Em tempos de excesso, pensar visualmente e sintetizar o conhecimento e projetos de forma visual se tornou algo imperativo.

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Quando colocamos e estruturamos nossas ideias e pensamentos no papel, damos o

primeiro passo para tornar real e concreta uma nova realidade: um projeto, um produto ou serviço, um desejo.

Para entender o conceito de visual thinking, continue lendo. Vamos explorar o conceito por trás do pensamento visual, sua aplicação e complementar o assunto com uma entrevista com o especialista Mathias Jakobsen.

Visual thinking: por que estruturar o pensamento visual pode fazer a diferença

O pensamento visual, ou visual thinking como é conhecido em inglês, serve para ajudar as pessoas a pensarem de forma visual, trazendo para o papel todas as suas ideias.

Você já deve ter ouvido a expressão “Entendeu ou quer que eu desenhe?”, certo? Geralmente usada com impaciência diante de situações de desentendimento, essa simples frase do cotidiano ajuda a explicar como funciona o pensamento visual.

Muitas vezes, na hora de organizar ideias que na nossa cabeça parecem simples, não conseguimos transmitir corretamente nosso pensamento. Mesmo que na nossa mente tudo pareça muito claro, o processo de absorção das ideias envolve outro ator, o receptor da mensagem, que pode não processar da mesma forma a nossa informação. É aí que entra o visual thinking.

Pensar visualmente ajuda a organizar de forma mais clara o que vamos passar enquanto mensagem. Em tempos de excesso de informação e dificuldade para absorver tudo que está à nossa volta, estruturar o pensamento a partir de imagens pode ser uma solução para se fazer mais claro, se comunicar melhor e resolver problemas complexos.

O visual thinking, então, significa reunir uma série de elementos visuais e textuais para criar um vocabulário próprio que será transformado em conteúdo.

Na prática, aplicar o pensamento visual pode ser exemplificado por um diagrama ou um infográfico, por exemplo. Esse tipo de conteúdo cria uma linguagem que usa cores, imagens, formas e tipografias variadas para transmitir conceitos e informações. O entendimento, por parte de quem o consome, é estimulado e facilitado pelos elementos que são empregados para formar o produto final.

Pensamento visual, então, é o que vai usar de técnicas de desenho, de escrita, de diagramação para organizar o pensamento e passar adiante uma mensagem.

A importância do visual thinking, de acordo com Mathias Jakobsen

Como referência para explicar o pensamento visual, recorremos a Mathias Jakobsen. Mathias é o criador do portal Think Clearly, que reúne conteúdos, newsletters e cursos relacionados ao assunto. Nascido na Dinamarca, ele fundou sua primeira empresa aos 15 anos, construindo soluções digitais para organizações diversas.

Vindo diretamente do meio digital, Mathias se especializou também em jornalismo de moda e fotografia antes de se mudar para Nova York, onde trabalhou como coach e consultor para startups e executivos corporativos. Já trabalhou com a Bloomberg, o Google, o New York Times, a Carrot Creative, a Holstee, a Coca-Cola, a Pratt, a Wharton School, a CUNY, a FiftyThree e muitas outras.

Viajando o mundo, Mathias tem empregado seu conhecimento para empoderar pessoas a se apropriarem da abordagem e a estruturarem suas ideias nesse complexo mundo que vivemos. A missão de Mathias Jakobsen, no cenário atual da economia, do mercado e das relações, é imprescindível para ajudar a compreendermos o mundo e as ideias de forma mais clara, simples e ainda assim eficiente.

Mathias conversou com a Escola Design Thinking sobre sua história, o que significa pensar de forma visual e o impacto que a abordagem pode ter em nossas vidas. 

1) É intrigante saber que você se tornou um empreendedor aos 15 anos de idade. Além disso, já se envolveu com fotografia, jornalismo de moda e já atuou como coach para grandes executivos. Agora, após deixar a posição de designer de aprendizagem na Hyper Island, está viajando o mundo empoderando as pessoas a serem criativas e a pensar de forma mais clara. Você poderia nos contar sobre a sua jornada e como o pensamento visual se tornou parte da sua vida?

Gosto de dizer que nasci na Terra do LEGO, mais conhecida como Dinamarca, pelo fato da minha vida ter realmente começado a partir do LEGO. Esse era meu brinquedo favorito. Adorava construir coisas. Qualquer coisa na verdade. Mas não era por causa do resultado – era por causa do processo de construir. Até hoje, divirto-me construindo com essas peças de plástico.

Quando eu tinha 13 anos, tive a oportunidade de aprender programação com o meu tio. Foi surpreendente porque, diferentemente do LEGO, na programação não há limites para construir. Poderia desenvolver linhas e linhas de códigos para sempre. Com um amigo, passei a desenvolver alguns jogos e criamos uma empresa chamada MT Productions. Com a internet surgindo, o jogo ganhou capilaridade rapidamente, possibilitando que qualquer um pudesse jogá-lo.

Aliás, o jogo era bem rudimentar, mas existe até hoje mesmo tendo se passado 15 anos, como você pode conferir aqui.

O jogo também foi relevante porque um dos meus primeiros clientes foi um homem interessado em licenciar para um novo “portal”, algo parecido com o que era o Yahoo naqueles tempos. O portal tratava sobre celular, novidade na época. Fui contratado para desenvolver uma versão do jogo com um sistema de pontuação, premiando os jogadores com recompensas reais. Devido ao sucesso, acabei fundando uma empresa para ajudar outras empresas a desenvolverem jogos, sites e plataformas educacionais. Era uma forma de continuar brincando com LEGO, de criar coisas.

Porém, na faculdade e entrando na vida adulta, comecei a desenvolver novos interesses como moda, fotografia e escrita. Assim, a programação por si só deixou de ser interessante. Passei, então, a procurar na vida quais outros “tijolos de LEGO” existiam em minha volta para que pudesse reconstruir minha carreira. Aproveitei minha habilidade com desenvolvimento web e, em parceria com um amigo, abrimos um site sobre moda urbana, com fotos e artigos.

Acabamos nos tornando o principal site sobre moda urbana na Dinamarca, aparecendo na capa de jornais e em programas de TV. Com o tempo, também passamos a atrair a atenção de grandes revistas, que começar a nos contratar para fornecer fotos e artigos. Tudo construído passo a passo. Tijolo por tijolo. Mas sempre juntos.

Foi então que, com minha esposa, mudei-me para Nova Iorque. O meu negócio realmente sofreu e não conseguia encontrar meu espaço nessa nova cidade. Estava fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo e ninguém, inclusive eu mesmo, estava encontrando sentido no que eu fazia. Vi que não estava conseguindo pensar de forma clara. Nesse momento, também percebi que muitas pessoas não sabem o que querem de fato.

A partir disso, comecei a ajudar os outros – e também a mim mesmo – a encontrar os caminhos, expressar as ideias e a trabalhar em ambientes complexos utilizando ferramentas simples. Tanto em grupos quanto individualmente.

O que era inicialmente uma forma de ajudar se tornou uma consultoria e uma forma de facilitação de processos. Passei a trabalhar com executivos de grandes companhias, mas, principalmente, presidentes de startups pequenas e em franca expansão. Foi um período incrível de aprendizado que acabou me levando a Hyper Island, onde trabalhei por dois anos como designer de aprendizagem. O trabalho era basicamente o mesmo o que fazia como consultor, só que em maior escala, o que me deu oportunidade de viajar o mundo, inclusive para o Brasil por diversas vezes.

Tem sido uma jornada incrível! Como resultado, acabei por deixar minha posição fixa na Hyper Island e realizar minha própria jornada com o projeto que criei, o Think Clearly, no qual viajo pelo mundo ajudando as pessoas a desenvolverem sua criatividade e a estruturar seus pensamentos, ideias e projetos.

Além disso, também criei algum produtos que tem impulsionado meu trabalho que vão além das aulas e da consultoria. Montei um conjunto de cartas que ajudam a refletir chamado Clarity Cards, um serviço de bate-papo e uma newsletter muito popular.

2) No mês de setembro, você estará no Brasil para realizar um workshop sobre Visual Thinking. Mas o que afinal significa Visual Thinking ou pensamento visual? Por que é muito mais do que simplesmente desenhar?

O visual thinking é difícil de explicar em palavras, simplesmente porque nos permite fazer algo que o texto linear como este não nos possibilita.

Pense da seguinte forma: o visual thinking se encontra entre dois espaços: texto linear (como este que você lê agora, uma palavra na sequência da outra, uma sentença após a outra) e a expressão pelo desenho (seja figurativo ou abstrato, há muito mais margem para interpretação).

Por outro lado, Visual Thinking não é a ausência de palavras – aliás um dos maiores mitos sobre o tema. Da mesma forma, não é apenas desenhar algo para que se pareça com outra coisa.

Quando estamos aplicando o visual thinking, utilizamos esses dois espaços (texto + desenho) simultaneamente para gerar um significado. Palavras e símbolos são dispostos no papel porque possuem relação entre si. Seja em cima ou abaixo do outro. Próximos as laterais ou no centro. Agrupados ou separados. Todas essas relações que mencionei proporcionam significados e contextos diferentes, indo além das palavras ou desenhos quando dispostos separadamente.

Isso importa porque nos permite processar e dispor da informação de forma não linear. O que é valioso quando estamos trabalhando em um mundo complexo e repleto de padrões não lineares.

3) Na era da informação, torna-se cada vez mais difícil organizar nossos pensamentos e fazer com que as outras pessoas os entendam. Como o visual thinking pode nos ajudar?

A força desse método é que ele é simples. Nós vivemos em um mundo cada vez mais complexo. O volume de informação cresce exponencialmente. Somos bombardeados com escolhas, ideias e experiências. Todos querem a nossa atenção.

A abordagem que apresento utiliza apenas um papel e uma caneta – ferramentas simples e sem distração – além de uma mente focada são antídotos para esse mundo hiperconectado. Isso porque, baseia-se na ideia central do “ágil” ou “iterativo” – você faz algo, olha, observa o que criou e ajusta.

Você tenta desenhar algo em um pedaço de papel por alguns minutos. Não é perfeito. É apenas um primeiro rascunho. Mas que você pode olhá-lo e compartilhar com outras pessoas. Ideias podem evoluir e ganhar corpo. Com um simples pedaço de papel e uma caneta.

Fundamentalmente, é assim como nós aprendemos. Por isso digo que o meu curso de visual thinking não representa nada novo ou revolucionário. Inclusive outras abordagens como Lean, Agile, Scrum e Design Thinking se apoiam no pensamento visual, apesar de não o nomearem assim.

O paradigma a ser superado é que ainda acreditamos no fato que para resolver problemas complexos precisamos de ferramentas e soluções complicadas. Porém, muitas vezes a solução pode ser encontrada exatamente ao simplificar a forma como abordamos o problema.

A grande questão do visual thinking é que por ser simples as pessoas têm dificuldade de confiar nele como uma ferramenta válida. Não conseguem enxergar como podem aplicar o pensamento visual no seu dia a dia. Por isso, o meu curso é baseado na prática. Se quiser conferir, veja o vídeo que preparei sobre o curso.

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Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.