Na última quinta-feira, 22 de junho, a Echos esteve presente no maior evento sobre cidades do futuro no Brasil, o Connected Smart Cities, edição 2017. O objetivo do evento, que também aconteceu no dia anterior, foi discutir como podemos criar e desenvolver cidades para que sejam prósperas econômica e socialmente, bem como inteligentes em lidar com os desafios atuais e futuros.
Mas o que significa ser uma Smart City? A organização World Foundation for Smart Communities possui a seguinte definição para uma Cidade Inteligente: “A Comunidade Inteligente é aquela que fez um esforço consciente para usar a tecnologia da informação para transformar a vida e o trabalho dentro de seu território de forma significativa e fundamental, em vez de seguir uma forma incremental”.
Assim, o conceito de Smart Cities ou de cidades inteligentes, sob essa perspectiva, vai além do uso da tecnologia – ainda que esse uso seja cada vez mais intensivo. Assim, quando falamos de Smart Cities, falamos das conexões digitais e físicas que estabelecemos na e com a cidade.
O futuro das cidades está, portanto, intimamente ligado à qualidade das interações humanas e como as pessoas de maneira interdependente resolvem os problemas urbanos com apoio tecnológico. É essa habilidade que precisamos desenvolver, afinal segundo Kent Larson – Arquiteto, Diretor do MITMedia Lab’s Changing Places, mais de 50% das pessoas vivem em cidades, os centros urbanos são responsáveis por 80% da emissão de CO2 e por 75% do consumo de energia no mundo, bem como concentra a maior parte da riqueza.
Ao mesmo tempo, embora exista uma grande diferença de desafios enfrentados por cidades em países desenvolvidos e cidades em países em desenvolvimento, as soluções criativas e inovadoras são prementes em todas elas.
Ao longo do evento, pudemos ter contato com diversas dessas soluções que estão emergindo aqui mesmo no Brasil. Por exemplo, o uso da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) na gestão dos serviços públicos já começa a ser realidade no Brasil. A WND Brasil possui instalada e em operação uma rede dedicada a esse tipo de conexão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas e segue sendo implantada em diversas cidades brasileiras.
A meta da empresa é conseguir atender às 12 principais regiões metropolitanas brasileiras em 2017 e, até o final de 2018, a rede estará disponível para 80% da população.
Pense que com esse tipo de tecnologia, além de beneficiar os mercados de segurança, agricultura, logística e transporte, utilities, será bastante útil para facilitar a gestão pública das cidades. Será possível ter conhecimento em tempo real dos consumos de água, luz e gás, tanto nas residências quanto em espaços públicos; proporcionar o funcionamento adequado da iluminação; indicar a disponibilidade de vagas de estacionamento; detectar vazamentos visíveis e não-visíveis em tubulações de água; fornecer informações online das condições meteorológicas; fornecer informações online das condições de poluição atmosférica ou sonora, entre outros.
Encontramos diversos outros exemplos que a partir da tecnologia melhoram a relação das pessoas com a cidade e oferecem soluções para os problemas que enfrentamos cotidianamente nos centros urbanos. Porém, o ponto que mais chamou a atenção e foi recorrente em todos os painéis dos quais participamos é a necessidade de tornar as cidades mais colaborativas. Ativar o senso de cidadania e de apropriação dos espaços públicos é o que nos fará caminhar para cidades mais inteligentes, inovadoras e capazes de resolver seus próprios problemas.
Ou seja, quando falamos de Smart Cities, mais do que discutir a introdução da tecnologia nas cidades, devemos discutir o fator humano. É a forma como nos conectamos, se isolada ou colaborativa, é que molda os arranjos políticos, sociais e econômicos dos centros urbanos.
Foi essa exatamente a reflexão que trouxemos para o evento. Cuca Righini, consultora de cultura e de aprendizagem da Echos, mostrou durante seu painel “Novas soluções para velhos problemas: técnica para transformar problemas urbanos em negócios de alto impacto” que apesar de existirem inúmeras soluções disponíveis no mercado, inclusive bastante engenhosas do ponto de vista tecnológico, boa parte delas falham ao tentar resolver um problema urbano.
Cuca Righini em seu painel “Novas soluções para velhos problemas: técnica para transformar problemas urbanos em negócios de alto impacto”
O motivo?
Muitas soluções falham porque colocam a tecnologia como fim, acabam não se baseando nas necessidades dos clientes ou usuários e nunca são prototipadas com a finalidade de receber feedback. Essa falha na abordagem de problemas permanece sendo a norma tanto no setor público quanto no setor privado.
Afinal, quando falamos de desafios urbanos, precisamos desenvolver soluções a partir de uma visão sistêmica e baseada em necessidades humanas. Assim, a provocação que colocamos na mesa foi: qual inovação urbana vale a pena? Sob qual olhar vamos abordar os desafios da cidade?
Nós, da Echos, acreditamos que o olhar que vale a pena se dá a partir da ótica do Design. O pensamento do design nos permite exatamente acessar o fator humano e projetar soluções que sejam interessantes para as pessoas. Uma vez detectada essa premência, a tecnologia nos ajuda a dar escala e tornar a solução exponencial. Como diz o físico húngaro Albert-Lázló Barabási: “Nós sempre vivemos num mundo conectado, mas nós simplesmente não éramos tão conscientes dessa realidade…isso mudou drasticamente”.
Ou seja, a tecnologia apenas está acelerando algo que é inerente à nossa humanidade.
Agora precisamos decidir como lidamos com ela de forma mais assertiva e humana e desenvolvemos soluções verdadeiras para as necessidades que temos. E é nesse ponto que o pensamento e a prática do design se sobressaem.
Porém, o que poucas pessoas se dão conta é que nós, seres humanos, somos naturalmente designers. Faz parte do nosso DNA e da nossa evolução pensarmos a partir das nossas necessidades e desenvolvermos ferramentas, processos, produtos, serviços, organizações e sistemas que as atendam. E conseguimos fazê-lo com o seu potencial máximo quando exercitamos a empatia, colaboração e experimentação, valores que acompanham o pensamento do Design.
Vivemos em um momento único como humanidade. Estamos reconhecendo que agir de forma colaborativa não só nos conecta a nossa essência humana como nos permite agir e propor soluções a problemas complexos de maneira mais assertiva eficiente.
Como afirma Eric Liu, Professor de Educação Cívica, Diretor do Aspen Institute Citizenship & American Identity Program, “a maioria das pessoas [ainda] é ignorante sobre a anatomia do poder. Isso faz com ele se concentre nas mãos de poucos que conhecem essa anatomia. Parte da arte de se apropriar do poder significa ter uma arena onde praticar a arte de tomar decisões. E não existe melhor lugar para praticar o poder do que as cidades.”
Nesse contexto, acreditamos que o design constitui um caminho de empoderamento para que as pessoas se tornem efetivamente cidadãs e sejam autônomas para decidirem e projetarem a cidade em que querem viver. Que ao final tomem consciência do seu papel como designers do mundo em que querem viver. Somente assim criaremos inovações urbanas que realmente valem a pena.