Navegando pelo Spotify em busca de uma trilha sonora para embalar a tarde de trabalho me deparei com uma curiosa: one-hit wonders (próprio Spotify tem a sua lista). “One-hit wonders” é um conceito bastante utilizado no universo do entretenimento para denominar especialmente bandas e músicos que conseguiram emplacar apenas um sucesso nas paradas musicais, mas que depois não conseguiram emplacar outro hit.

São artistas que propuseram um conceito musical na sua época capaz de chamar a atenção as pessoas por algum tempo, mas que não conseguiram por falta de habilidade dar continuidade na carreira musical.

Vejo nos negócios esse fenômeno acontecer todos os dias. Produtos e serviços se tornando virais, mas sem a capacidade de se adaptar e evoluir. Conforme narra Henry William Chesbrough em seu livro, Inovação Aberta – Como Criar e Lucrar Com a Tecnologia, a empresa Haloid Corporation, na década de 1950, tinha um excelente produto em mãos, uma máquina chamada 914, uma nova tecnologia que superava tudo que havia no mercado em termos de reprodução fotográfica. Contudo, havia uma enorme barreira de entrada, pois o investimento para adquirir a máquina era elevado.

Foi então que o presidente da companhia na época teve uma ideia que mudaria o modelo de negócio: ao invés de vender a fotocopiadora, as pessoas poderiam alugá-la. Essa sacada foi fundamental para o crescimento do negócio ao ritmo de 41% de crescimento nos 12 anos seguintes, já que uma vez instalada a fotocopiadora, o cliente só pagava o valor por fotocópia, gerando uma receita incremental fabulosa para a companhia.

Uma mudança no modelo de negócio que a tornou a Haloid Corporation em uma empresa bilionária chamada Xerox. Uma ideia de fato revolucionária que criou um novo modelo de negócio, levando a Xerox às alturas. Tanto que em 1966, a companhia chegou a faturar quase 17 bilhões de dólares.

Porém, em 2016, em um mercado já altamente digitalizado, a empresa se esforça para continuar faturando sob praticamente o mesmo modelo de negócio. Precisou se reestruturar e acabou dividindo seu negócio em dois, com a Xerox sendo responsável pelo gerenciamento e terceirização de documentos e a segunda companhia criada , a Conduent, oferecendo serviços de automatização e simplificação de negócios.

A Xerox ainda é uma empresa que consegue sobreviver colhendo os frutos da mesma música com o mesmo modelo de negócio, porém exemplos clássicos como Kodak e Nokia já não podem dizer o mesmo.

A questão é que empresas de um sucesso só em um mundo em constante mudança tem prazo de validade cada vez mais curto. Inovações isoladas perdem força se não houver constante mudança na forma como uma empresa opera e, consequentemente, no seu modelo de negócio. Um novo produto, serviço ou nicho de mercado pode, temporariamente fazer com os números da organização melhorem, porém não conseguem ir além disso. Para que organizações sejam bem sucedidas no longo prazo e sejam capazes de criar mudanças significativas elas precisam ser capazes de mudar seus modelos de negócios.

Apple, Facebook, Google, Paypal são algumas empresas que se não tivessem mudado seu modelo de negócio, com certeza não seriam grandes players do mercado hoje.

Aliás, a Apple é um grande exemplo de empresa que nos últimos 20 anos foi capaz de criar uma série de sucessos, principalmente por causa de uma mudança no modelo de negócio no final da década de 1990. A companhia que tinha conseguido atingir relativo sucesso nos anos 80, quase foi à falência na década seguinte porque não conseguia achar uma fonte de receita sustentável, vendendo de tudo, desde tocadores de CD e câmeras digitais, a aparelhos de TV.

Foi com o retorno de Steve Jobs que a empresa conseguiu adquirir uma nova direção e um foco. Jobs enxugou drasticamente o portfólio da Apple e passou a focar em desenvolver produtos que fossem centrados no usuário e em suas necessidades.

A Apple também conseguiu reinventar o mercado musical com o Itunes ao mesmo tempo que alavancou as vendas de outro produto da companhia, o Ipod. Tudo baseado em mudanças drásticas no modelo de negócio.

Os múltiplos sucessos de Jobs e a capacidade de reinvenção do modelo de negócio aconteceram porque ele estava aplicando o pensamento do design na sua própria companhia. A genialidade de Jobs foi que ele conseguiu 20 anos atrás praticar o que hoje está consolidado na disciplina de Business Design. Hoje, qualquer um, aplicando os conceitos que o Business Design propõe é capaz de criar e reinventar um negócio que seja inovador, não ficando refém da mesma música.

Se você quer saber como, gostaria de compartilhar 4 dicas:

  1. Pare de planejar e comece a se preparar

Muitas empresas ainda se prendem ao conceito de planejamento estratégico que funcionou muito bem em uma economia pós Segunda Guerra Mundial e que foi essencial para que grande conglomerados emergissem. A partir de uma visão de produção em massa, o planejamento estratégico fez muito sentido, já que oferecia ordem e controle para a empresa funcionasse como uma máquina.

Porém, vivemos em um mundo extremamente complexo e de incertezas em que o que planejamos hoje, pode não fazer o menor sentido amanhã. Ao mesmo tempo, vivemos em mundo em que as pessoas exigem das organizações personalização e conexão.

Precisamos nos tornar flexíveis. Se antes era preciso estar sempre certo, hoje o importante é estar menos errado ao longo do tempo.

Por isso, precisamos fazer menos planejamento e mais preparação. Apesar do planejamento nos oferecer o conforto de tomar decisões antecipadamente, é estando preparado, isto é, aprofundando e desenvolvendo capacidades, que iremos desenvolver a habilidade de tomar decisões no futuro e nos adaptar às mudanças em tempo real.

  1. Não pense em plano de negócio, pense modelo de negócio

Enquanto em um plano de negócio é necessário realizar projeções específicas de receita e custo, para um modelo de negócio é preciso ter uma visão mais abrangente e pensar em como o seu negócio irá criar, entregar e capturar valor.

O que significa dizer que o sucesso vem em desenvolver um modelo de negócio capaz de encontrar algo (produto, serviço) que de fato atenda a uma necessidade humana, que forneça infraestrutura necessária para entregar sua proposta e que, a partir dela, consiga ser rentável.

Porém, integrar esses elementos é o grande desafio, já que cada vez mais rápido eles vão perdendo valor ao longo do tempo. O que significa dizer que o seu modelo de negócio precisa ser sempre revisitado, ajustado e ser for necessário, reinventado.

Por isso, sempre se questione sobre como você está criando valor para o seu cliente, como você pode entregar valor de uma forma diferente e se existem outras maneiras mais eficientes de ser rentável. Será a habilidade contínua de reflexão, adaptação e de recombinação desses elementos que fará com que a sua companhia seja sempre inovadora.

  1. Um Modelo de Negócio não é nada sem um Mínimo Produto Viável

Por mais que você esteja constantemente pensando em como seu negócio pode criar, entregar e capturar valor nada disso adianta se não aliar a habilidade de execução ao pensamento estratégico. Toda proposta de valor somente fará sentido se ela for testada e validada rapidamente pelo mercado e pelas pessoas. Gastar meses construindo uma proposta de valor sem que haja interação do mercado e, principalmente, com clientes, pode ser extremamente perigoso porque o mercado está em constante mudança.

Nesse sentido, construir um Mínimo Produto Viável (ou MVP), isto é,  tangibilizar sua proposta de valor, tornando-a interativa e testável, permite com que você teste com rapidez todos os elementos e entenderá se está realmente criando um novo valor, se será capaz de entregá-lo da forma pensada e se será de fato rentável.

  1. Esteja preparado para errar

A essência para que você continue inovando no seu modelo de negócio é estar aberto ao erro.

Quando estamos em busca da música perfeita, nos fechamos a todas as possibilidades de criar algo verdadeiramente novo. Dessa forma, ser inovador é uma busca constante para encontrar a melhor forma de criar, entregar e capturar valor. Mesmo os melhores modelos podem dar errado. Porém, nunca é cedo demais para começar a testar um novo.

DICA EXTRA

Quer saber como criar constantemente modelos de negócio que sejam inovadores, lucrativos e que coloquem o seu cliente no centro do processo? Conheça ebook gratuito sobre Business Design, a abordagem que está revolucionando a forma de se criar negócios.

No ebook Business Design, você aprenderá como o design está reformulando a forma de se fazer negócio e além de ferramentas e exercícios para que você possa também acelerar o desenvolvimento do seu negócio ou construir um modelo de negócio inovador!

 

 


Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.