Uma pesquisa realizada pelo Instituto Update levantou uma série de iniciativas completamente inovadoras que surgem nas periferias de capitais brasileiras. O trabalho que se chama Emergência Política Periferias demonstra como as lideranças destes locais estão usando valores fundamentais da inovação – como colaboração, empatia e experimentação para criar projetos reais que salvam e transformam a vida de milhares de pessoas. Estivemos presente no lançamento desta pesquisa e colocamos abaixo alguns de seus principais insights para nos inspirarmos no assunto inovação social e na vida.

A Pesquisa

O Instituto Update é uma organização sem fins lucrativos que estuda e fomenta práticas de inovação política na América Latina. Seu objetivo é mostrar que não existe uma escassez ou falta de pessoas e iniciativas tentando mudar a política, mas sim que falta visibilidade dessas novas práticas.

O projeto Emergência Política Periferias foi realizado de fevereiro a agosto de 2018 em 5 capitais brasileiras: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, São Paulo e Brasília. Neste processo, foram mapeadas mais de 400 iniciativas ligadas à política institucional, ONGs, coletivos informais e indivíduos.

Contexto

A periferia não é enxergada como parte da cidade, mas sim como uma margem, e por isso os direitos civis como acesso à Universidade, trabalho não precarizado e saneamento básico acabam afetando os seus moradores.

Porém, nos últimos 15 anos, as periferias também foram se modificando social, cultural e economicamente. Primeiramente aconteceu uma espécie de formação política de alguns de seus membros, que se deu através de coletivos autônomos de cultura, ONGs e políticas públicas de acesso à universidade. Outro fator, foi o desenvolvimento da tecnologia, que permite uma maior mobilização e organização destas mesmas pessoas.

A ampliação de redes, de repertório e de conexões faz com que surjam lideranças com poder de transformação.

O valor da colaboração

Duas das estruturas recentes que mais tem crescido nas periferias são os coletivos e redes. A característica destes grupos são a horizontalidade. As pessoas se agrupam em torno de temas de interesse, às vezes de maneira temporária, e passam a investigar, produzir conhecimento ou ação a partir dessa identidade coletiva. Pela sua natureza orgânica, uma mesma pessoa acaba por compor dois ou mais coletivos, a depender do seu campo de interesse e de atuação nos territórios. Exemplo da fala de um destes coletivos, extraído da pesquisa:

“A gente faz parte da Rede de Jornalistas das Periferias. É extremamente importante que nós estejamos em rede, principalmente agora, num momento tão crucial da nossa história, porque nós não temos recursos financeiros, a gente tem o recurso humano, a gente tem a possibilidade de engajar as nossas bases. As nossas bases: família, os meus vizinhos, as pessoas do meu bairro. E eu senti que quando a rede de Jornalistas das Periferias foi criada, deu um up para todos os coletivos que faziam parte da rede. E ainda está em processo de estruturação, de articulação, é muito difícil fazer uma rede, é a coisa mais difícil que existe no mundo.”

Jéssica, São Paulo

Experimentação: um laboratório vivo

As pessoas que se destacam na periferia, assumindo uma liderança que mobiliza e transforma ao seu redor foram chamadas pelos pesquisadores de “fazedores”. Elas trabalham com os problemas testando as soluções na prática, o que fez a pesquisa chegar a conclusão de que elas transformam seus territórios em Laboratórios de Direitos Constitucionais. Essas ações têm o objetivo de garantir os direitos básicos à existência, à cidadania,  dignidade da pessoa humana, do trabalho e da livre política (Artigo I) . 

E por que um laboratório? As soluções surgem a partir desta proximidade com o espaço e o conhecimento vem da própria realidade. Assim, as soluções são constantemente criadas, testadas e validadas pelos próprios moradores. Essas soluções podem ser replicadas em toda a cidade, porque não se congelam no tempo e no espaço.

Conheça algumas destas iniciativas:

Coletivo Papo Reto
O Coletivo Papo Reto atua no Complexo do Alemão e em outras favelas do Rio de Janeiro com articulação, comunicação e mobilização das comunidades contra a violência de Estado e por garantia de direitos.

Museu da Maré

Criado por moradores e movimentos da favela da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, o Museu da Maré concentra ações para registrar, preservar e divulgar a história das comunidades que resistem ali.

 

Casa Frida

A Casa Frida, localizada em São Sebastião (periferia de Brasília) além de atuar como espaço cultural, oferece acolhida a mulheres vítimas de violência.

Saladorama

Um morador da Comunidade Menino de Deus, em São Gonçalo (município pobre da região metropolitana do Rio), criou a Saladorama, um negócio social que busca democratizar a alimentação saudável no Brasil como um direito, não um privilégio. Hoje, a empresa discute soluções para isso em várias cidades país afora, como Florianópolis, São Luís e no Recife.

Ponto de Cultura Coco de Umbigada

O Ponto de Cultura Coco de Umbigada agrega ações de mídia livre com um estúdio e uma rádio comunitária, um laboratório de tecnologias livres e de inovação cidadã, e um restaurante. Todas as iniciativas tem como ponto de partida a história e cultura afro-brasileira.

Quer ver a pesquisa completa? Baixe aqui. 

Gosta do tema e quer atuar com inovação social? Em novembro teremos uma turma do curso Social Innovation Experience em São Paulo. Saiba mais aqui.

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.