O mercado de vinhos tem passado por uma revolução tanto tecnológica, com melhorias no processo produtivo, como também quanto às suas estratégias de negócios. Nesse bate-papo pra lá de interessante, conversei com Paulo Brammer, sócio proprietário da Enocultura, em que discutimos sobre o mercado de vinhos e como a inovação está acontecendo nesse setor!

1) Conte um pouco sobre sua história, o que te levou a ingressar no mercado de vinhos e a criar a sua empresa.

Por volta de 20 anos, decidi morar na Inglaterra com o objetivo de estudar direito internacional e aprender inglês. Como precisava ganhar dinheiro para me manter no país, acabei indo trabalhar em restaurantes, no que eles chamam de fine dinning, categoria de restaurantes mais sofisticados.

Foi então que comecei a me interessar por bebidas e a estudar sobre elas. Rapidamente me tornei um apaixonado pela gastronomia e a investir em cursos sobre mixologia. Como resultado, minha na carreira começou a decolar e acabei assumindo a posição de Chefe Sommelier com os chefs irmãos Pourcel, detentores de 3 estrelas Michelin, do restaurante W’Sens.

Passei a me envolver também com grandes eventos com artistas e famosos. Lançamentos de filmes também. Foi quando acabei aceitando a proposta para trabalhar para um grande grupo de bebidas europeu na área de operações executivas, em que passei a viajar pelo mundo, como gestor de compras, em busca dos melhores vinhos.

Em 2013, buscando “recalcular minha rota”, fundei em parceria com meu amigo Thiago Mendes, a Eno Cultura.

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Participantes em evento promovido pela Enocultura em que a integração rolou solta!

A Eno Cultura tem como objetivo compartilhar toda a experiência adquirida no mundo dos vinhos e destilados na Europa, além de ajudar no progresso da indústria, estabelecendo o conhecimento através da educação.

Promovemos cursos abertos para quem quer se aventurar no mundo dos vinhos, bem como palestras customizadas. Para quem busca mergulhar de cabeça, ministramos cursos profissionalizantes de reconhecimento internacional da instituição inglesa WSET (Wine & Spirit Education Trust), a maior certificação educacional de vinhos do mundo. Esse seria nosso espaço-escola.

Mas também acreditamos que o vinho sirva para criar experiências, possibilitando o estreitamento das relações das empresas com seus clientes e colaboradores. Somos bastante procurados por empresas que queiram realizar eventos de marketing e de team building.

Você poderia nos dar exemplos?

Posso dar três exemplos do que fazemos. Neste ano, fizemos um lançamento de um software para uma empresa de tecnologia em que combinamos com harmonização de vinhos. Realizamos uma mini master class em que harmonizamos a bebida e a comida de acordo com as características do software. Assim, servimos pratos e vinhos que estavam relacionados a potência ou velocidade do software.

Outro projeto que desenvolvemos para uma grande empresa de utensílios domésticos foi um evento de relacionamento com o cliente. Para todos aqueles que haviam comprado determinado valor em produtos, a empresa realizou uma surpresa: um treinamento sobre como armazenar vinhos. De forma lúdica e leve, fizemos um workshop sobre o tema.

Também fizemos uma ação com uma montadora de veículos com o objetivo de integrar diferentes áreas e equipes. Happy hours podem servir como um ótimo pano de fundo aliado a técnicas de integração de equipe para gerar novos conexões entre as pessoas e melhorar o nível coesão e comunicação entre times!

2) Pela sua perspectiva, como está o cenário atual do mercado de vinhos?

Interessante essa pergunta porque o apesar de uma bebida milenar e que faz parte de muitas culturas, ainda é uma bebida relativamente nova no Brasil. Ainda bebemos muito pouco vinho. A média brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Vinho é de 2 litros por habitante por ano – menos de 3 garrafas ao ano -, considerando tanto os vinhos de mesa quanto os finos.

A título de comparação, cada chileno e argentino bebe, por ano, respectivamente, 17,46l e 23,46l. Se considerarmos os países europeus, de acordo com o Wine Institute, os franceses chegam a consumir 42,51l, o que dá aproximadamente 1 garrafa por semana!

O Brasil ainda possui esses números em parte por uma questão cultural. Vinho ainda é considerado um artigo de luxo aqui, enquanto nos países europeus, como a citada França, é possível encontrar vinhos decentes a preço de água mineral.  

No entanto, existem problemas na outra ponta da cadeia, como gargalos por parte de importadores e produtores na gestão de portfólio, que hoje são muito extensos, e na comunicação com o consumidor final.

3) Sob essa perspectiva, o que você enxerga como tendência no setor de vinhos?

Acredito que podemos melhorar e muito o relacionamento entre produtor e consumidor final e melhorar toda a experiência de consumo de vinho no Brasil. Para isso, é fundamental entender as necessidades das pessoas e criar soluções que façam sentido para elas.

4) Você fez conosco Design Thinking Experience e o Design de Serviços, como foi a experiência de participar dos cursos e qual foi o seu maior aprendizado?

Vinha estudando sobre o assunto e tenho um irmão que atua na área de inovação, razão pela qual já tinha certo conhecimento sobre design thinking antes de fazer os cursos. Porém, estava buscando realmente entender melhor esse universo. Vi que tanto o Design Thinking quanto o Design de Serviços vão muito além de serem apenas ferramentas para inovação. Acredito ter saído com um modelo mental, uma nova forma de resolver problemas.

Percebi, especificamente no curso de design de serviços, como e, principalmente, porque transformar algo em um serviço e a importância de criar uma experiência para o meu cliente. Também percebi, pelo fato de ser um modelo mental, que existe um processo de sedimentação do conhecimento. Fiz o Design Thinking Experience no começo do ano e o Design de Serviços recentemente e aos poucos fui incorporando os conceitos e os aprendizados e implementando na minha própria empresa.

5) Poderia dar algum exemplo?

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Apresentação das personas internamente da Enocultura

Estamos trazendo esses conceitos para a Eno Cultura. Depois de 3 anos no mercado, chegamos a mais de 2000 alunos e somos reconhecidos como referência na área educacional em vinhos. Sentimos a necessidade de dar o próximo passo e nos aproximar mais dos nossos alunos, melhorando a experiência dentro da academia. Por isso, iniciamos um processo de ir a campo e criar personas e jornadas dos nossos clientes, exatamente para entender como podemos criar novos produtos e serviços, bem como melhorar os já existentes.

Também estou abrindo outra frente de negócio, uma agência de comunicação especializada no mercado de vinhos e baseada em design thinking. A ideia veio da vontade fazer e de inovar no segmento, bem como a partir do meu repertório adquirido na Escola Design Thinking. Aplicamos os conceitos e o processo de design thinking e de design de serviços com o objetivo de oferecer soluções que melhorem a experiência e a relação dos nossos clientes com seus consumidores os vinhos e principalmente com os potenciais consumidores.

Afinal, o vinho é mais do que uma bebida, é uma experiência social e gastronômica.

Um dos nossos clientes, por exemplo, nos procurou com o objetivo de aumentar suas vendas de vinhos americanos. A partir desse desafio, aplicamos o design thinking para entender, de fato, o que os consumidores pensam, sentem e falam sobre vinhos americanos.

Fizemos uma cozinha experimental e convidamos alguns clientes, tanto consumidores quanto pessoas da cadeia de distribuição. O resultado foi que descobrimos um novo problema: o mercado em si não dá espaço aos vinhos americanos – inclusive físico, nas prateleiras – e bem como há certa aversão por parte dos consumidores a vinhos oriundos dos Estados Unidos.

Também foram realizadas entrevistas com funcionários e fornecedores do nosso cliente para entender os gargalos que acontece na venda e distribuição dos produtos. O que se verificou que a aversão e a falta de espaço, vinha da ausência de conhecimento do público sobre os vinhos americanos.

Uma vez entendido o problema, realmente tínhamos um briefing em mãos sobre o qual poderíamos trabalhar. Após passar por todo o duplo diamante (do Design Thinking), chegamos a 8 possíveis soluções, sendo que a selecionada pelo cliente foi um projeto de gamificação para a equipe de vendas combinado com um evento de degustação de vinhos americanos para que o público pudesse conhecer melhor os produtos.


Se você quer conhecer melhor sobre o universo do vinho, não poderia deixar de recomendar um excelente documentário disponível na plataforma Netflix o Somm: Into the Bottle. Trata-se de uma continuação do Somm Film – que conta a história de 4 sommeliers que estão prestando o famoso e difícil exame para se tornarem um Master Sommelier concurso mais famoso do mundo sobre a profissão.

Porém, nessa segunda parte, o diretor Jason Wise faz um trabalho ainda mais brilhante e vai mais a fundo sobre a profissão de sommelier e na própria produção de vinho, levando-nos a conhecer o que há por trás das cortinas e como os vinhos são realmente feitos. Tudo isso regado a belas paisagens ao fundo.

Ao longo do filme, você irá conhecer as personalidades mais envolventes do universo do vinho, além de ser uma aula sobre história, cultura, produção e a paixão por trás de cada garrafa de vinho e sobre o estilo de vida que a bebida representa. Ao final, sairá com aquela vontade de abrir uma boa garrafa de vinho.

E caso queira conhecer mais sobre o trabalho da Eno Cultura, não deixe de acessar o site. Lá você encontrará mais informações sobre os cursos e o universo do vinho!

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É empreendedora e educadora. Ela é cofundadora da ECHOS e suas unidades de negócios: Design Echos e Escola Design Thinking.

Ao longo dos últimos anos, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação no Brasil. Atua como líder em projetos de inovação nas áreas de saúde, construção, internet das coisas e outros. Como educadora, dissemina o conceito de inovação para o bem.

Em 2014 palestrou no Global Innovation Summit, em San José, Califórnia e, em 2015 foi jurada do primeiro prêmio William Drentel de design para impacto social e foi convidada a palestrar no TEDx Mauá.