O que é o feminino? Ele pode transformar o mundo? Foram estas perguntas que guiaram as palestras e reflexões do evento Casa TPM, que aconteceu durante o último fim de semana, em São Paulo. O tema conversa diretamente com a Iris, o projeto da Echos que fomenta a construção do futuro desejável no Brasil a partir da igualdade de gênero e liberdade do feminino Se você ainda não conhece o projeto acesse aqui: Como promover a igualdade de gênero até 2030.

Estivemos presentes no evento para ficar por dentro das questões que mais têm permeado o tema. E a conclusão foi que os principais aprendizados que tivemos neste um ano e meio de projeto permearam fortemente as discussões. Pensando nisso, resolvemos fazer um paralelo entre nossos aprendizados e os pontos mais marcantes das palestras:

Não dá para falar sobre igualdade de gênero sem considerar questões sociais como raça, classe e sexualidade

Uma das conclusões que tivemos com nossa pesquisa é que as opressões relacionadas a outros fatores como raça, classe social e localidade precisam ser vistas de maneiras  interligadas, pois uma pessoa é formada pela combinação  destes fatores. É o que ficou claramente explicado na fala da filósofa Djamila Ribeiro, durante a palestra A CONSTRUÇÃO DO FUTURO FEMININO:

“Precisamos pensar nas estratégias para formar a sociedade que a gente quer. Não adianta se colocar como feminista e continuar oprimindo outros grupos, alimentando outras formas de opressão. Juntas, podemos encontrar maneiras de enfrentar as opressões estruturais.”

Veja aqui palestra completa.

O machismo prejudica pessoas de todos os gêneros

Que as mulheres são as maiores vítimas do machismo é indiscutível: só no Brasil, uma mulher é assassinada a cada 8 minutos. Assim como os LGBTQs, já que somos o país que mais mata pessoas deste grupo no mundo. Mas o fato é: homens também se prejudicam com o machismo e traçar uma luta conjunta contra o tema beneficiará a todos.

“Construir junto é muito importante porque vemos tanto homens como mulheres lutando contra a escravidão do machismo. Um homem que foi criado para não chorar, ser sempre rústico e nunca poder se mostrar frágil, isso também é muito cruel. Assim como uma mulher que para se tornar líder, precisa assumir características masculinas achando que liderança é “poder de macho”, disse a geneticista Lygia da Veiga Pereira durante a palestra: O futuro é feminino?

Essa foi uma das principais conclusões do projeto Iris, após um ano de pesquisa de empatia: a desconexão com a feminilidade machuca e mata pessoas de todos os gêneros.

E uma possível solução para o problema foi indicada por uma outra participante da mesa, Viviane Duarte, a criadora do Plano de Menina: “um futuro sem estereótipos, onde o feminino é uma potência que possa ser exercido em ambos os gêneros”.

Precisamos falar com os Homens

Precisamos trazer os homens para essa luta. E temos provas suficientes para isso: a promotora Gabriela Manssur, uma das palestrantes da mesa Precisamos Falar com os Homens, trouxe dados estatísticos. Ela fundou um projeto chamado Tempo de Despertar, um trabalho de combate à violência contra a mulher por meio da reeducação de homens agressores. 97% dos homens que participaram do projeto não voltavam a agredir sua parceira. Além de propor uma reflexão sobre a violência dos agressores, o projeto busca entender o que há por trás da vida de cada participante, os dramas cotidianos e histórico familiar deles.

“Cada vez mais homens querem se transformar, mas eles precisam de ajuda.” Afirma Guilherme Valadares, criador do blog Papo de homem e mentor de um grupo de apoio emocional para homens.

Um dos aprendizados do projeto Iris, que antes se chamava Violência Contra a Mulher é que ao colocar o homem apenas no papel de agressor não conseguíamos engajá-los na causa. E para a transformação acontecer, precisamos de todos envolvidos na questão. Após concluir que a desconexão com o feminino é a responsável pelo problema e machuca tanto mulheres quanto pessoas de todos os gêneros, o projeto tirou o foco da violência e começou a trabalhar com a liberdade do feminino. Pois assim como disse Gabriela no evento, “a ideia é acharmos um ponto em comum para começarmos o diálogo.”

Precisamos sair da bolha regional e de classe para discutir igualdade

“Vivemos em uma bolha, onde às vezes parece até que as questões do feminismo já deram certo” – disse a geneticista Lygia da Veiga Pereira. Se repararmos os espaços onde as discussões por direitos estão acontecendo, percebermos que em sua maioria acontece em ambientes intelectualizados, de classe alta e em grandes centros urbanos. Isso pode ser um problema se olharmos que em outras regiões do país as mulheres estão lutando pelos direitos mais básicos – com um índice gigante de violência doméstica e feminicídio. “Não adianta você achar que ser livre é ser independente e comprar um carro enquanto 8 mulheres são mortas por dia por causa da violência. Precisamos de um senso de comunidade”, disse Lygia.

É por isso que o projeto Iris vai percorrer as 5 regiões do país com workshops de co-criação onde pessoas dos próprios locais desenvolverão as soluções para alcançarmos um futuro desejável a partir da igualdade de gênero e da liberdade do feminino. Inclusive, estamos nos últimos dias do processo de seleção de embaixadores, como escrevemos há pouco: Projeto iris abre inscrições para embaixadores. 

Para terminar este paralelo, uma frase da atriz Bárbara Paz, sobre sua visão de futuro desejável para o feminino:

“Cresci querendo ser menino até descobrir que quem me domina é uma mulher. Faz pouco tempo que eu consegui aceitar a mulher em mim, mas eu amo ser mulher. A mulher não desiste fácil, ela ama em demasia, sente em demasia, ela pode tudo. Nos procriamos onde colocamos o cérebro. Eu amo ser mulher para poder cuidar do homem que mora em mim. Nós somos o equilíbrio”

Quer saber mais sobre o projeto Iris? Acesse: https://www.iris.echos.cc/ 

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.