O ano de 2020 está chegando ao fim. É hora de se perguntar: o que você quer para seu 2021? Se o último ano nos ensinou alguma coisa, é que não podemos prever ou controlar o que acontece conosco.

No entanto, isso não deve nos impedir de imaginar o que desejamos para nossos futuros e de criar uma visão para nosso futuro. E isso só é possível porque designers usam ferramentas de visualização para criar serviços, produtos e futuros como parte de seu kit de ferramentas. E se aplicássemos esses mesmos processos para projetar nossas vidas?

O artigo a seguir destaca novas formas de pensar a criação de um futuro, e oferece materiais práticos para você aplicar esses frameworks em sua vida. Você quer que o futuro simplesmente ‘aconteça’ para você, ou quer projetar de maneira intencional o futuro em que deseja viver?

O mundo está mudando, e sua vida também 

O mundo não é estático, é adaptável e pode ser mudado. Embora possa parecer que as coisas não podem ou não vão mudar, isso é apenas uma impressão. Só porque muitas instituições ou regras existem há muito tempo, não significa que vão existir para sempre. A verdade é que em algum momento elas foram novas, e evoluíram com o passar do tempo.

A História vem nos mostrando que mesmo as fundações mais estáveis podem mudar. Existem muitos exemplos disso acontecendo em 2020. O mundo está mudando e agora é o momento perfeito para começarmos a redesenhá-lo de maneira intencional. Compreender que o mundo muda constantemente nos permite ser ousados e sonhar com o que é possível!

Compreenda o presente para progredir a um novo futuro

Nosso presente é uma manifestação de nossas escolhas passadas. Por exemplo, mudar-se de uma cidade para outra possibilita a criação de novas amizades ou de oportunidades profissionais. Assim, se nosso passado projeta nosso presente, se o deixarmos inalterado, ele também criará nossos futuros. Para projetar um novo futuro, devemos nos tornar conscientes de nossas escolhas passadas. Caso contrário, vamos acabar replicando o passado, independentemente de ser bom para nós ou não.

Estamos continuamente replicando o passado por meio de estruturas sociais, como modelos de organização hierárquica, democracias representativas, ou sistemas sociais ultrapassados que produzem racismo, pobreza e desnutrição. Apegar-nos a sistemas antigos nos mantém vivendo no passado. A maioria das estruturas sociais com as quais vivemos hoje foi criada para resolver os problemas de 100 anos atrás, não os problemas de hoje. Essas instituições podem ter sido a melhor solução naquele momento, mas o mundo e seus problemas evoluíram. Assim, elas não são mais apropriadas para o mundo moderno e, se não forem mudadas, vão continuar replicando os problemas do passado em nossos futuros.

É fundamental entendermos isso. Se quisermos mudar nosso futuro, devemos mudar as escolhas que estamos fazendo agora, em nosso presente. Isso significa que, primeiramente, devemos analisar de perto as forças profissionais, pessoais e sociais que compõem nosso presente. Assim que pudermos ver e entender o momento presente como ele realmente é, poderemos começar a nos afastar das escolhas do nosso passado e fazer novas escolhas. Para progredirmos a um novo futuro ao nível pessoal e social, devemos fazer escolhas radicalmente novas.

Então, como aprendemos a ver nosso momento presente e a analisá-lo? Na próxima parte do texto, vamos aprender a analisar as crenças que possuímos. Devemos avaliar nossas crenças de nosso presente e abandoná-las ou desenvolver novas crenças. Ou seja, devemos nos deslocar a novos espaços liminares. O termo liminar é usado para descrever coisas que existem na fronteira entre uma coisa e outra. Para nosso exercício, significa desenvolver crenças que possam transportá-lo do seu momento presente para o futuro.

O próximo material oferece um exercício prático para nos ajudar a entender nossas crenças para decidirmos se queremos levar esse pensamento para nosso novo futuro. Devemos transportar nossas crenças do limiar do presente para o novo espaço do futuro.

Material Um: Crenças Disfuncionais

O exercício seguinte foi retirado do livro de Dave Gray, Liminal Thinking. Convidamos você a explorar os princípios a seguir e a mergulhar no exercício previsto para começar a superar as crenças disfuncionais que estão restringindo você. Esse exercício permitirá que o pensamento liminar ajude a transpor a lacuna entre o presente e o seu futuro. Gray explica os princípios do pensamento liminar da seguinte maneira:

  • Crenças são modelos.

Crenças parecem representações perfeitas do mundo, mas, na verdade, são modelos imperfeitos para navegar numa realidade complexa, multidimensional e desconhecida.

  • Crenças são construídas.

Crenças são construídas hierarquicamente usando teorias e julgamentos, que são baseados em fatos selecionados e experiências pessoais subjetivas.

  • Crenças criam um mundo compartilhado.

Crenças são o material psicológico que usamos para co-criar um mundo compartilhado para que possamos viver, trabalhar e fazer coisas juntos. Mudar um mundo compartilhado requer mudar suas crenças subjacentes.

  • Crenças criam pontos cegos.

Crenças são inconscientemente defendidas por uma bolha de lógica vedada, que as mantém mesmo quando elas não funcionam para proteger a identidade pessoal e a autovalorização.

  • Crenças defendem a si mesmas.

Crenças são inconscientemente defendidas por uma bolha de lógica vedada, que as mantém mesmo quando elas não funcionam para proteger a identidade pessoal e a autovalorização.

  • Crenças estão ligadas à identidade.

Crenças dominantes, que formam a base para outras crenças, são as mais difíceis de mudar, pois estão ligadas à identidade pessoal e aos sentimentos de autovalorização. Você não consegue mudar suas crenças dominantes sem mudar a si mesmo, sem esmiuçar as crenças.

Agora, complete o seguinte material para desvendar suas crenças para que você possa progredir ao futuro com as crenças que servem para você, e deixar para trás as que não servem.

  • Escreva qual é a crença.

Acredito que _(sua crença)___________.

  • Detalhe a crença.

Tenho (escreva suas experiências), nas quais percebi que (suas observações). Com base nessas observações, tenho a teoria de que (descreva sua teoria) e concluo que (julgamento). Portanto, acredito que (sua crença).

Agora, pergunte-se e tome nota a respeito das seguintes questões:

  • Quais outras experiências podem ser possíveis ou válidas?
  • O que você pode não ter percebido?
  • Quais outras teorias são possíveis?
  • Quais outras conclusões podem ser obtidas?
  • Quais outras crenças podem ser válidas?

Pense como um designer — Construa seu caminho para o futuro

Agora que compreendemos as crenças que defendemos e como podemos usar as que são úteis para criar um futuro, devemos seguir para a parte mais importante deste processo. Devemos nos tornar designers do mundo em que queremos viver.

Muitas das atitudes que tomamos em nossas vidas são feitas sem um pensamento ou decisão consciente. No entanto, como designers do nosso novo mundo, é fundamental estarmos conscientes do que estamos criando. Porque, no fim das contas, você está projetando seu mundo, quer esteja consciente disso ou não. Estamos constantemente projetando nossa cultura, família, país, organização e nós mesmos.

Isso é o que chamamos de design do invisível. Design não é apenas o que você pode ver, mas também o que está escondido. Por exemplo, sistemas governamentais, processos de trabalho ou normas culturais. O que estamos projetando inconscientemente é muitas vezes mais importante do que o que estamos projetando conscientemente, porque tem uma grande influência no mundo em que vivemos.

Precisamos nos afastar do inconsciente e nos aproximar do design consciente para tornarmos nossas vidas e o mundo um lugar melhor. Desenhar um futuro mais equitativo é o que chamamos de inovação social. Esse conceito aplica o pensamento de inovação para resolver problemas difíceis do mundo de uma maneira nova.

E a parte mais interessante disso tudo é que cabe a todos nós desenhar nosso mundo. Podemos definir intencionalmente o futuro e abordar os verdadeiros problemas da nossa sociedade. Nossos problemas atuais foram criados de maneira não intencional, e agora é hora de procurarmos intencionalmente soluções melhores.

Criar uma visão do futuro em que queremos viver ajuda-nos a resolver não apenas nossos próprios problemas, mas também pode nos ajudar a criar um mundo melhor para todos nós.

Transforme as condições existentes em condições mais desejáveis

Já deve ter ficado claro até aqui que tudo o que não foi criado pela natureza foi desenhado por humanos, o que significa que pode ser redesenhado. Isso só é possível porque estamos vivendo em uma época de extrema abundância. A maioria dos nossos problemas como sociedade já tem uma solução possível. Não os vemos como uma possibilidade porque somos muitas vezes guiados pelo nosso passado e não visualizamos as novas opções.

Como podemos abandonar um mundo dominado pelo passado e caminhar em direção a um mundo guiado por nossos futuros? A resposta está na criação de uma visão clara desse futuro, para que sejamos direcionados por essa visão. Podemos redesenhar qualquer coisa se tivermos uma visão clara que nos leve em frente.

O processo a seguir revelará o que você quer para seu futuro e mapeará os primeiros passos dessa jornada. Isso pode ser feito com um conjunto de materiais para nos guiar neste processo. Os próximos dois materiais vêm do livro ‘O Design Da Sua Vida’, de Bill Burnett e Dave Evans.

Material Dois: Equilíbrio entre amor-divertimento-trabalho-saúde

Em seguida, vamos explorar o equilíbrio entre o amor, o divertimento, o trabalho e a saúde que precisamos manter para alcançar nossos objetivos e desejos futuros. Preencha o seguinte material baixando-o aqui ou use a imagem abaixo como guia.

Material Três: Plano da Odisseia do livro ‘O Design Da Sua Vida’ em 3 Versões

O seguinte material cria três possíveis futuros diferentes. Antes de avançarmos com este exercício, analise o material de Crenças Disfuncionais. Pergunte a si mesmo: quais crenças você precisa abandonar para seguir em frente? E quais novas crenças você precisa adotar para progredir a um novo futuro possível?

Lembre-se de refletir enquanto responde às seguintes perguntas: Tenha em mente que não estamos planejando resultados prováveis; estamos desenhando possibilidades, então use sua imaginação. Certifique-se de abraçar múltiplas personalidades; quantas versões diferentes de você podem existir no futuro? E, por fim, não pense linearmente. Certifique-se de deixar o futuro aberto e com muitos pivots.

Responda às seguintes perguntas e crie três versões diferentes do seu futuro! Baixe o material aqui ou use o gráfico abaixo como guia.

Responda às seguintes perguntas:

Vida #1: O que você faz

Vida #2: O que você faria se o item #1 deixasse de existir de repente

Vida #3: O que você faria ou que vida você viveria se dinheiro não fosse uma objeção

Você é o que você cria

Agora, você mapeou três versões de um futuro possível. Pergunte-se quais crenças você vai precisar abandonar para ir ao encontro dessas versões. Quais novas crenças eu preciso ter para concretizá-las? Como meus futuros vão impactar a sociedade? Este momento em que contamos os dias até o fim de 2020 é o momento perfeito para desenhar o que virá a seguir. Lembre-se, desenhamos não para controlar ou prever, mas para descobrir o que é possível.

Cada um de nós tem acesso a uma quantidade enorme de conhecimento e tecnologia. Muitos dos nossos problemas já têm uma solução possível. É hora de começar a sonhar novamente e a pensar de maneira diferente, para que possamos encontrar soluções para nossos problemas e para o mundo.

É hora de ver as possibilidades que estão à frente, não só para si mesmo, mas para a humanidade. É possível resolver problemas terríveis como pobreza, fome ou acesso limitado à educação. Podemos criar serviços que nos levem a evoluir com respeito, humanidade e empatia. Criamos os processos que concretizaram este mundo, mas também é possível recriá-los. O primeiro passo começa com você. Redesenhe seu futuro para redesenhar o mundo!

Juliana Proserpio

Juliana Proserpio é empresária e educadora. Ela é a cofundadora e chefe de design da ECHOS, laboratório de inovação e suas unidades de negócios: Echos – Escola de Design Thinking – uma escola que coloca a inovação em prática, e Echos – projetos de inovação.
Nos últimos 10 anos, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação na Austrália, Brasil e, recentemente, em Portugal para fomentar o poder do design para futuros desejáveis.
Ela tem mais de 10.000 horas trabalhando próximo aos clientes em design de facilitação, liderando uma ampla gama de projetos em setores como saúde, finanças, educação, varejo, notícias, tecnologia e bens de consumo.
Juliana fala sobre o poder do design para criar futuros desejáveis. Ela falou em eventos como o Global Innovation Summit em San Jose, Califórnia, TEDxMaua em São Paulo, Brasil, What Design Can Do e o Sydney Design Festival.