Atualmente, designers estão resolvendo problemas na interseção entre duas disciplinas: dados e design. Há 20 anos, quando comecei minha vida profissional como designer gráfico atuando em agências de publicidade e estúdios de design, a atuação do designer era estritamente operacional. Foi acompanhando discussões emergentes em eventos de inovação que minha compreensão do que é design mudou.

À medida que a influência do bom design crescia na minha vida, também crescia minha visão do que eu poderia alcançar, e iniciei um mestrado em design estratégico. Então, comecei a trabalhar em campos de pesquisa e ensino de base científica no ensino superior. Esse background de pesquisa e design baseado em evidências me levou ao desenvolvimento de culturas de design dentro das empresas e à criação de produtos digitais. Esse caminho me levou à Echos, onde agora atuo como Design Director.

Paralelamente à minha jornada pessoal com o design, a comunidade da área tem trabalhado para criar significado a partir de um dos recursos ao qual temos cada vez mais acesso: os dados. A minha formação ao longo dos anos acabou orientando meu foco de atuação atual, justamente na interseção da ciência de dados e do design thinking.

O aumento da capacidade de reunir dados na economia digital pode ser usado para criar melhores produtos e serviços altamente disruptivos. Agora, é possível usar insights mais aprofundados sobre os clientes e os problemas que eles enfrentam para criar soluções a partir da base quantitativa que os dados fornecem.

O design como criador de sentido

O design é uma abordagem do saber humano que busca dar sentido às coisas. O ato de criar sentido e “dar significado” é muitas vezes realizado em nível individual e inconsciente. No entanto, para obter o máximo de valor com estratégias de design, ela deve levar em conta as características de uma população ou segmento de clientes de uma forma consciente. Existe uma teoria de que o design é uma “arte liberal”. Isso significa que ele pode ser absorvido e executado por qualquer pessoa em diferentes níveis. Em outras palavras, qualquer pessoa pode aprender os princípios de design thinking e participar na criação de sentido de um projeto.

O Design thinking é uma ferramenta e uma mentalidade que pode ser aprendida por qualquer pessoa. E agora, é importante que as empresas comecem a pensar em dados da mesma maneira. Assim como o design thinking auxilia na criação de sentido, o data thinking precisa ser abordado com uma mentalidade semelhante.

Na Echos, acreditamos que todos são designers, uma crença que eu também compartilho fortemente e uma das principais razões pelas quais decidi participar da equipe. À medida que trabalhamos para desenvolver uma rede de designers no mundo todo, também estamos abraçando a importância da alfabetização em dados por meio da visão data thinking.

Esse conceito é fundamental para pensar em como o design e os dados podem trabalhar juntos para resolver problemas complexos. Os dados devem ser explorados não apenas por cientistas de dados, mas também por pessoas de diferentes áreas. O uso de metodologias de design thinking oferece uma nova maneira de ver e enfrentar problemas que podem ser resolvidos por meio da criação de ideias mais aprofundadas e que, de outra forma, poderiam não ser geradas.

O que é ‘Data Thinking’

Peter Drucker tem uma frase célebre; “Se não é possível mensurar uma coisa, não é possível melhorá-la”. Essa frase foi absorvida por empresas que aplicam ativamente o pensamento estratégico para seu crescimento. O design thinking também é afetado positivamente por essa mentalidade. Todas as decisões baseadas em design devem ser não apenas estratégicas, mas os resultados visados precisam ser orientados por informações mensuráveis, como os dados. Usar o design baseado em dados nos permite tomar decisões ágeis com base em informações prévias. O design baseado em dados também pode criar espaço para que novos conhecimentos surjam ao longo do processo. A grande questão é combinar o processo de design e os dados para confirmar ou rejeitar o pensamento de uma equipe ao desenvolver uma solução.

Nigel Cross, professor de Estudos de Design da The Open University UK, argumenta que é papel do designer encontrar o equilíbrio e a intersecção entre o significado dos dados e o espaço para a resolução de problemas criativos. Essa intersecção cria uma visão de geração de sentido para orientar o desenvolvimento da solução.

Dados + Design = Ideias aprofundadas

Os benefícios de ter uma formação baseada em pesquisa cria a compreensão de como o qualitativo (dados) e o quantitativo (design) trabalham juntos para desenvolver ideias aprofundadas sobre as necessidades dos clientes. Muitas vezes, eu uso a seguinte definição: usamos métodos qualitativos para descobrir o contexto do problema e o que está causando-o; e métodos quantitativos para ter uma compreensão mais profunda a respeito do problema que estamos observando. Para simplificar, o quantitativo é “como” o problema é criado e o qualitativo é “por que” o problema está afetando clientes ou usuários.

Muitas vezes, as empresas buscam generalizar suas soluções de design. No entanto, a maior contribuição do design thinking é descobrir os “porquês”, e não “como”. Assim, embora seja importante usar dados para descobrir onde ou como um problema está acontecendo, são os processos empáticos mais aprofundados de metodologias de design thinking os maiores aliados em projetos de inovação.

A alfabetização em dados e o design

A alfabetização em dados é parte integrante da criação de empresas que podem usar essas informações de forma tática. Para criar essa possibilidade em sua empresa, o primeiro passo é identificar uma equipe de líderes apaixonados por trabalhar com dados. A partir daí, a gestão deve trabalhar em alinhamento com esses líderes e usar dados para basear sua tomada de decisão em nível estratégico, tático ou operacional.

Para que os dados sejam usados em soluções de design e outras áreas de negócios essenciais, os conhecimentos obtidos a partir de dados devem ser acessíveis a toda a empresa. A chave para fazer isso acontecer é uma boa comunicação. A gestão e a liderança devem compartilhar a importância de ações baseadas em dados para “estourar bolhas” e criar condições para o compartilhamento dentro da empresa.

É importante entender que não existe nenhuma fórmula ou abordagem universal para uma empresa se tornar data-driven. O caminho para o sucesso está em um dos princípios de design mais importantes: testes e aprendizagem. Design é iteração. À medida que uma empresa busca soluções baseadas em dados e alfabetização em dados, deve estar aberta à experimentação, ao agile thinking e a oportunidades para aprender com falhas.

Quais são os próximos passos?

Se você quer aproveitar o poder dos dados no design, agora é a melhor hora para começar. A revolução digital chegou. A única pergunta é como aproveitar essa nova era. Não importa onde você está no processo de se tornar data e design centric, a hora perfeita para começar é quando você der o primeiro passo. Chegou a hora de começar a debater e explorar o que é possível.

Igor Casenote

Igor é Ph.D. em Design, com uma pesquisa profunda sobre treinamento e desenvolvimento de habilidades de inovação orientadas para o design. Graduou-se em Design Visual com ênfase em Marketing e possui Mestrado em Design Estratégico. Sua experiência profissional converge design de produto digital, design gráfico, design de serviços, ilustração e comunicação para clientes como Coca-Cola, Gerdau, TIM, Randon, John Deere, entre outros. Com uma década como professor de ensino médio, Igor é um entusiasta do futuro do desenvolvimento profissional, mergulhando mais fundo neste assunto por meio de um projeto paralelo chamado Innducate. Hoje ele responde como Diretor de Design do Echos Innovation Lab, liderando a inovação voltada para o design com clientes como Google, Natura, Globo, Ajinomoto e Whirlpool.