Laura Dusi é uma designer transdisciplinar e grande entusiasta do impacto da consultoria integrada e capacitação. Aqui na Echos, Laura dá aulas de  Design de Futuros Desejáveis e Design Thinking para não-designers e consultoria para projetos de inovação que visam a igualdade e diversidade de gênero através do design. Ela já participou de projetos para organizações como IDEO, Institute for the Future (IFTF), Instituto Tellus, Knight Foundation, ORGE Innovation, SEBRAE e ONU.

Laura possui um Mestrado em Design Transdisciplinar na Parsons– School of Design at The New School e graduação em Design Industrial pela UnB – Universidade de Brasília.

Nesta entrevista falamos sobre Design Thinking, design especulativo, design de futuros e liberdade do feminino.

RG – Oi Laura. Poderia começar nos contando quem é Laura Dusi?

LD – Oi, Rani, eu sou de Brasília, também conhecida como a “cidade do futuro” no Brasil de 1950, e tenho morado em São Paulo desde 2012. Eu acho que crescer em Brasília me tornou muito interessada em espaços urbanos e em como designers e arquitetos podem impactar o dia a dia. Foi por isso que me tornei designer. Atualmente estou mais interessada em questões de gênero, dança, hiking e desenho. Eu acabei de lançar uma conta no instagram com minhas ilustrações. Na Echos, eu trabalho exclusivamente com experiências de aprendizagem.

RG – Você possui um Mestrado em Design Transdisciplinar pela The New School Parsons em Nova York. O que é um designer transdisciplinar e como essa habilidade se aplica ao seu dia-a-dia?

LD – Ótima pergunta. Um designer transdisciplinar é alguém que é orientado ao sistema e que aborda questões sociais urgentes em sua prática. Através do design, podemos resolver problemas complexos; idealmente, usando equipes multidisciplinares para evitar o “pensamento silo”. No meu dia a dia, as habilidades e atitudes que desenvolvi durante o programa de mestrado me ajudaram a pensar em projetos e locais para intervenção em diferentes âmbitos dos sistemas em que estão inseridos. Também me ensinou a me sentir à vontade ao enfrentar a incerteza, o que é ótimo, pois a incerteza sempre faz parte de tópicos complexos. Mais importante, eu aprendi a trabalhar fora da minha zona de conforto.

RG – Você é uma designer estratégica e a líder de design de muitos dos projetos da Echos. Conte-me sobre um projeto que marcou seu caminho no design.

LD – Um projeto que foi importante para mim na minha carreira foi o primeiro projeto que fiz na Echos. Era para uma cooperativa médica no Brasil chamada Unimed. A Echos foi contratada para ajudá-los a moldar o futuro da empresa; foi um projeto que abriu espaço para eu aplicar meus conhecimentos e habilidades recentemente adquiridos no mestrado e ir além do serviço como prática.

Historicamente, no Brasil, sempre foi difícil encontrar um espaço dentro das empresas para explorar outras formas de projetar, especialmente quando se trata de uma consultoria como a nossa. Fui convidada a integrar a equipe do projeto Unimed – liderado por Francisca Limberger – porque tinha alguma experiência em design de futuros especulativos.

A consultoria durou seis meses e o projeto foi altamente complexo. Esse projeto foi significativo para mim e para a Echos porque foi a primeira vez que falamos oficialmente sobre a necessidade de projetar futuros inclusivos e diversos. Foi por causa dessa experiência que desenvolvemos nossa metodologia chamada “design de futuros desejáveis”.

RG – Você poderia explicar exatamente o que são “futuros especulativos” e como esse conceito está sendo usado na Echos?

LD – Começarei explicando o que é a “mentalidade linear do futuro” primeiro. Estamos acostumados a pensar no tempo de maneira linear. Nós nascemos; eventualmente, vamos à escola, depois ao trabalho, depois nos casamos e assim por diante. Esse processo é parte de uma impressão coletiva de que o tempo é linear; e a forma mais alta de escolha que temos nessa mentalidade é dizer sim ou não às coisas: ir à faculdade, ou não ir à faculdade, ter filhos ou não ter filhos. E embora essa mentalidade nos ajude a navegar pela vida e informe todas as probabilísticas do futuro – a pesquisa de tendências geralmente segue essa mentalidade – não abre espaço para o inesperado. Os “cisnes negros” ou curingas, como chamamos.

A verdade é que essa mentalidade nos mantém reativos ao que está acontecendo agora, no presente. Mas nossas vidas, como espécie, são criadas por esses curingas. Por exemplo, o 11 de setembro é o “curinga” mais óbvio deste século, pense em como mudou a diplomacia internacional, a segurança etc. Aqui é onde entra a mentalidade especulativa. Ela nos permite especular, criar alternativas para o futuro que não são reativos para hoje. Criamos o pensamento “E se isso acontecer?” E, a partir daí, projetamos narrativas melhores que podem nos guiar para soluções mais desejáveis ​​para hoje.

RG – Juntamente com Francisca Limberger e a fundadora da Echos, Juliana Proserpio, você foi responsável pelo conceito e pela criação do curso da Echos, Design de Futures Desejável. Este curso foi uma progressão natural da abordagem dos “futuros especulativos”?

LD – Especular futuros é um processo que acontece sem julgamento; não importa se a especulação é boa ou ruim. Nossa intenção de trabalhar com os cenários “desejáveis” sempre foi clara; nós queríamos ir além; como Milton Glaser coloca: “O design está movendo uma condição existente para uma condição preferida”. Queríamos que as pessoas co-criassem realidades que estarão dispostas a trabalhar para alcançar. Esse é o nosso desafio criativo no curso Design de Futuros Desejáveis; mirar cenários utópicos. Esse aspecto da abordagem é particularmente desafiador porque é fácil cair em uma armadilha distópica criativa. Nossos cérebros foram programados para fazer isso, para sempre ver o resultado negativo de qualquer intervenção ou narrativa. Para perceber isso, podemos simplesmente olhar para as notícias diárias.

RG – O momento atual está forçando a humanidade a enfrentar muitas questões importantes e que impactam nossa vida – como as mudanças climáticas – que não podem mais ser ignoradas. Na sua opinião, qual é a importância da abordagem Design de Futuros Desejáveis ​​para nossa sociedade?

LD – Fazer com que as pessoas co-criem realidades que têm diversidade em seu núcleo; tornando essas realidades mais resilientes e criativas. Criando exemplos do que eles gostariam de ver na sociedade, como gostariam de viver; mudanças que sejam relevantes o suficiente para que estejam dispostos a fazer alterações em sua vida atual para alcançá-las.

RG – Direitos LGBTQ, inclusão, igualdade salarial e liberdade do feminino são algumas das outras questões que devemos resolver no futuro próximo. Você é uma das líderes do projeto IRIS – Liberdade do Feminino. Por que esse é um projeto importante para o futuro da sociedade?

LD – IRIS é um projeto que visa alcançar a igualdade de gênero no Brasil até 2030. Eu sei, é ambicioso, mas também muito necessário. Para ilustrar, a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil; e essa é apenas uma das razões pelas quais a ONU considera o Brasil o quinto país mais violento para as mulheres no mundo. Portanto, essa é uma questão urgente que não pode ser resolvida pelos métodos e pela política tradicionais. Para este projeto, a metodologia de Design Futuros Desejáveis da Echos permite que todos os elementos do problema e a solução surjam localmente; a partir do zero. Além disso, embora estejamos falando do feminino, o projeto é inclusivo para todos, independentemente do gênero; todos nós temos experiências de nossa expressão feminina sendo reprimida pela sociedade. Isso é importante porque encontrar um terreno comum ajuda a mobilizar aqueles que têm ideias equivocadas – ou nenhuma – quando se trata de questões de feminismo e gênero. Nós os ajudamos a trabalhar em questões que ajudarão a alcançar ativamente a igualdade de gênero.

RG – Você é uma Design Thinker experiente, com um vasto currículo em projetos de inovação. Que pérolas de sabedoria você compartilharia com alguém que está iniciando sua jornada de inovação por meio do Design Thinking?

LD – Trabalhe com pessoas que nem sempre concordam com você, mas com as quais você gosta de trabalhar. Vou explicar: é importante estar cercado por pessoas que desafiam suas opiniões e ajudam você a ver parte dos sistemas que não eram óbvias para você no início. Discordar é íntegro em um cenário de projeto de design. Além disso, hoje em dia nosso local de trabalho é onde passamos a maior parte do dia; portanto, encontre colegas com quem você gosta de passar mais tempo.

RG – Gostaria de terminar pedindo que você compartilhe uma citação que a inspire.

LD – “Gente! Não se trata de quebrar estruturas, mas de saber o que fazer com as peças ”, Mafalda, a personagem da história em quadrinhos do Quino. 

RG- Obrigada Laura.

LD- Obrigada.

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*Essa entrevista foi originalmente publicada por Rani Ghazzaoui no site da Echos Austrália.  Este artigo livremente traduzido por Natalia Figueiredo.

 

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.