nossa potência total como seres humanos.

pessoas trabalhando juntas para representar a inteligencia coletiva

Por que a inteligência coletiva é importante para as empresas?

A inteligência coletiva nas empresas relaciona-se diretamente com a construção de uma cultura organizacional mais forte e generativa. Para tanto, é preciso haver um engajamento genuíno, obtido por meio da maestria pessoal somada à visão compartilhada dos colaboradores.

No best-seller “The Fifth Discipline”, o professor e pesquisador norte-americano Peter Senge revela que é comum que equipes formadas por profissionais de Q.I. acima de 120 apresentem Q.I. coletivo abaixo de 100. A razão é que poucas empresas ensinam seus talentos a potencializarem suas capacidades mentais para trabalharem juntos em direção ao alcance de um objetivo comum.

Para reverter esse cenário, é necessário estimular uma abertura para o diálogo reflexivo, fomentando a inteligência coletiva e a transformação das empresas em organizações de aprendizado.

De que forma a inteligência coletiva contribui para a inovação?

A inteligência coletiva é uma função direta da inovação. Tanto inteligência coletiva quanto inovação são concebidas a partir da conectividade, que, por sua vez, está atrelada à diversidade.

Portanto, times diversos — e com amplo repertório agregado — tendem a gerar mais inteligência coletiva e maior potencial de inovação, visto que terão condições de articular soluções mais completas para diferentes desafios do mercado.

A noção de topografia

De acordo com Augusto de Franco, a topografia define a inovação. Uma analogia interessante é com o comportamento dos caranguejos. Esses crustáceos são conhecidos por andarem lateralmente e, dentro de suas comunidades, não competem entre si e nem se destroem.

Contudo, se colocados dentro de uma lata, começarão a subir uns nos outros para encontrar saída. Ou seja, o ambiente despertará uma conduta não natural nos animais. Algo similar acontecerá com os funcionários nas empresas se o espaço físico for estruturado com base em um sistema verticalizado.

As organizações que não possibilitam a fluência de comunicação e o contato entre as pessoas geram silos e aumentam a burocracia, rompendo completamente a conexão — que é essencial para que a inteligência coletiva e a inovação se manifestem.

A organização da informação

Para alcançar inovação, as pessoas devem estabelecer uma relação de colaboração, mas não de dependência.

Portanto, outro fator importante é a criação de sistemas de comunicação com informações disponíveis 24/7, de onde todos possam beber o tempo todo.

A tecnologia a favor da acessibilidade, especialmente em um ambiente online e remoto, garante maior contexto e alinhamento entre os colaboradores, além de permitir que a informação seja devidamente distribuída.

A tensão e a abrasividade criativa

Peter Senge traz à tona o conceito de “tensão criativa” — uma manifestação de onde a gente está e para onde quer ir. A professora Linda Hill agrega a essa pauta o termo “abrasividade criativa“, que trata da divergência de pontos de vista.

Isso evidencia que a inteligência coletiva também precisa de pontos de tensão e atrito, que darão vazão à criatividade e potencialmente produzirão energia para chegarmos a lugares que não chegaríamos sozinhos.

Essa fricção fomenta a inovação na medida em que as pessoas se provocam e se estimulam, impulsionando proativamente e positivamente a geração de soluções a problemas complexos.

Como você viu, a inteligência coletiva não é apenas a simples soma das inteligências individuais, mas sim a ressignificação completa do conjunto das potencialidades de cada profissional. E, para se destacar em meio à concorrência, redesenhar os modelos de criação é essencial para o sucesso de qualquer negócio.

Se interessou pelo tema da inteligência coletiva e quer saber mais sobre como criar produtos e serviços inovadores? Então aproveite para conferir o conteúdo sobre como gerar uma inovação verdadeiramente disruptiva em sua empresa!

Reinaldo Campos

Formado em Publicidade e Propaganda (ECA / USP), com MBA em Marketing de Serviços (ESPM) e especialização em Branding (FGV), Design de Serviços (Design Thinking Academy) e Liderança e Facilitação (Schumacher College). Com mais de 25 anos de experiência em setores de serviços incluindo comunicação, educação, aviação e inovação, Reinaldo vem atuando no mercado internacional com palestras, oficinas e consultoria em projetos multidisciplinares, tendo realizado trabalhos na Austrália, EUA, Reino Unido, Hong Kong, Índia, Panamá, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Reinaldo liderou oficinas de Design Thinking, Design de Serviços e Facilitação em várias instituições privadas e também no setor público. Foi palestrante no TEDx Indaiatuba (2016) e ensina Design Thinking na Universidade FEI para estudantes da pós-graduação.

Na Echos, atuou como Head de Experiências de Aprendizagem e participou de várias equipes como consultor e instrutor em projetos de inovação e capacitação com clientes dos segmentos de mídia, saúde, finanças, educação e construção civil, entre outros.

Atualmente, Reinaldo trabalha como professor convidado do curso Facilitation Design.