Ije Nwokorie, CEO da WOlff Olins, em seu texto publicado e adaptado pela FastCo Design, prevê um futuro em que a tecnologia deixará de tornar tudo mais rápido, barato e simples e passe a cultivar os relacionamentos que nos tornam humanos.
Algo muito importante aconteceu em 2007. Minha filha ganhou um irmãozinho.
Ah e outra coisa aconteceu… o iPhone.
Um ano depois, a irmã mais velha, em um ato de generosidade que ela em poucas vezes havia demonstrado, ofereceu ao seu irmão mais novo seu telefone de brinquedo favorito, de botões luminosos e protuberantes que piscavam “Me pressione!”.
Ele, por sua vez, olhou para o brinquedo, levantou de forma apressada e foi direto ao encontro do iPhone de sua mãe. Nesse momento, nos demos conta que esse garotinho apenas queria brincar com coisas que interagissem diretamente com ele; mecanismos como botões e brinquedos de pelúcia representavam um forma ineficiente do mundo fazer as coisas que ele gostaria que fizessem.
Para desenvolvedores de negócios, designers, indivíduos da área de tecnologia e fazedores de todos os tipos, os últimos 10 anos representou um incrível insumo para a criatividade. Não apenas para interfaces e expressões criativas, mas para que organizações e produtos questionassem a própria razão de existirem, bem como a forma como enxergam os consumidores. Tudo passou a ser repensado.
Porém, nós falhamos.
Sim, falar ao telefone ficou mais barato. Agendar uma viagem ficou mais rápido. O acesso a informação cada vez mais nas pontas dos dedos. Adquirimos uma incrível habilidade em fazer as coisas mais rápidas, simples, baratas e familiares.
A otimizar tudo.
A otimização valoriza o racional sobre o intuitivo, o funcional sobre o espiritual, o indivíduo sobre o compartilhado. É uma ferramenta importante. Contudo, quando colocamos a otimização (ou seus derivados como simplicidade e pragmatismo) como nosso objetivo primário, nos tornamos menos propensos a fazer coisas que acessam nossa natureza humana.
Talvez seja consequência do fato de haver muitas empresas sem direcionamento moral, muitos partidários acusando outros partidários de serem partidários, muitos líderes se baseando em exclusão e divisão, ao invés de valorizar a inclusão e o bom senso.
Não podemos deixar isso acontecer em nossas casas.
Nossas casas, considerado o lugar mais seguro, estão cada vez mais sendo invadidas por serviços sob demanda, alguns deles que integrados ao ambiente e preditivos. Nosso espaço sereno, sagrado e íntimo, agora possui ouvidos, olhos e pessoas podendo acessá-lo que estão a quilômetros de distância.
Por um pouco mais de conveniência – isto é, o fato de termos tudo o que quisermos, quase que instantaneamente – não apenas estamos trocando nossa intimidade, mas também estamos abrindo mão de coisas que famílias e colegas de apartamento fazem juntos: fazer as compras semanais de mercado, visitar uma biblioteca, praticar exercício.
A promessa mais em voga sobre conectividade é trazer coisas, pessoas e conhecimento para que possamos gerenciar nossa casa de maneira fluida, para que não possamos pensar muito sobre isso. Na superfície, parece ser uma promessa excitante, porém será que o resultado disso não nos tornará menos humanos?
As novas forças da inteligência artificial, máquinas que aprendem sozinhas e tecnologia de ambientes nos apresenta excelentes oportunidades não apenas para projetar novas realidades, como também para torná-las melhores: surpreendentes, humanas, otimistas e reflexivas.
Nos apresentam um novo contexto.
Trata-se de um convite que deveríamos a aceitar desde já. Não otimizar as tecnologias para suas aplicações óbvias para que tornem nossa vida mais rápida, simples e barata. Não para remover nossas tarefas diárias que nos ajudaram a formar famílias e vizinhanças. Ao invés, deveríamos aplicar nossas habilidades colocando as pessoas no centro do processo. Para navegar pelas coisas que nos definem como humanos: fazendo coisas que são mais bonitas do que normalmente seriam, abraçando a felicidade e a tristeza, risadas e lágrimas, o que é popular e o que é marginal.
Eis como podemos fazer isso:
- Casas conectadas não deveriam servir para vender mais coisas às pessoas, mas para ajudar as famílias a prosperarem.
- RV (Realidade Virtual) e RA (Realidade Aumentada) não é sobre substituir ou aumentar as experiências físicas, mas sobre criar novos tipos de espaços tornando nossas casas mais seguras, íntimas e privadas.
- Automatização e aprendizado por máquina não deveria ser sobre encontrar formas mais baratas e eficientes de executar tarefas, mas sobre criar novas formas de resolver os gargalos que estão se tornando mais frequentes em nossas casas: a distância entre os mais velhos e os mais novos, os viciados em tecnologias e os que têm pavor delas.
Talvez ao invés de casas conectadas, deveríamos começar a pensar em Casas Conscientes. Lugares que ajudam a nutrir relações desgastadas em tempos cada vez mais desgastantes; que nos dêem o poder para definir o que é certo para nós e nossas famílias, criando espaços privados para relaxar ou colocar o papo em dia; que ofereçam nítido suporte para conexões hiper-locais de modo que possamos ajudar uns aos outros de forma afirmativa a viver por causa da e não a despeito da tecnologia.
Essa visão me motiva muito mais a ingressar em uma nova fase da tecnologia nos lares: algo que nos torne mais e não menos humano.