Viver em tempos de grandes mudanças traz oportunidade de reflexões profundas. Para a maioria de nós, os últimos 12 meses foram um período de mudanças contínuas e as perguntas sobre as quais temos refletido são profundas.

Muitos estão pensando: será que nossos resultados são importantes ou até mesmo relevantes neste novo mundo? Será que nossos empregos têm significado? Será que vivemos de uma maneira sustentável ou estamos apenas criando mais e mais problemas?

Essas são perguntas difíceis de responder. No entanto, como sociedade, começamos a entender que nossas vidas “normais” não eram sustentáveis. Elas estavam esgotando nossos recursos mentais, físicos e ambientais. Isso nos leva a outra pergunta: quem é responsável por esse estado de esgotamento? Para a maioria de nós, a resposta é uma mistura de nossas escolhas pessoais e daquelas que foram feitas para nós. E isso é algo preocupante de se pensar. Em algumas áreas de nossa vida, estamos vivendo como espectadores que assistem a seu próprio futuro ser criado por outras pessoas. E, infelizmente, muitas vezes essas pessoas não têm nosso bem-estar como prioridade.

Existe um ditado: “A vida não é um esporte para telespectadores” . Em outras palavras, na vida é necessário ter ação, e não somente discurso. Isso nunca foi tão verdadeiro, pois estamos passando por um período de rápida transição. Ser espectador é problemático, pois pode levar a um futuro distópico baseado em desejos que não são nossos.

É importante começar a imaginar uma visão desejável do futuro e, em seguida, começar a caminhar ativamente em direção a ela. Sair de uma posição passiva para uma posição ativa é o que faz surgir novas possibilidades, criando razões para sonhar com um mundo melhor e para começar a fazer escolhas diferentes. O primeiro passo para criar um novo futuro é começar a construir novos cenários com base no que o mundo deveria ser.

Sinais fortes vs. sinais fracos

Um dos primeiros passos para construir um novo cenário futuro é descobrir tendências sociais e ambientais que influenciam ou vão influenciar nossos futuros. Essas tendências são chamadas de sinais. Os futuristas usam sinais para analisar como as tendências vão crescer e influenciar a sociedade ao longo do tempo. Existem dois tipos de sinais: fortes e fracos.

Um sinal forte é um grupo de tendências que são fáceis de identificar. Um exemplo de sinal forte é o envelhecimento da população ou a transição para economias baseadas em conhecimento. A maioria das organizações e indivíduos não têm problemas em identificar e desenvolver essas tendências. Somos capazes de ponderar sobre as consequências delas e de nos preparar para elas à medida que nos aproximamos do futuro.

Um sinal fraco, por outro lado, não é tão fácil de identificar. É um pequeno indicador de algo que pode se tornar uma mudança maior. Eles diferem de sinais fortes porque não é tão fácil imaginar as consequências de seu desenvolvimento. Sinais fracos são usados para identificar tendências que um dia podem influenciar o futuro de uma maneira profunda. Para descobrir sinais fracos, é preciso observar as “margens” dos principais movimentos e sociedades. É ali onde coisas não ordinárias emergem. No futuro, elas podem se transformar em sinais fortes que podem ter consequências positivas ou negativas.

Um exemplo de sinal fraco é um novo canal de mídia social que está crescendo em popularidade, uma nova maneira de ensinar em uma instituição acadêmica ou uma startup que encontrou uma nova solução para um problema antigo. Ou podem até ser usuários apaixonados por certos produtos e serviços que criam uma cultura própria.

Prestar atenção a essas microtendências é importante, porque algumas delas podem se tornar grandes no futuro. E como seu impacto ainda é pequeno, é possível criar diferentes futuros alternativos com base em seus possíveis impactos. Quanto mais versões de futuros são criadas, mais fácil é encontrar a versão mais desejável de futuro. Ser capaz de imaginar diferentes possibilidades requer criatividade. A melhor versão do futuro pode ser uma que foi difícil de imaginar.

Descobrindo sinais fracos

Prestar atenção a sinais fracos é uma das partes mais importantes quando se trata de especular sobre o futuro. E embora eles sejam essenciais, é importante não estreitar o foco. Isso pode fragmentar nosso pensamento.

Ao tentar descobrir sinais fracos, é importante manter a mente aberta. Tente olhar para onde poucas pessoas estão olhando. Observe espaços que são relativamente desconhecidos. Basicamente, trata-se de ir além dos limites e de mergulhar mais profundamente em fatos não óbvios.

A futurista Amy Webb identificou 11 fontes de disrupção ou de macro-mudanças que as organizações devem observar ao especularem sobre o futuro. Webb desenvolveu um processo chamado de Teoria das Forças Futuras. Ela criou uma estrutura que se baseia nos sinais fracos como fontes de ruptura.

Webb explica que “as organizações devem prestar atenção a todas as 11, uma vez que elas rastreiam tendências. Os líderes devem ligar os pontos no contexto de suas indústrias e empresas e colocar equipes para agir”.

Fonte: https://amywebb.io/futures-tools

Depois de coletar informações e sinais relacionados a elas, use o poder da especulação para fazer conexões com algumas das fontes para começar a desenvolver diferentes cenários. É o pontapé inicial para especular sobre o futuro. Para começar esse exercício, baixe a ferramenta de Webb.

Construindo uma visão do futuro para as organizações

É importante entender que uma visão do futuro, mesmo que seja desejável para uma organização, é apenas uma de muitas possibilidades. Permita que a visão e o caminho a seguir evoluam ao longo do tempo. Uma boa maneira de pensar em uma visão de futuro desejável é como se ela fosse a luz de um farol distante. Não é clara o suficiente para que você veja os detalhes, mas mostra uma direção para a qual você pode rumar. Uma vez que o caminho esteja estabelecido, é possível criar experimentos com os quais se pode aprender rapidamente. Isso ajuda você a se manter na direção certa e a desviar quando necessário. Construir um futuro desejável é como liderar um projeto de inovação. A inovação não ocorre em linha reta; ela evolui por meio de ciclos de experimentação e aprendizagem. É necessário ter uma mentalidade aberta para avaliar o que surge de cada etapa da jornada.

A Echos foi contratada por uma agência governamental australiana que gerencia saúde, segurança e lesões em locais de trabalho. Eles reconheciam a importância de criar uma visão de futuro para 2049, estavam conscientes dos sinais fracos que poderiam criar um caminho para um futuro indesejável e precisavam agir rapidamente para criar uma visão do que era possível e trabalhar para chegar a esse novo futuro.

A Echos ajudou a definir um novo futuro que fez com que eles passassem de uma organização voltada para a recuperação de lesões em local de trabalho a uma organização que previne a ocorrência dessas lesões e promove o bem-estar. O novo cenário pensado para 2049 criou uma visão em que as lesões no trabalho serão reduzidas pela disseminação da Inteligência Artificial (IA) e pelas tecnologias de automação, com máquinas realizando tarefas fisicamente e mentalmente inseguras. Além disso, as doenças serão reduzidas devido ao desenvolvimento de tecnologias de saúde e trabalho. Plataformas de saúde digitais como as da Google e da Amazon poderão definir um parâmetro mais alto para o bem-estar. No futuro desejável que essa empresa traçou para 2049, haverá uma mudança, deixando de focar na recuperação para focar no bem-estar, pois as novas tecnologias resolverão os principais problemas que enfrentamos hoje.

Essa visão está agora moldando as decisões tomadas em todos os níveis da organização. As inovações e mudanças nos processos continuarão a orientá-los em direção ao cenário criado para 2049.

Em outro projeto, fizemos parceria com o governo brasileiro para redesenhar o modelo de remuneração do sistema de saúde. Lidar com várias partes interessadas com diferentes agendas em uma escala tão grande nos ensinou que definir um propósito compartilhado pelas diferentes partes interessadas é fundamental para alcançar um futuro desejável. Isso trouxe a visão do futuro para a realidade, pois cada pessoa pôde entender como esse novo futuro beneficiará sua vida.

O que o futuro reserva

Não existem certezas sobre o futuro, apenas especulação. A importância de planejar e criar possibilidades nunca foi tão importante. À medida que nos esforçamos para redesenhar os sistemas e descobrir melhores maneiras de viver no novo normal, precisaremos criar uma visão de onde queremos estar.

Prestar atenção aos sinais fracos é apenas parte do processo de criar futuros desejáveis. Para saber mais sobre modificar o mundo futuro, explore nossa Desirable Futures Experience.

Mario Rosa

Designer de Futuros Desejáveis. Mario é Sócio e Responsável pela Echos Portugal, Brand Strategist e Design Thinker. Foi responsável pelo Echos Brasil por quatro anos antes de assumir a expansão europa. É diretor da Abedesign (Associação Brasileira das Empresas de Design). Acredita que estamos vivendo um novo paradigma de visão de mundo e que o design concentra as habilidades necessárias para desenhar novos cenários e construir um futuro mais equilibrado.
Atuou como brand strategist por mais de 9 anos e desenvolveu grandes e premiados projetos de branding como a marca dos jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 com o time Tátil e a marca do principal movimento cooperativista brasileiro, a SomosCoop, com o time Bertoni. Liderou e facilitou cursos e jornadas de inovação para líderes de grandes empresas com a Echos Escola Design Thinking. Desenvolveu conteúdos e experiências de aprendizagem com os temas confiança criativa, inovação, design, mindset da inovação e liderança dinâmica.
Acredita que estamos vivendo um novo paradigma de visão de mundo e que o design concentra as habilidades necessárias para desenhar novos cenários e construir futuros desejáveis. Acredita também que a criatividade é parte essencial da natureza humana e que, em um mundo de explosões de novas tecnologias, o desenvolvimento da criatividade faz parte de uma jornada de nos tornarmos mais humanos.