Um Design Sprint é um formato de projeto que ajuda empresas a validar e solucionar desafios através da prototipagem e teste de ideias com consumidores. De forma extremamente acelerada, os times geram dados que os ajudam a entender se as soluções são desejáveis e se resolvem algum problema de alguém. 

A vocação original dos Design Sprints desenvolvidos no Google Ventures era ajudar startups a criar produtos e serviços (especialmente digitais), mas aqui na Echos já executamos projetos com diversos tipos de desafios e para as mais variadas indústrias: criação de produtos digitais para o mercado financeiro, experimentações em produtos e serviços para adesivos e selantes, serviços de entrega de cartões de benefícios, produtos para o setor alimentício, estratégia para equipamentos médicos, entre outros.

Um Design Sprint bem executado gera dados que essencialmente só existiriam após o lançamento de uma solução ou ideia no mercado. A proposta é simples: em vez de passar meses (ou anos) construindo todos os detalhes de um produto, por exemplo, aceleramos a construção de um protótipo de fidelidade razoável para que possíveis consumidores nos deem feedback sobre a solução. Costumo brincar que o processo permite que os times deem uma valiosa espiadinha num futuro no qual a solução já existe.

A execução de um Design Sprint, por outro lado, é complexa. Por suas características centrais (velocidade e uma grande dose de ousadia para construir um protótipo e coletar dados em tão pouco tempo), o projeto exige bastante do time e do facilitador, especialmente quando estamos rodando o processo em empresas de maior porte. Quando mal conduzido, pode gerar inúmeros efeitos colaterais, como dados e confirmações enviesados, resultados e feedbacks de testes rasos ou frustração do time quando as ideias e protótipos não são bem aceitos pelos usuários. Neste mês estamos compartilhando algumas lições importantes que vivemos em nossos projetos sobre como evitar algumas falhas e armadilhas ao conduzir um Design Sprint.

O Design Sprint foi concebido como um processo presencial e imersivo de 5 dias. Mas como bem sabemos, a pandemia acelerou as versões online de tudo no mundo, e isso não foi diferente com Design Sprints. Nosso Digital Design Sprint é rodado em intervalos mais curtos, que otimizam o tempo dos clientes, alavancam as especialidades no projeto e combatem ‘fadiga do Zoom’. O novo formato tem ajudado organizações a alavancar a inovação nesse momento de mudança e transformação com uma dedicação de apenas 25% do tempo de seus times.

As falhas que nos levam ao sucesso

Quando os times entram em Design Sprints, via de regra estão tentando aprender sobre seus usuários, sobre seus problemas e sobre o que é desejável para eles, pois assim podem acelerar tomadas de decisão que coloque seus produtos e serviços no caminho da inovação. E todos sabemos que este é um caminho cheio de desafios que questionam o status quo, pois há uma linha bem tênue entre grandes acertos e grandes fiascos. 

Essa espiadinha que damos no futuro a partir dos protótipos nos dá a chance de fugir dos campos hipotéticos (você usaria determinado produto? recomendaria? compartilharia no seu instagram?) e tangibilizar os cenários para que os usuários interajam com algo concreto e, assim, emitam uma opinião sólida sobre esta interação.

Alberto Savoia, ex-diretor de engenharia no Google, diz que existem dois conjuntos de dados diferentes. O primeiro é formado por dados de pesquisa, gerados por outros times: Dados de Outras Pessoas. O segundo é formado por seus próprios dados, ou YODA (your own data). O valor de YODA é saber o contexto no qual os dados foram gerados e, fundamentalmente, as etapas exatas por trás dos experimentos. A construção do protótipo e a interação com os usuários gera dados que ninguém mais poderia gerar: as reações às hipóteses e suposições dos times, nos contextos e segmentações que o time entende serem importantes, num momento de tempo específico, enfim, YODA.

Ao fim de um bom Design Sprint o time terá feedback direto de seus clientes que os ajudarão, essencialmente, a tomar decisões sobre os próximos passos. Isso pode significar estar mais próximo de construir um produto desejável, ou estar mais longe de construir um produto que ninguém quer ou que não soluciona um problema de alguém. Nesta linha tênue entre o acerto e o erro, rejeitar o produto de um Design Sprint (ou parte dele) pode ser o grande sucesso do time.

Sim, falhas são esperadas em um Design Sprint (e em qualquer processo de criação de produto ou inovação). Uma solução fracassada pode significar uma economia de tempo e dinheiro no futuro. Se uma solução proposta não soluciona realmente um problema, ou se há algo nela que não funciona bem e o time descobrir isso antes de investir na ideia, então o Design Sprint foi um sucesso. 

As falhas que não nos levam ao sucesso

Como disse anteriormente: conduzir um projeto tão acelerado e desafiador como um Design Sprint exige bastante do time e do facilitador. E para termos resultados confiáveis no final da semana, temos de garantir a boa condução metodológica do projeto.

É importante observar falhas metodológicas que impedem times de coletar bons dados. Elas podem vir de diferentes lugares em um Design Sprint. Baseado em minha experiência, essas são algumas falhas comuns (mas que devemos evitar) em um Design Sprint:

  • Definição do problema: Se o desafio não for a busca por compreender se uma solução é desejável pelos usuários e clientes, este provavelmente não é o melhor formato de projeto para o contexto. Um Design Sprint acelera o entendimento do público e gera dados que ajudam os times a entender se a solução resolve um problema dos consumidores.
  • Alinhamento e clareza: Especialmente em empresas grandes e compartimentadas, lidamos com participantes que tem diferentes pontos de vista sobre o problema em questão. O Design Sprint é projetado para alavancar a inteligência e conhecimento de todos os participantes do projeto, mas para isso, o time deve ser capaz de tomar decisões e evoluir. Ao continuar discutindo a natureza do desafio, o time irá divergir e o Design Sprint se transformará em uma semana de debates sobre o problema em si. É função do facilitador manter todos na mesma página e encontrar um espaço de clareza quando houver desentendimentos. 
  • O time: Times de Design Sprints precisam ter as habilidades certas e autonomia para tomar decisões. Por exemplo, se um tomador de decisão da gestão deve aprovar o projeto, então ele deve fazer parte do time. Não há tempo durante um Design Sprint para passar por um processo de aprovação tradicional. O time todo precisa estar confiante que eles são as melhores pessoas para trabalhar o problema e tomar decisões sozinhos. O tamanho do time também é importante, um Design Sprint não deve ter mais de sete pessoas. Um grupo com mais do que sete deve ser dividido em grupos menores. 
  • Processo e metodologia: Um Design Sprint é um formato de projeto acelerado e desafiador. O time deve tomar decisões rápidas diariamente e há pouco espaço para mudanças ou hesitações. É importante ter um facilitador habilidoso que não só entende a metodologia, mas que também pode afastar a equipe de decisões que possam comprometer o projeto.
  • Viés de confirmação: O Design Sprint é um processo que permite aprender e conduzir experimentos em uma possível solução. O objetivo não é confirmar que somos geniais e que estamos certos, mas experimentar e aprender algo que não sabíamos antes. Quando os experimentos confirmam tudo que criamos, provavelmente deixamos algo passar. 
  • Ideias óbvias: Para a maioria dos times ter ideias é algo fácil e as pessoas normalmente ficam animadas para compartilhá-las. A parte difícil é ir além das ideias óbvias que estão na superfície para aprofundar em detalhes do problema. Neste momento as pessoas começam a perder a energia e muitos desistem.  O bom design mora nos detalhes, não em ideias abrangentemente geniais. Para criar soluções inovadoras é importante lembrar que quando as coisas começarem a ficar difíceis, não devemos desistir. 

Quando um Design Sprint cai nessas armadilhas e apresenta falhas metodológicas, questionamos seus resultados (tanto positivos quanto negativos) e os times tendem a ficar frustrados. De muito pouco adianta celebrar a validação enviesada de uma ideia, pois estamos enganando a nós mesmos e o mercado não perdoa.

Começando

Para aqueles que tentaram conduzir Design Sprints e não tiveram resultados bons, é fundamental entender o que deu errado. Ficamos sempre felizes ao compartilhar nosso conhecimento. Entre em contato para agendar uma conversa. Ou se você tem um problema e precisa encontrar uma solução desejável pelos usuários, entre em contato para ver se o Design Sprint funciona para você.

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É empreendedora e educadora. Ela é cofundadora da ECHOS e suas unidades de negócios: Design Echos e Escola Design Thinking.

Ao longo dos últimos anos, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação no Brasil. Atua como líder em projetos de inovação nas áreas de saúde, construção, internet das coisas e outros. Como educadora, dissemina o conceito de inovação para o bem.

Em 2014 palestrou no Global Innovation Summit, em San José, Califórnia e, em 2015 foi jurada do primeiro prêmio William Drentel de design para impacto social e foi convidada a palestrar no TEDx Mauá.