Quando se pensa em ambiente hospitalar, muito provavelmente se pensa em ambientes frios, desconfortáveis e nada acolhedores. Além disso, automaticamente associamos hospital à doença, um lugar do qual se quer distância.

No entanto, estamos vivenciando um movimento na área da saúde cujo objetivo é humanizar a relação dos pacientes com o ambiente hospitalar. Aliás se pudesse imaginar um hospital que não tivesse cara de hospital, como seria?

Propostas inovadoras estão surgindo nesse contexto exatamente porque estão sendo capazes de pensar e considerar as pessoas de maneira empática. O que significa dizer que alguns centros médicos estão deixando de considerar apenas a cura da doença para uma abordagem mais holística, considerando o bem-estar do paciente. O foco agora é pensar na experiência do paciente.

O interessante nisso é que a partir dessa visão mais holística, acaba-se atacando a própria doença. Como se verá a seguir, projetar uma experiência mais humana gera resultados extremamente positivos  como por exemplo uma recuperação mais rápida do quadro clínico dos pacientes, a diminuição da frequência com que a interferência médica se faz necessária,  além da redução de tempo e de recursos para o hospital.

A seguir você irá conhecer 3 cases inspiradores de inovação na área da saúde.

Adventure Discovery Series – como projetar centrais de ressonância magnética humanizadas

Doug Dietz é designer de produto na GE há mais de 30 anos, atualmente é chefe de Design na área da saúde da empresa, e há pelo menos 20 anos tem projetado máquinas de diagnóstico via ressonância magnética (MRI).

Há alguns anos estava envolvido em um projeto cujo objetivo era desenvolver a mais nova MRI. Após a conclusão do projeto, Doug foi até um hospital onde a nova máquina havia sido instalada. Estava orgulhoso do resultado, afinal havia desenvolvido a mais “inovadora” e avançada máquina de diagnóstico até o momento.

Porém, durante a visita aconteceu uma cena que mudaria para sempre sua vida.

Doug encontrou na sala de espera uma menina de 7 anos que estava na eminência para realizar a ressonância. Porém, ela se encontrava aos prantos e apavorada, evidente com medo do procedimento. Na sequência, em razão do estado emocional da paciente, Doug também presenciou o enfermeiro chamando o anestesista responsável, já que exames assim exigem total imobilidade por parte do paciente.

Foi nesse momento em que Dietz teve uma experiência de empatia profunda. Qual seria o propósito de criar uma máquina tecnologicamente avançada em termos de precisão de diagnóstico, mas que causava pânico nos pacientes?

Como responsável pelo projeto, Doug tinha o poder de mudar a situação. Foi estudar na D.School de Stanford para aprender como abordar esse desafio a partir de uma perspectiva centrada nas pessoas para que, ao final, pudesse desenvolver uma máquina que não fosse aterrorizante para as crianças. Dessa forma, surgiu o MR Adventure Discovery Series.

Interessante destacar que ali havia um grande desafio. Sabia que não teria recursos financeiros para redesenhar a máquina de ressonância magnética do zero. Então decidiu repensar na experiência do paciente. O que antes era uma máquina de ressonância magnética passou a ser numa grande história de aventura para crianças, colocando o paciente como elemento central dela.

Além de alterar esteticamente as máquinas e sala de exame, foi criado também um script para os técnicos de laboratório conduzirem os pacientes na história.

post_saude_mriUtilizando do processo de Design Thinking, Dietz criou alguns protótipos que incluíam um navio pirata e uma espaço-nave. O importante disso é que a iniciativa passou a sistematicamente a ajudar os pacientes a relaxar, como também, em razão da contação de história, facilitou a realização do exame, já que as etapas do procedimento estavam inseridas no roteiro.

Como resultado, o número de pacientes que necessitava de sedação caiu drasticamente, o que por sua vez, elevou a quantidade de pacientes felizes. Com isso o próprio hospital ficou feliz, pois além do resultado e da satisfação dos pacientes, conseguiu também diminuir significativamente tempo e custo desse tipo de procedimento.

Caso queira conhecer a história narrada pelo próprio Doug Dietz, abaixo você confere uma apresentação que o designer fez em 2012 em um TEDx em San Jose, Califórnia.

OHIO STATE WEXNER HOSPITAL CENTER

O Ohio State Wexner Hospital Center é um exemplo que não poderia ser deixado de fora quando o assunto é a humanização nos centros de assistência hospitalar. O hospital tem adotado uma série de medidas a partir de uma visão holística e focada nas pessoas. Abaixo separamos duas delas:

Pet Pals

Estudos demonstram que a interação animal-paciente pode gerar benefícios significativos, visto que contribuem para reduzir a pressão sanguínea, relaxa e alivia a ansiedade e estresse dos pacientes, além de aumentar a satisfação dos mesmos no processo de hospitalização. Foi a partir desse olhar humano que o centro hospitalar criou o programa Pet Pals com o objetivo de promover a interação entre voluntários e seus cachorros de estimação com os pacientes do hospital.

O programa exige todo um processo de certificação tanto para os voluntários quanto para os animais para que possam ingressar no ambiente hospitalar e para que também ofereçam uma experiência positiva aos pacientes. Como resultado, o hospital tem contabilizado diversos casos em que o processo de cura foi acelerado devido a presença dos animais, além de ser menos estressante e sofrido. O sucesso foi tanto que a iniciativa foi replicada em outros centros hospitalares.

post_saude_ohio_dogs

post_saude_ohio_dogs2

Florest Friends

O Florest Friends é uma iniciativa que surgiu na área de oncologia pediátrica. Nesse caso, além do olhar humano, foi introduzida a tecnologia.

É sabido que o processo de tratamento de câncer é extremamente sofrido para os pacientes. Visando diminui o stress de crianças que sabem lidar menos ainda com a doença, uma sala de espera infantil foi transformada em uma floresta mágica high tech onde os pacientes interagem com brinquedos e são levados a uma experiência mágica.

Quando chegam, recebem um bracelete médico interativo com tecnologia NFC onde podem adotar um animal de estimação virtual, uma espécie de avatar. Esse animal permanece com o paciente durante toda a estada no hospital. O objetivo dessa tecnologia é oferecer um acompanhamento empático ao paciente durante o tratamento oncológico. Assim, após escolher o seu avatar – podem ser coelhos, sapos ou patos -, o paciente pode interagir com ele em diferentes situações durante o tempo de permanência no hospital.

A floresta mágica faz com que a criança se distraia e por isso alivia o stress, causando uma distração positiva. Para Mathew McNerney, designer da floresta da Potion Design, empresa realizadora do projeto, a solução vai além e cria COMPAIXÃO DIGITAL.

Para entender melhor sobre como funciona o projeto, não deixe de assistir ao vídeo abaixo:

Esses cases são mais uma prova o poder de mudança que a inovação centrada nas pessoas têm de transformar realidades. E você, já inovou hoje? Que transformação a sua inovação tem causado na vida das pessoas? Boa reflexão…

admin_sdt

É empreendedora e educadora. Ela é cofundadora da ECHOS e suas unidades de negócios: Design Echos e Escola Design Thinking.

Ao longo dos últimos anos, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação no Brasil. Atua como líder em projetos de inovação nas áreas de saúde, construção, internet das coisas e outros. Como educadora, dissemina o conceito de inovação para o bem.

Em 2014 palestrou no Global Innovation Summit, em San José, Califórnia e, em 2015 foi jurada do primeiro prêmio William Drentel de design para impacto social e foi convidada a palestrar no TEDx Mauá.