Toda organização é capaz de inovar quando desenvolve duas habilidades fundamentais: gerar novas ideias e saber executá-las.
Para gerar novas ideias, de modo geral, as empresas e organizações já estão se movimentando: não são mais raras as empresas que possuem espaços de inovação. Em geral essas são áreas mais abertas para eliminar as barreiras físicas entre os colaboradores e incentivar a interação e a cocriação. Além disso, nota-se também mudanças na gestão das organizações, que estão se tornando aos poucos menos verticais (hierarquizadas). As tomadas de decisão estão se tornando mais descentralizadas e há espaço para participação mais ativa e coletiva dos colaboradores.
Abaixo, alguns exemplos de organizações que já iniciaram esse processo e montaram espaços criativos para incentivar e alimentar a criatividade de seus funcionários.
Como resultado, em maior ou menor escala, essas organizações acabam se oxigenando e as novas ideias fluindo. No entanto, ainda que mudanças estruturais e espaços mais abertos sejam fatores necessários na construção de uma cultura organizacional voltada à inovação, uma nova cultura organizacional não emerge simplesmente com novos ambientes.
Uma das maiores barreiras que presenciamos em boa parte das organizações em busca de inovação é que elas travam em determinado ponto. Até conseguem estar abertas a novas ideias e fomentá-las internamente, mas patinam na hora de executá-las.
Como aponta Tendayi Viki, consultor-chefe e fundador da consultoria Benneli Jacobs, esses ambientes – leia-se Espaço de Inovação; Centro de Inovação; Laboratório inovação; etc – em muitos casos estão se tornando grande bolhas dentro das corporações e não conseguem catalisar inovação. Pelo contrário: muitos deles estão fechando – e por um bom motivo!
não conseguirem de fato implementar uma cultura de inovação, conforme publicou em seu artigo (originalmente em inglês) – “5 razões sobre porque seu chefe estava certo em fechar o laboratório de inovação da sua empresa”:
- Não era de fato um laboratório de inovação
A maioria das pessoas que trabalham em laboratórios de inovação tendem a confundir inovação com criatividade. A criatividade pode ser uma parte importante da inovação, mas ter ideias interessantes não são suficientes para que o processo de inovação seja bem sucedido. Inovação é a combinação de ideias criativas com modelos de negócios lucrativos e sustentáveis. Se tiver uma parte, mas não a outra, não há inovação. Muitos dos laboratórios de inovação são projetados para despertar a criatividade das pessoas que ali trabalham. Entretanto, poucos deles são projetados para procurar e encontrar modelos de negócios rentáveis a partir das ideias geradas.
- Falta de alinhamento estratégico
Muitos dos laboratórios de inovação são fechados porque frequentemente estão trabalhando em projetos que não estão alinhados aos objetivos estratégicos da companhia. Em muitos casos, os laboratórios são conduzidos sem um plano de retorno financeiro e conforme o tempo, inúmeros projetos são realizados mas sem uma clareza sobre como o trabalho desenvolvido poderia contribuir para a empresa. Essa falta de alinhamento estratégico também cria órfãos; grandes novos produtos com bons modelos de negócio são perdidos porque nenhum gestor da organização estará disposto a levá-los a frente.
- Falta de foco
Sem o devido alinhamento estratégico, o que acontece é a falta de foco. Deixar “mil flores desabrocharem” não é bom para o seu jardim e definitivamente não é positivo para um laboratório de inovação. Existe um mito nos círculos de inovação de que “não existe ideia ruim”. Sim, elas existem. Ideias ruins são aquelas que não ajudam a organização a alcançar suas metas estratégicas. Ideias ruins podem parecer inofensivas, mas são ruins para a sua empresa. Laboratórios de inovação precisam ter foco estratégico. Essa visão ajuda a desenvolver conhecimento e competências e impede que as pessoas à frente da inovação fiquem “pulando” de ideia em ideia.
- Na maioria dos casos são laboratórios de fachada
Mesas de bilhar, pufes, pianos, mesas de ping-pong, post-its, canvas de negócios, cópias do livro A Startup Enxuta, todas as paredes pintadas com tintas especiais para escrita, posters com frases de Steve Jobs…. Então o uso dos jargões: mínimo produto viável (mvp), pivotagem, experimentos, iterações, experiência do usuário, design thinking, entre outros. Boa parte desses laboratórios estão em busca do seu “interior do Vale do Silício”. Acrescente o chefe de cozinha e os tipos de inovação usando jeans e camisetas e terá o molho secreto do Google para inovar. Essa é a inovação de fachada. Parece a IDEO, mas não é a IDEO. Há uma razão por trás das coisas visíveis que grandes inovadores fazem. Porque existe um método e práticas específicas. As coisas visíveis que vemos são apenas expressão dessa prática. A tarefa dos gerentes de inovação não é imitar o lado visível, mas entender e implementar práticas inovadoras.
- “Mostre-me os resultados!”
A quase totalidade dos laboratórios que são desativados geraram nenhuma contribuição para a receita da companhia nos últimos 3 anos. Pergunte aos gerentes de inovação o que andavam fazendo e eles irão ralhar diversas atividades e métricas de vaidade; eventos realizados, menções na imprensa, experimentos rodados, número de conversas com clientes, quantidade de hackathons realizados e de MVPs lançados. Quantidade de modelos de negócios validados? Zero. Quantidade de modelos de negócios validados e escalados? Zero. No início de um laboratório de inovação, métricas relacionadas às atividades são importantes. Mas após 3, 5 anos, os laboratórios têm que demonstrar impacto. E, ao cabo, a mais importante métrica é receita.
Os pontos trazidos por Viki são importantes para que pessoas e organizações entendam que para sermos inovadores dependemos de fatores invisíveis. O maior deles é a cultura. A teia que conecta e molda comportamentos e cria um conjunto de hábitos, valores e modos de agir que determinam como a organização irá lidar com as constantes incertezas e mudanças do mundo contemporâneo. É nesse contexto que surge a importância de se desenvolver uma cultura de inovação.
No fundo, laboratórios morrem porque ignoram esse fator. Um espaço físico é apenas um espaço físico. A inovação emerge do fator humano, das conexões entre pessoas e ideias.
Como muito bem pontua Soren Kaplan, no artigo publicado originalmente na FastCo Design que traduzimos aqui sobre como criar uma cultura de inovação:
“Líderes experientes moldam a cultura de suas respectivas organizações para que sirvam como catalisadoras de inovação. Sabem que é a cultura – seus valores, normas, mensagens inconscientes a comportamentos sutis de seus líderes e colaboradores – o componente capaz de limitar o (bom) desempenho. Ao não se atentar a essas forças invisíveis, cerca de 70% dos esforços em promover mudanças organizacionais, falham. O segredo? Desenhar a interação entre as estratégias propostas da companhia e a forma com que as pessoas, de fato, se relacionam entre si e com a organização.”
Portanto, toda organização ao invés de se preocupar em criar “laboratórios de inovação”, deveriam investir para que os indivíduos alcancem sua plenitude criativa e a capacidade máxima de execução, independentemente do contexto.
Agora que você já sabe que para começar a inovar é preciso ter um olhar atento para a construção de uma cultura de inovação e que a criação de espaços criativos não são suficientes para de fato fazer com que a inovação aconteça na sua organização. Sugiro que conheça um pouco mais sobre como a abordagem do design, quando difundida entre os colaboradores, pode alavancar a inovação na sua empresa. Para isso, que tal fazer download do primeiro capítulo da nossa série, “O Poder do Design”? Nessa série, você irá descobrir como o design pode criar novas realidades e futuros desejáveis. Baixe gratuitamente AQUI.