Depois de passar por uma experiência intensa no curso de Business Design repensando os modelos de negócios existentes e aprendendo como transformar necessidades ainda não atendidas em oportunidades de negócios, Jacinto Netto se sentiu inspirado em relatar, em seu perfil no Linkedin, o processo e as conclusões que obteve durante o curso e o que é ser empreendedor fora do eixo Rio-São Paulo. Abaixo você encontrará as reflexões de Jota, como é conhecido, sobre essa experiência. Confira!


Nos dias 21 e 22 de Janeiro, participei do curso Business Design, ministrado pelo Ricardo Ruffo, na Escola de Design Thinking – SP. Registro, de antemão, meus elogios a toda a equipe da escola; parabéns pela localização, estrutura aconchegante, metodologia contemporânea (participativa e provocativa) e a missão honrada abraçada pela equipe de contribuir para aumentar o número de inovadores no Brasil. Parabéns mesmo.

UM NOVO MINDSET: O MAPA NÃO É O TERRITÓRIO

Ao longo do curso, alguns paradigmas que carreguei nesses 5 anos em que estou ligado ao empreendedorismo e à inovação no estado do Pará foram evaporados em questão de minutos. Gostaria de compartilhar, a quem venha interessar, algumas das constatações que o curso de Business Design me proporcionou.

Vamos lá!

1. Uma startup não é uma tatuagem nova no seu braço nem obrigatoriamente o novo Facebook ou Google do mundo

Sim, como tudo no Brasil, startups, empreendedorismo e todo o universo em torno de novos negócios virou modinha.

Tão estiloso quanto ser surfista, jogador de futebol ou ter uma banda, é dizer: “eu tenho uma startup” (RUFFO, R. 2016). Rsrs

Eventos, livros, blogs, programas de TV e na web, pitchs, cursos, rodas de conversa, investidores, enfim; não podemos negar que um forte movimento em prol de uma cultura empreendedora ganhou espaço na sociedade brasileira nos últimos 5 anos, ao passo que muito disso tem sido arrefecido por um governo ineficiente e pouco atrelado às práticas notórias de incentivo à inovação, tal qual as adotadas por países bem sucedidos economicamente como Coreia do Sul, EUA, Cingapura e outros.

O fato é que a minha primeira quebra de paradigma levantada pelo curso de Business Design, a partir de conceitos já apresentados no livro de Eric Ries – Lean Startup – é que uma startup não é, necessariamente uma empresa de tecnologia, nem a versão menor de uma grande empresa. Em suma:

Startup é uma organização temporária, desenhada para encontrar um modelo repetitível e escalável de negócio.

Dessa forma, tanto amigos reunidos por uma ideia ou vontade de empreender, quanto uma empresa interessada ou pressionada a inovar, podem criar uma startup para explorar um novo mercado. A “merda” ocorre quando uma startup confude BUSCA por EXECUÇÃO de um modelo de negócio ainda não validado pelo mercado.

E aí… senta que lá vem a história…

2. Menos interação e mais iteração

Iteração é o processo chamado na programação de repetição de uma ou mais ações. Em Business Design, certamente haverá muita interação entre os membros que estão a desenhar um novo negócio; contudo, nem sempre a iteração é respeitada no processo.

Ir, aprender e voltar, aprender, ir, aprender e voltar, aprender, ir e seguir adiante. Nossa! Fiquei até tonto.

Mas é basicamente disto que se trata a iteração que me refiro. Um processo consciente e progressivo de busca e aperfeiçoamento de uma ideia ou modelo de negócio que não se cansa de rever o que está sendo feito. Um verdadeiro trabalho de exploração e consolidação do conhecimento, antes de torná-lo uma oferta real para o mercado.

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Steven Garry – Os 4 Passos para Epifania

Por isso percebi que tem havido muito interação em torno de empreendedores e novos negócios, mas, e a dita iteração?

Nem tanto. Vou repensar meu modo de empreender, a partir disso, com certeza.

3. Sim, estamos morrendo! E daí?

Bem, essa constatação foi “phoda”!

Ir para São Paulo e ouvir que mesmo neste grande centro empresarial e tão envolto ao tema e à prática da inovação, muitas empresas grandes não inovam pois é mais negócio exaurir o modelo atual foi, no mínimo, decepcionante.

Fazer o que? Welcome to Brazil!

Convenhamos: esta é uma realidade que eu já havia me deparado e muito no Pará. O paradigma, portanto, quebrado foi:

“Em São Paulo é que tem empresa boa, porque lá eles querem inovar!”

Bem, agora tá explicado porque a crise que vivemos não é circunscrita à um setor específico, mas sim devido a um mindset de nação totalmente equivocado, atrasado e anacrônico a era em que vivemos, não exclusivo do setor público, ao contrário, principalmente de um setor privado altamente viciado nos incentivos e atropelos do governo.

Na real, mesmo assim continuarei a investir em propor e provocar empresas e empresários a inovar. Não há outro jeito!

4. Não prototipar ainda vai lhe derrubar

Aqui é o momento mea culpa do relato. Afinal, um designer já bem habituado à teoria e, até certo ponto, à prática do design thinking, ter se omitido à prototipar suas ideias, tal qual o fiz no curso, é no mínimo algo pitoresco, para não dizer deprimente.

Quando me vi diante de várias oportunidades de prototipar as minhas e as ideias de outros membros do meu grupo de trabalho, me furtei e me restringir a esboçá-las em meu querido sketch book!

IDEO - Diego Powered Dissector System

IDEO – Diego Powered Dissector System

Muito obrigado ao Silvio Silva, lá de Curitiba, que não só demonstrou na prática como prototipar, como também me inspirou a apostar mais no poder do dirty prototype. Realmente, o nível de estímulo mental e visual que um protótipo sujo e mal acabado confere ao processo de design thinking não devem ser ignorados.

Não vejo a hora de poder prototipar de novo minhas ideias.

5. Mais que novos termos, vamos dominar os conceitos e aplicá-los!

Sem brincadeira: Eu acredito que teria conteúdo suficiente para escrever aqui no LinkedIn* até o final do primeiro semestre se eu fosse me meter a listar, explicar e contextualizar tantos termos, em inglês e português, que tive acesso no curso de Business Design.

Achei curioso na sessão de feedbacks ao final do curso, alguns participantes evocarem “mais conteúdo”.

Curioso, tendo em vista o fato de que nada do que é mostrado no curso é inédito ou mesmo discrepante ao que qualquer um pode encontrar em outros cursos, livros ou mesmo na internet. Ademais, que conteúdo atualmente resiste a 3 semestres de vida?

A grande sacada e proposta de valor do curso de Business Design é oportunizar um espaço democrático, interativo, iterativo e criativo para pessoas insatisfeitas com status quo de suas empresas, suas cidades e suas vidas, de maneira tal que possam aprender na prática como desenhar um novo negócio. Nada transcendental, esotérico ou autoajuda, nada disso! É criatividade aplicada a negócios mesmo!

Percebi, por meio dos dias de curso, que a pegada no Pará ainda é mais ligada ao “conteúdo”; algo mais “volume” do que “impacto” da informação; mais conhecimento do que atitude. Isto posto, recomendo sinceramente, você paraense que esteja lendo este relato, a rever suas necessidades e aspirações empreendedoras antes de ir para qualquer atividade ligada à educação empreendedora.

Por vezes, empresas locais ofertam propostas de valor deprimentes neste segmento de mercado (educação empreendedora e criatividade aplicada a negócios) justamente por se depararem com segmentos de clientes simplórios e mais ligados a quantidade do que o impacto do conteúdo de inovação trabalhado.

Mais uma vez, agradeço à equipe da Escola de Design Thinking, em especial ao Ricardo Ruffo, e espero poder contribuir nesta missão mais do que oportuna de aumentar a inovação no Brasil.

Será?

Viventes, até a próxima.

Jota Netto*



jota netto* O “Jota”, é designer e marketólogo, como manda o figurino. Já para os que preferem o cosmos como limite, ele se define meramente como um livre pensador e vivente contumaz. Atua com inovação e empreendedorismo em projetos do setor comercial, público e não governamental. Acredita que inovação é coisa pra gente intrépida, 8 ou 80. Atualmente é sócio-diretor da agência Libra Design (PA) e escreve semanalmente sobre coisas de que gosta e acredita em seu LinkedIn. Para conhecer sobre o que o Jota faz, acesse http://bit.ly/1RNxKNJ.
Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.