Você gostaria de adivinhar o futuro ou criá-lo? Se você é do time da segunda opção, vai adorar conhecer um pouco mais sobre o Design de Futuros Desejáveis. Essa abordagem parte do princípio de que o futuro é sempre uma possibilidade, não uma previsão. Ou seja: é possível sermos atuantes na construção do futuro e não meros observadores. Para entender mais sobre o assunto, entrevistamos Juliana Proserpio, designer e co-fundadora da Echos. Ela vem estudando o DDF faz uns anos e irá ministrar uma palestra sobre o assunto na DT CON, nossa conferência de design thinking que irá acontecer entre os dias 26 e 27 de novembro na EBAC (Escola Britânica de Artes Criativas),  além de lançar aqui no Brasil o curso  Design de Futuros Desejáveis.

 

 O que é design de futuros desejáveis?

O design de futuros desejáveis é uma abordagem que nos ajuda a visualizar futuros muito além do que a gente acredita que vai acontecer, como as tendências ou previsões, mas sim como uma construção coletiva e intencional para criar futuros positivos e de impacto para a sociedade.

 Que impacto ele pode ter na sociedade?

Ele pode nos ajudar nos colocando em um lugar de co-construtor desse futuro. Achamos que os futuros são feitos a partir dos políticos ,por exemplo, ou das grandes empresas de tecnologias. Essa visão de futuros desejáveis nos ajuda a visualizar futuros construídos a partir da comunidade e da sociedade. Ela traz uma relação entre o que está acontecendo no presente e o os futuros que a gente quer, nos colocando neste lugar de co-designers e co-produtores destes futuros, sendo atuantes e ativos desta construção.

Em vez de analisarmos teorias de futuros que estão acontecendo, a gente vai começar a fazer criticas e começar a pensar em oportunidades, problemas e propostas que podem nos ajudar a chegar em um futuro desejável melhor para todos.

Da onde surgiu a metodologia?

Vem de uma intersecção do pensamento do design (design estratégico) com o futurismo. Ela vem muito de um conhecimento que se chama design especulativo, que envolve uma metodologia de design com uma pesquisa antropológica. Como o design é sempre centrado no ser humano, essa construção de futuros acaba bem centrada nas pessoas e não apenas em tecnologias ou critérios econômicos.

Como você começou a ter contato com o assunto e a explorar o tema?

Foi meio orgânico. Faz 4 anos que estou estudando o design como ferramenta de transformações sistêmicas, que é o design atuando para transformar as organizações, as cidades, sociedade, governo e política pública.  Até que caí nesta abordagem de design para futuros.  Uma das inspirações vem de um dos maiores estudiosos e filósofos de design que é Herbert Simon. Ele fala que o design é uma ferramenta para você sair de situações que são condicionadas no presente para situações preferíveis, que é você ter essa posição ativa e ser um intervencionista nesta construção de algo diferente.

Conhece cases de países e organizações que aplicaram essa metodologia?

Tem vários países usando dentro dos governos, um dos que mais usa é a Inglaterra. Além dos projetos nas administrações públicas, eles fizeram um grande evento chamado Futurismo no Governo entre março, abril e maio deste ano.

Existem também alguns laboratórios de inovação, como o Dunneandraby  que trabalha com design especulativo em projetos para empresas, governo, sociedade, realiza exposições e produziu o livro Speculative Everything, uma das referencias do nosso curso DDF

Tem maneiras mais simples deste uso que principalmente as empresas de tecnologia fazem muito, como as visões da Microsoft  de como ela vai ser em 2030. Isso é uma especulação de futuro desejável a partir da perspectiva do negócio deles.

E na Echos?

A gente tem aplicado em projetos com clientes, como para a ANS com a Unimed. A própria Echos em si a gente sempre está se redesenhando: antes a gente era uma consultoria, depois uma escola e agora um laboratório de inovação que trabalha com estes projetos de futuros desejáveis, tanto a partir das empresas como das pessoas e da sociedade no geral.

E antes a gente só pegava projetos menores e fomos, aos poucos, pavimentando nosso caminho para chegarmos neste patamar de trabalhar com o design de transformação sistêmica e de futuros desejáveis.

Quais os cuidados que precisamos ter na construção de futuros?

O design de futuros desejáveis é um ato político, não no sentido de política de partido ou de eleições, ela é um ato político porque você está construindo o polis, o todo. Quando você fomenta esta visão de futuro você está impactando o imaginário das pessoas e as possibilidades de futuro. Então ele acaba se tornando um ato de poder de engajamento  e movimentação social  muito grande. Um grande exemplo foi o discurso do “I have a dream..” do Martin Luther King(No dia 28 de agosto de 1963, ele discursou para cerca de 250 mil pessoas sobre seu sonho de ver uma sociedade em que todos seriam iguais sem distinção de cor e raça). Isso foi uma visão de cenário de futuro histórica. Por outro lado, o próprio nazismo foi uma visão de futuro, autoritária, com impacto muito negativo de um futuro construída de forma autocrática e que mudou o mundo. A questão é: a gente vai deixar esse tipo de visão autocrática ser construída ou a gente vai participar como cidadãos ou como atuantes da sua própria organização. Por isso que a visão de futuro deve ser diversa, colaborativa e inclusiva. Porque ela pode se tornar uma visão muito perigosa se ela for uma visão estática de uma pessoa ou de um grupo de pessoas de interesses muito bem definidos.

Qual o papel das tecnologias na construção destes futuros?

Elas são os grandes canais e “possibilitadoras” destes futuros. É como um bom designer, ele costuma ter uma gama de tecnologias ou acesso a tecnologias – desde as mais antigas às novas e disruptivas. E isso pode ser usado para possibilitar novos futuros que antes não eram possíveis de serem executados. Por exemplo, agora temos uma ferramenta que mudou o mundo: a internet, que faz a gente se conectar e trabalhar de uma maneira colaborativa e global, o que antes não era possível. Era muito mais difícil de você ter essa relação global.

Então as tecnologias são quem mais nos ajudam a executar os projetos, para que eles sejam fáceis, possíveis e escaláveis. Porém a tecnologia por si só não faz nada, o que faz acontecer são os seres humanos utilizando-a e o efeito destas tecnologias sobre as pessoas.  A maneira que a gente usa e emprega a tecnologia é que faz a gente chegar no futuro desejável ou indesejável.

E aí você acha que entra o papel da intenção?

Não só da intenção, mas da construção interativa, porque é aí que a gente aprende. Tem muita coisa que a gente acha que vai dar certo, às vezes até tem uma intenção boa, mas o resultado é catastrófico, então você tem que testar e ir iterando. Por isso que a visão de futuro tem que ser evolutiva, ela não pode ser datada. É preciso iterar sempre com ela para chegar em um resultado de bem-estar social do todo.

Como vai ser a palestra?

Na minha palestra eu vou falar sobre essas premissas para construir futuros desejáveis: construção coletiva e inclusiva, da diversidade, da colaboração e da construção de futuro a partir destas emersões tecnológicas, necessidades e desejos da sociedade. Mas principalmente entendendo se não participarmos da construção, ficamos a mercê dos futuros que estão sendo criados pelos outros.

Sobre o curso, o que ele tem de diferente dos cursos de futurismo?

Os cursos que têm de futurismo focam muito em tendências tecnológicas e em mostrar um panorama de tudo o que está acontecendo no mundo e se transformando. Eles são um grande showcase. Você assiste todos os futuros que estão emergindo, mas você não participa disso. Essa é a grande diferença de nosso curso, nele você pratica a construção como um líder estratégico da construção de futuros.

Esse curso tem uma construção muito fresca, a gente está ajudando a construir esse pensamento de design de futuros desejáveis. Não é algo que vimos em Harvard e está replicando no brasil. É algo que estamos construindo concomitantemente ao que esta acontecendo em várias partes do mundo

 

Gostou do assunto?  Não perca a chance de ouvir a palestra de Juliana ao vivo em nossa DT CON! Além dela, teremos outros grandes nomes nacionais e internacionais.

Garanta aqui seu ingresso!

Também já estamos com matrículas abertas para a primeira turma do curso de Design de Futuros Desejáveis:

São Paulo: 03, 04 e 05 de dezembro de 9h às 18h

  • Requisito conhecer a abordagem do design thinking
  • Investimento: 4x R$750,00

Aproveite essa oportunidade pois as vagas são limitadas! Mais informações AQUI.

 

 

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.