“Como o fato de ser mulher afetou nossa vida? Que exatas oportunidades foram nos dadas, e quais nos foram negadas? Que destino espera nossas irmãs mais jovens, e em qual direção devemos apontá-las?” – Simone De Beauvoir
Apesar de ter crescido numa família com uma enorme presença, e de absoluta força feminina, foi só no final dos meus vinte e poucos anos que eu comecei a prestar atenção de verdade no movimento feminista. Obviamente eu sempre soube que o feminino existia na nossa sociedade com inúmeros poréns, mas, conforme fui envelhecendo e conhecendo mais e mais mulheres de cantos diferentes do mundo, com várias experiências de vida, fui percebendo o que relmente significa ser uma muher no mundo. Eu comecei a perceber a realidade de que todas as mulheres do mundo são unidas, de uma forma ou outra, por suas experiências não agradáveis e não solicitadas; eu comecei a perceber que o nosso mundo era injusto pra caramba.
O lance da desigualdade é que, uma vez que você a percebe em um lugar, fica cada vez mais difícil não a perceber em todos os lugares. Quando você percebe que os seus desejos, sonhos, talentos, sexualidade, carreira e vida estão a mercê de uma lista de regras que só se aplica para metade da população do mundo, é humanamente impossível não sentir raiva. E eu acho que essa raiva deve ser sentida.
Ser uma mulher
Não significa
Vestir
Uma mortalha;
O Feminino
Não está
Morto
Nem está ela
Dormindo
Com raiva, sim,
Efervescente, sim.
Aguardando sua hora;
Sim.
Sim.
– Alice Walker, Ser Uma Mulher
Com a raiva vem um desejo incontrolável de mudança: ver ela acontecer, se estabelecer; estar presente quando ela, finalmente, virar a norma. Nossa raiva é combustível. Apesar do fato de o mundo não ser o lugar mais acolhedor para mulheres, nós continuamos lutando. Tantas mulheres inteligentes e realizadas nesse mundo estão dizendo “não” para todos os “nãos” que disseram a elas. Nós começamos a marchar até mesas onde não fomos convidadas e reinvindicando nossas cadeiras. E se o lugar não é cedido – mesmo com todo nosso esforço – nós construímos nossas próprias mesas.
Duas semanas atrás, na Arábia Saudita, um time inteiramente feminino ganhou o maior hackathon do mundo (elas criaram um aplicativo que consegue traduzir placas para qualquer língua sem a necessidade de conectar-se à internet) e eu senti orgulho. Orgulho porque essas meninas são jovens, brilhantes e corajosas. Orgulho porque elas conquistaram cadeiras numa mesa que nunca tinha aceitado a presença delas até então. Orgulho porque, apesar de pequeno em comparação com tudo o que ainda precisamos mudar, nós estamos nos sentando à todas as mesas. Orgulho porque está acontecendo.
E o Design Thinking? Será que ela pode nos ajudar a conseguir mais espaço?
A blogueira feminista Andrea Lyip escreveu uma redação entitulada O Design Thinker Com Gênero, na qual ela diz:
“Aprendendo ais sobre a história feminina do design, eu me econtrei lendo literatura que eu sonheci primeiramente durante o meu bacharelado, nas aulas de ciências femininas sobre críticos de design feministas. Muito dessa discução crítica (veja Design and Feminism) se foca na relação entre as mulheres e seu meio: Como os espaços construídos foram e continuam sendo o encorporamento da agenda pratiarcal, espacialmente (mentalmente, emocionalmente e fisicamente) segregado mulheres e homens em seus respectivos domínios públicos e privados. Nesse contexto, “guetos cor-de-rosa”, ä feminização da pobreza” e design urbano como monumentos de dominação masculina, dinheiro e poder são pontos comuns de análise.
Isso, é claro, apenas uma lasca de conhecimento na história feminina do design, mas eu espero que te dê uma ideia sobre o que eu ando lendo e o tipo de conteúdo que tenho encontrado como predominante na literatura. Geralmente falando, tem sido desafiador encontrar discussões sobre a presença do feminino no design, e como gênero e identidade afetam o processo de design e o processo de design thinking.”
O que eu tiro do que Lyip falou é isso: se Design Thinking nos ensina a deixar nossos preconceitos da porta pra fora, a sentir empatia por outros, a mudar o status quo – e o status quo, há muito tempo, são mulheres sendo tratadas como pessoas menores – nós precisamos usar o processo para mudar a disparidade de gênero, nós devemos usar o Design Thinking e tudo mais ao nosso alcance para ajudar na mudança de mindset que vai nos dar representação justa.
Eu comecei esse artigo com a pergunta da Simone de Beauvoir e com ela vou terminar: “Que destino espera nossas irmãs mais jovens, e em qual direção devemos apontá-las?”
Devemos mandá-las em frente, já que é o único caminho possível.
Mulheres como você, Simone, pavimentaram o caminho pra gente e agora existe uma estrada que nos leva até aquela mesa. Voc6e fez até aqui, agora é com a gente.
Também deveríamos dizer pras meninas elas podem fazer o que bem entender. Mulheres vêm fazendo de tudo desde sempre e com muito menos espaço do que temos hoje. Deevmos dizer pra elas – porque elas merecem saber – que os lugaras nas mesas são delas tanto quanto são de qualquer outra pessoa, que elas podem se sentar. É importante também lembrar que elas devem sempre fazer espaço em suas mesas pras meninas que ainda estão por vir, e pras mulheres que essas meninas um dia vão ser. Deveríamos falar, finalmente, que o destino pertence à elas e que elas tem o poder de criar seus próprios futuros desejáveis.
Numa sociedade onde ainda existe tanta confusão sobre o que realmente significa ser feminista, nós devemos deixar claro que os direitos de uma pessoa nada têm a ver com seu gênero. Chega. Assim como você, nós também somos as pessoas.