“As ‘melhores práticas’ atuais levam a becos sem saída; os melhores caminhos são os caminhos novos e não testados.”

Peter Thiel, co-fundador do PayPal

 

Não é novidade que a conexão entre pessoas chegou a um nível nunca antes imaginado. A velocidade em que os conceitos são quebrados e reinventados criou uma lacuna entre a forma de pensar a economia e os negócios e a realidade em que vivemos.

O que significar dizer, segundo aponta Otto Scharmer, que estamos convivendo com problemas extremamente complexos na sociedade, mas ainda tentamos resolvê-los com uma mentalidade antiga.

Assim , apesar de o futuro que emerge ser cada vez mais conectado, co-criativo, baseado em redes distribuídas e que abre espaço para inovações intersetoriais envolvendo todos os participantes do ecossistema, o mundo atual ainda é conduzido por uma visão egocêntrica.

Os efeitos negativos são inúmeros. O ano de 2008 foi emblemático nesse sentido: vivenciamos uma crise mundial por causa de uma bolha financeira iniciada nos Estados Unidos e vimos a Sadia, uma das maiores empresas brasileiras e do mundo, ir a falência por realizar especulações financeiras. No limite, o modelo econômico atual se torna especulativo.

Por isso, precisamos evoluir para um estado de consciência que esteja de acordo com a nossa realidade, com o nossa própria consciência de espécie e que, ao cabo, faça com que nossas atitudes, antes pautadas no “eu”, passem a considerar um modelo mental mais holístico e interconectado.

Hora de pensar diferente

Para passarmos dessa visão focada no “Eu”, ou no que chamamos de EGO, para um olhar que considera o todo, as pessoas, as relações e o impacto das suas ações – ou o que chamamos de ECO – é preciso que mudemos nosso modelo mental.ECO EGO

Um modelo mental, como dito, que consiga ter uma visão holística, que enxergue o sistema como um todo. Mas não apenas acreditamos ser possível adotarmos um modelo mental a partir do que chamamos de pensamento ecossistêmico.

Ecossistêmico = em rede, interligado, compartilhado

O que significa dizer que pensamento ecossistêmico nada mais é do que conseguir pensar de maneira ecossistêmica, em rede, interligando as pessoas e os recursos e de modo compartilhado.

Essa nova forma de pensar nos torna hackers do sistema vigente, no sentido de conseguimos mapear todos os atores envolvidos e as relações e poder interferir nele para que possamos romper com os paradigmas atuais e criar soluções para esse todo. Como resultado, conseguimos pensar em soluções e negócios e até novos sistemas que atendam essa nova lógica do ECO, do ecossistema, rompendo com a lógica  de geração de valor exclusivamente privada.

Nesse sentido, já vemos empresas ocupando um papel central na mudança desse paradigma, usando a força dos negócios para gerar soluções sistêmicas.

Como a mudança está acontecendo na prática?

Quando vemos, por exemplo, o UBER que deixou de ser uma empresa de transporte de luxo para ser uma empresa cujo objetivo é resolver a mobilidade urbana. Veja que os fundadores, Garrett Camp e Travis Kalanick, foram capazes de fazer esse mapeamento do sistema e entender que a necessidade mais latente na sociedade era ter uma forma de locomoção acessível e que diminuísse o fluxo de carros e consequentemente o trânsito. Aconselhamos você a dar uma olhada neste TED feito pelo Travis Kalanick em que explica sobre “o plano do Uber para colocar mais pessoas em menos carros”.

Usando essa forma de pensar, vemos que outros negócios e empreendedores também foram capazes de entender como funciona o sistema e criar soluções de alto impacto para demandas latentes na sociedade. Como exemplo podemos citar a CAUSE Educação, negócio que nasceu e ganhou forma no ENACT, nosso curso para empreendedores do futuro.

Depois de identificar a lacuna que de recursos que instituições de ensino públicas sofrem, bem como a ineficiência por parte do Estado, a Cause surgiu com o objetivo de reinventar a forma como as escolas públicas recebem esse recursos. Para tanto, a empresa escolhe projetos em escolas públicas que precisam de auxilio, arrecada o valor necessário e entrega exatamente o material necessário para realizar os objetivos da escola. Depois de recebido o material, ainda faz acompanhamento do impacto da ação.

Outro exemplo que surgiu, foi formatado e validado durante o ENACT é o Lagartas – que já falamos antes no nosso blog – que está criando novas práticas pedagógicas e ressignificar o papel do professor e o significado de aprender.

O que queremos mostrar é que o mundo está mudando, mas não é mais uma questão de apenas velocidade. Mudanças estruturais estão acontecendo, assim como a forma de pensar. Modelos mentais e de negócios compartilhados, interligados, em rede, pensado para as pessoas e não apenas no capital são exemplos de como a sociedade do século XXI está se organizando.

Por isso, vale dizer que negócios que se concentram nos resultados financeiros, desconsiderando o impacto que geram para todos os atores envolvidos, bem como não entendem a forma como as pessoas se relacionam e estão conectadas se movem na contramão desse futuro.

Convenhamos que essa mudança de paradigma não é nada fácil, especialmente para as grandes empresas que ainda utilizam pensam de modo linear. Empresas de telecomunicações são um exemplo latente na nossa sociedade disso. Por muito tempo tendo como principal fonte de receita os serviços se voz, estão sofrendo baques no faturamento em um novo mundo que quer cada vez mais estar conectado, compartilhar suas histórias com múltiplas pessoas, estar em rede, usando a internet como meio.

Por outro lado, vemos empresas como o Nubank que por entender melhor como navegar nesse novo mundo – oferecendo serviços bancários sem cara de banco, desburocratizado e em rede – estão atingindo altos índices de crescimento em pouco tempo. Sabem que muito mais do que focar em produtos ou serviços, estão focando nas pessoas que os usam e como elas usam.

A conclusão que chegamos é que se há um novo mundo surgindo, há um velho mundo morrendo. Saber como fazer a transição é um desafio. Mas se pudéssemos dar uma dica aos empreendedores, o primeiro passo seria pensar de maneira sistêmica. Ter uma visão de águia é fundamental para enxergar para onde estamos indo, como podemos criar negócios que gerem impacto positivo na sociedade e para darmos o próximo passo para um mundo radicalmente melhor e mais inovador.

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.