Estamos sempre dizendo que o design pode ir muito além do que é estético ou funcional. Com o design podemos transformar pessoas, organizações, negócios, sistemas.

Podemos, inclusive, construir o futuro em que queremos viver. O design não apenas cria o tangível, mas principalmente e mais importante, é capaz de criar aquilo que não podemos tocar, mas que impacta nossas vidas diariamente.

Exatamente por ser uma força de criação, representa uma ferramenta poderosa para gerar novos contextos, nos ajudando a resolver problemas complexos.

Quando falamos de problema complexo no Brasil, talvez o maior deles seja o acesso à saúde.

Desde 1998, o País convive oficialmente com um sistema híbrido de saúde, público e privado, composto respectivamente pelo Sistema Único de Saúde e pelo Sistema de Saúde Suplementar – aquele operado por planos e seguros privados de assistência médica à saúde, os chamados planos ou seguros de saúde.

Falando em números, segundo a Agência Nacional de Saúde, ANS, cerca de 25% da população brasileira possui cobertura de saúde privada, sendo os 75% restantes usuários do SUS.

Apesar da saúde suplementar ter surgido como uma alternativa mais eficiente e uma forma de desafogar o sistema público de saúde, para muitos dos mais 45 milhões de usuários, é um sistema que deixa muito desejar.

Inúmeros são os gargalos. Porém, o maior deles ficou evidente em 2015 com a deflagração da CPI da máfia das próteses, em que médicos e empresários do ramo de órtese e prótese agiam realizando superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de próteses e até mesmo uso de materiais vencidos nos procedimentos realizados em pacientes.

A investigação escancarou um problema sistêmico, mostrando que o sistema de remuneração vigente gera sérias distorções. Isso porque o modelo atual de pagamento se dá por procedimento. Quanto maior o volume de procedimentos, mais determinado ator vai ser remunerado. Não há nenhuma vinculação com a efetividade do tratamento. Como resultado, gera-se no sistema pouca ou nenhuma qualidade na prestação de serviço e, consequentemente, ineficiência no sistema.

O papel da Echos na reconfiguração do sistema de saúde

Com o objetivo de sanar esse problema, em 2016, a Agência Nacional de Saúde, ANS, em conjunto com diversos atores do ecossistema, criou um grupo técnico (GT) de remuneração para repensar o modelo de remuneração na saúde suplementar.

No entanto, para dar maior resolutividade aos trabalhos do GT, a Echos foi convidada a conduzir esse projeto.

Acreditamos que essa será a oportunidade de não apenas impactar milhões de pessoas, mas mostrar que o design é capaz de transformar qualquer realidade. Somos todos designers do mundo em que queremos viver.

Utilizando como base uma abordagem que coloca o ser humano no centro do processo, isto é, o design thinking, temos o desafio, nos próximos 4 meses, de redesenhar de forma colaborativa com todos os atores do sistema um novo modelo de remuneração do sistema de saúde suplementar para que traga mais eficiência ao sistema e qualidade de serviço ao paciente.

Nosso objetivo final, portanto, é redesenhar os pilares do modelo de remuneração do sistema de saúde suplementar para que possamos ter mais qualidade de serviço e transparência das informações para inibir a corrupção e tornar o sistema mais acessível para os stakeholders e, principalmente, para o paciente.

O primeiro passo

Na última terça-feira, 14/02, foi dado o primeiro passo do projeto. Cerca de 70 pessoas participaram da reunião do Grupo Técnico de Remuneração, no Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, no Rio de Janeiro, tendo como pauta os temas:

  • Design Thinking (metodologia de construção conjunta de modelos inovadores);
  • Panorama dos modelos de remuneração no mundo;
  • Levantamento de experiências internacionais (FenaSaúde);
  • Contribuição do Diagnoses Related Groups (DRG) como ferramenta de indução da qualidade na prestação e remuneração dos serviços.

Tiago Taveira, consultor da Echos, demonstrando para o grupo de técnico de remuneração nossa forma de criar soluções a partir do Design Thinking

Nesse encontro, a nossa equipe de consultores Echos apresentou sua abordagem de projetos e propôs uma dinâmica com o objetivo de validar e complementar as premissas que nortearão a criação do novo modelo de remuneração.

Para esta atividade, as 49 pessoas no momento presentes (representantes de setores diversos) foram divididas em 5 grupos para discutir e realizar as seguintes atividades:

  1. Descrevam os pilares que são necessários para que haja qualidade de serviço dentro do novo modelo de remuneração no sistema privado de saúde.
  2. Descrevam os pilares que são necessários para que haja eficiência dentro do novo modelo de remuneração no sistema privado de saúde.
  3. Descrevam os pilares que são necessários para que haja um sistema totalmente transparente dentro do novo modelo de remuneração no sistema privado de saúde.
  4. Há outras premissas que devem ser consideradas no projeto?
  5. O que precisa acontecer para que este projeto seja um sucesso para todos?

Após a primeira etapa, um representante de cada grupo apresentou os principais insights de cada questão para todos os presentes e ao final foram definidas em conjunto as 9 premissas do projeto:

  1. Foco na qualidade de serviço para o paciente
  2. Eficiência do sistema
  3. Transparência total
  4. Novo modelos precisam de novas relações
  5. Valorização dos bons profissionais
  6. Informação para todos
  7. Visão sistêmica
  8. Monitoramento compartilhado
  9. O usuário como parte ativa no sistema

Representantes de diferentes setores na saúde discutindo colaborativamente as premissas do projeto

Com esse pontapé inicial, o nosso time pode, utilizando a abordagem de design thinking, iniciar a fase de entendimento do problema. O objetivo agora é fazer um entendimento 360º do desafio inicial. Além de ser um momento de nivelamento do conhecimento sobre o problema, essa etapa representa um importante momento de exploração sobre as pessoas e o contexto em que o problema está inserido.

Caso queira acompanhar esse projeto de perto, criamos um portal em que serão documentados todos os passos. Assim qualquer um poderá saber o estágio de desenvolvimento. Lá, inclusive, disponibilizamos gratuitamente o curso online Introdução ao Design Thinking da Descola. Caso queira acompanhar, basta acessar aqui.

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.