Diversas empresas buscam maneiras de inovar e responder às mudanças rapidamente, o que gera demandas para os seus líderes. Atualmente, uma boa medida para mudar radicalmente o modo de ser da organização é a holocracia. Você conhece esse sistema de gestão?

O propósito da holocracia é substituir os modelos de distribuição de hierarquia vertical. As empresas deixariam de ter cargos e funções em diferentes degraus, concedendo autoridade conforme as tarefas e projetos que serão realizados.

O modelo incentiva a criatividade e a inovação, pois valoriza o talento dos colaboradores ao conceder o poder para que eles decidam sobre suas atividades. A seguir, explicamos como o sistema funciona e quais são os seus benefícios. Continue a leitura!

O que é holocracia?

A holocracia é o sistema de gestão em que todos (holo) teriam poder ou governo (cracia). Para isso, a autoridade deixa de estar ligada a cargos distribuídos verticalmente, sendo exercida pela pessoa ou equipe em circunstâncias previamente definidas por regras — e qualquer um pode estar na condição de tomar as decisões.

Nesse sentido, ocorre o rompimento com o sistema tradicional de gestão. Em vez de o cargo A (superior) mandar no cargo B (inferior), o poder de decidir dependerá das circunstâncias.

Para os designers, o modelo é um convite à criatividade e inovação. Dentro do projeto, a equipe terá plenos poderes para agir, e os talentos podem utilizar suas competências para fazer algo novo, sem estarem condicionados pelas ordens de um superior. Logo, é um modelo fundamentado para a autonomia.

Essa liberdade existe porque os colaboradores ganham os poderes e responsabilidades sobre suas atividades. Além disso, as supervisões demoraram mais para acontecer e são restritas, sendo os profissionais avaliados se cumpriram ou não os requisitos previamente acordados.

Como funciona a holocracia?

A implementação da holocracia exige a adoção de um conjunto de práticas, e embora o propósito seja romper a hierarquia tradicional, não existe uma única medida definitiva, senão diversas ações, para transformar a estrutura da organização.

Papéis claros e definidos

O pilar inicial é a definição de papéis. Um papel é composto por três elementos básicos:

  • propósito — objetivo, meta ou missão do papel;
  • escopo — situações dentro das quais o papel exerce poder em nome da empresa;
  • responsabilidades — tarefas que o papel deve exercer.

Os papéis podem ser atribuídos a pessoas ou grupos de pessoas, que estão lado a lado na hierarquia da empresa. Daí que a holocracia é um sistema de gestão horizontal.

Estrutura de círculos

Os papéis podem ser considerados círculos, caso seja possível subdividi-los em outros papéis, mais específicos. Por exemplo, o Design de Produto pode conter um papel específico relacionado ao design gráfico, tornando-se um círculo.

As pessoas exercem os papéis na condição de membros. Assim, um indivíduo tem autoridade não porque tem um cargo, mas por exercer o papel que concede o poder de decidir dentro de certo domínio.

Governança

A governança opera nos elos entre os círculos e em suas formações. Ela pode adicionar ou remover papéis, bem como criar ou eliminar subdivisões em círculos de poder, especialmente considerando se os propósitos foram cumpridos.

Processo operacional

Os papéis recebem responsabilidades, propósito e domínio de atuação. Nesse conjunto, estarão os deveres ao realizar as tarefas e relacionar-se com os demais. Logo, o trabalho não segue ordens dadas a todo momento, mas procedimentos estabelecidos.

ilustração de pessoas trabalhando de forma conectada para representar a holocracia

Papel dos líderes e colaboradores

Pelos pontos indicados, perceba que a função dos líderes e colaboradores não é estável, e as pessoas podem exercer qualquer das posições conforme o papel recebido. Outra consequência é o crescimento dos profissionais capazes de aplicar a liderança situacional, uma vez que sabem lidar com diferentes contextos.

Estrutura em rede

Outra característica é a estrutura em rede. Cada círculo é uma unidade que se conecta ao todo e exerce suas atividades com autonomia. Até em razão dessa transformação, os conhecimentos de design da mudança são importantes para gerir essa saída do modelo tradicional para um novo sistema.

Vale ressaltar que as orientações para implementar o sistema de gestão podem ser encontradas na Constituição da Holocracia. Esse material é atualizado pelo consultor Brian Robertson, criador da empresa HOLACRACYONE e autor do livro Holacracy. Foi ele quem desenvolveu os princípios das abordagens desse novo modelo de gestão.

Quais são os benefícios da holocracia para uma organização?

A contribuição da holocracia é dar autonomia para os talentos. A partir dessa característica principal, nascem uma série de benefícios para as empresas.

Democratização da autoridade

A autoridade será distribuída de forma mais equilibrada. Além disso, a união entre responsabilidade, propósito e domínio de poder aproxima a tomada de decisão do responsável pela execução da tarefa.

Resposta a mudanças

A distribuição de poderes gera a redução de processos e etapas decisórias, permitindo que os problemas sejam rapidamente resolvidos. Se o profissional está dentro do seu papel, por exemplo, ele não terá de consultar um superior para tomar decisões.

Desenvolvimento de competência

Os colaboradores, na holocracia, são multidisciplinares e circulam por diferentes papéis ao longo da carreira na empresa. Assim, os funcionários podem aprender novas competências, adquirindo experiência em diferentes papéis.

Satisfação de colaboradores

Os colaboradores recebem poderes e têm mais liberdade para colocar seus conhecimentos e habilidades em prática. Ademais, o conceito de papel indica claramente que o trabalho tem significado, pois sempre conecta as responsabilidades a um propósito.

Atração de talentos

Não por acaso, a empresa se torna um ambiente atrativo para profissionais que lidam bem com autonomia e tomada de decisões. Esse é também um prato cheio para quem é criativo e tem a inovação entre os seus objetivos profissionais, facilitando a gestão de talentos.

Lembre-se de que, assim como outros modelos de gestão, é importante considerar as características do negócio. Como visto, esse sistema favorece a autonomia e acelera os processos de decisão. Por isso, considere o peso desses benefícios para sua empresa, verificando se vale a pena adotar as mudanças.

Você pode se inspirar nos princípios da holocracia, adaptando aquilo que fizer sentido para a sua realidade. Afinal, mesmo sem migrar totalmente para o novo modelo, podemos aprender bastante sobre como dar liberdade para as equipes e incentivar a criatividade nas empresas.

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Márcio Leite

Márcio é especialista na construção de discursos e estratégias para marcas, produtos e serviços a partir das abordagens e processos de design colaborativo. Trabalhou ao longo da sua carreira para importantes empresas como AMBEV, Philip Morris, O Boticário, Marisol, Ferrero, Nokia, e nos canais Globosat e Globo, onde implementou e liderou um innovation lab, desenvolvendo projetos e operações de inovação sistêmica com áreas internas e com parceiros comerciais de diversos segmentos e indústrias, como Tim, Claro, Vivo, Motorola, Johnson & Johnson, Nestlé, Seara, Casas Bahia, Diageo, Itaú entre outras.

Além de palestrante, professor, é pesquisador, sempre conectado às tendências e aos movimentos do mercado e consumidores.