Na era da informação que vivemos e da enxurrada de termos em inglês vazios, Design Thinking pode parecer mais um deles. Não! Apesar do nome estrangeiro, o Design Thinking representa, verdadeiramente, uma nova forma abordar problemas e gerar soluções a partir da visão do design.
Jota Netto, também já chegou a questionar a validade do termo. Após três dias participando do curso Design Thinking Experience, Jota conta como foi ter uma experiência real de Design Thinking e como essa abordagem pode, realmente, gerar ideias inovadoras. Leia o depoimento na íntegra!
Nos dias 01, 02 e 03 de fevereiro participei do Curso de Design Thinking Experience realizado pela Escola de Design Thinking em São Paulo. E o bicho pegou pra mim!
Em paralelo ao curso li este excelente texto do Lessak que vale muito a pena conferir. Em verdade, compartilho bastante de sua visão e confesso ter ido meio com um pé atrás para um curso de algo que parecia a “gourmetização do design”.
Bem, valeu demais o curso e a queda dos meus pré-e-pífios-conceitos sobre o tema.
Sem mais, vamos ao que não é Design Thinking e tentar (des)construir um olhar assertivo sobre o tema.
1. Design Thinking não é uma mera especialização do design
Gráfico, produto, UX, moda, interiores, móveis, embalagens, nail, cake, sombrancelha, enfim! Agora é este tal de “thinking”…
…Foi assim que eu julguei a matéria em meados de 2012 quando me deparei pela primeira vez com o termo design thinking ao saber que seria realizada uma edição do Service Jam em Belém (saiba mais sobre o Global Service Jam), na qual nem pude participar diga-se de passagem.
Mas foi em 2014, entre junho e setembro, depois de ler alguns livros, dentre eles “Design de Negócios” de Roger L. Martin, e seu inexorável subtítulo ‘por que o design thinking se tornará a próxima vantagem competitiva dos negócios e como se beneficiar disso”, que realmente eu me atentei para o que estava acontecendo no mundo, no mercado e com a profissão de designer a qual eu estava a um tempo afastado.
À época, lembro-me ter pensado: “Putz! apertaram a tecla “atualizar” na profissão de designer. E agora?”
A constatação foi tão profunda e impactante que decidi, meses depois, deixar a empresa que havia fundado e que seguia o caminho de consultoria em gestão de marketing e empreendedorismo, para retornar ao design; não aquele “design” que havia estudado e praticado pós universidade: cheio de mimimi contra micreiros, em busca de regulamentação , quanto cobrar do cliente, discutindo sobre tipografia e sobre a existência ou não da famigereda “logomarca”.
Retornava a algo maior, mais relevante para as pessoas e interdisciplinar por essência. E, ao que parecia, mais que uma mera especialidade do design, já que envolvia, direta ou indiretamente, todas as outras. Os meses e algumas tentativas de aplicar os conceitos e ferramentas de Design Thinking passaram e eu cheguei até o dito curso sobre o tema.
“Nada mais prático que uma boa teoria”
Escola Design Thinking
No curso, pude comprovar que um designer não pode adotar o Design Thinking como uma especialização verticalizada de sua formação. Pois em um processo com essa abordagem, o designer não se aprofundará em temas de sua área como: teoria das cores, gestalt, tipografia, desenho técnico, técnicas de representação bi e tridimensional, materiais, usabilidade em interfaces, entre outros.
Não obstante, ao se permitir adentrar nesses caminhos, qualquer designer se depara com a oportunidade premente de evoluir sua capacidade de percepção e entendimento do usuário e mais, acaba por estimular sua capacidade de atuação interdisciplinar inerente à sua profissão e, consequentemente, ao Design Thinking.
Portanto, DT não é uma mera especialização do design e sim uma especialização e tanto para o designer.
2. Design Thinking não é uma técnica que faz as pessoas voltarem a ser crianças
Tudo beleza quanto ao que é Design Thinking, comecei então a perceber a recorrência do tema em blogs, reportagens, livros e até na fala dos profissionais que eu acompanhava, todavia, eu ainda carecia de algumas evidências visuais da prática dessa, para mim, novidade tão relevante que ocorrera no design.
Como será que os designers thinking ou design thinkers colocavam isso em prática?
Foi na busca dessa resposta que devorei sites e livros sobre o assunto me deparando inúmeras vezes com os post-its, Lego, brinquedos dos mais variados (massa de modelar, bonecos, miniaturas de eletrodomésticos, etc), chapéus, fantasias, máscaras… Mas que m*rda era essa? – indaguei. E foi na Escola de Design Thinking que encaixei a teoria à prática ou seria à prática à teoria?
Ah! Esquece!
“Em todo homem adulto esconde-se uma criança louca para brincar”
Friedrich Nietzsch
O caso é que o design thinking lida com a matéria mais incrível do universo (na minha opinião): as ideias. E, por esta condição essencial não se pode restringi-lo aos designers, nem praticá-lo sem adentrar os filamentos multicoloridos, oníricos, etéreos e variáveis que constituem a criatividade. Isso mesmo, esse modelo mental versa e muito sobre como usar essa habilidade inerente ao ser humano, a criatividade, para criar coisas relevantes para os próprios seres humanos. E não se faz isso sem abandonar a realidade adulta e sem graça que vivemos!
Ora, quer caminho melhor para estimular a criatividade do que colocar uma massa de modelar no meio da mesa? Ou quem sabe um Lego cheio de peças coloridas e divertidas? Ou ainda, reunir pessoas de inúmeras formações, vivências, opiniões? Pois então, é por isso que uma sessão ou um processo inteiro de design thinking que se preze, certamente, contará com este universo lúdico de “ferramentas” criativas, verdadeiros “instrumentos” capazes de auxiliar os participantes a prototipar suas ideias, estimulando o espírito inventivo que nos habita.
Viva a criança louca em cada um de nós!
3. Design Thinking não é a modinha que poderá salvar o marketing como conhecíamos
Não sei se você está por dentro do fato que o marketing como o conhecíamos no século XX está em plena mutação, deteriorando gigantes de mercado como jornais, revistas e, dizem as más línguas, a própria TV. Em verdade, todos os setores da economia estão se deparando com mudanças bruscas no comportamento de seus clientes e nas formas de se comunicar com eles. Isto, invariavelmente, tem acarretado uma total modificação de enfoque da gestão e das ações que compõem o marketing contemporâneo, ou melhor, pós-digital.
A lógica PESQUISA >> SEGMENTOS DE CLIENTE >> COMUNICAÇÃO/PERSUASÃO = CONSUMO se mostra cara e pouco efetiva em um longo prazo, sendo substituída aos poucos pela OBSERVAÇÃO/EMPATIA >> ENTENDIMENTO DO USUÁRIO >> COMUNICAÇÃO/RELEVÂNCIA = ESCOLHA.
Já mencionei esta mudança de paradigma em outra publicação que trata sobre a série Mad Men e sua relação com os dias atuais da comunicação, do marketing e do consumo (Mad Men, Mad People, Mad World). Não esqueça de dá uma olhada depois de ler esta aqui;)
Pesquisas quali-quanti e do tipo focus group são métodos estatísticos aplicados na publicidade desde os anos 1960, como mostrado na série dirigida por Matthew Weiner, e não deverão ser extintos tão cedo, embora a definição de perfis generalistas de fatias da população seja uma prática cada vez mais questionável, principalmente em tempos de customização máxima de produtos e serviços, sem contar a efemeridade de escolhas, gostos e certezas das pessoas dessa era pós-digital.
De encontro a esta abordagem, o Design Thinking coloca o ser humano no centro do processo. Em uma leitura superficial, qualquer crítico menos atento poderia alegar que esta abordagem não passa de uma mera adaptação dos tradicionais processos de pesquisa que buscam mapear os desejos e preferências dos consumidores, visando desenvolver e vender produtos e serviços a eles.
Foi o que eu pensei também e me dei mal!
Tal raciocínio não se aplica à abordagem proposta pelo Design Thinking. Nas etapas convergentes do processo, como a de Entendimento e definição do Ponto de Vista, por exemplo, a busca por fatos e insights foge completamente a visão mercadológica de tentar encontrar produtos e serviços passíveis de serem vendidos aos clientes.
Percebi isso a partir de contribuições primorosas dos facilitadores da Escola de Design Thinking; na ocasião, pude na prática compreender o que é empatia e a buscar não antecipar soluções antes mesmo de aprofundar-me no quesito pessoas e no que realmente importa para elas.
Não adianta entrar em um processo de design thinking sendo lobo em pele de cordeiro! Ou nos interessamos legitima e detidamente nas pessoas, seus comportamentos, anseios e aspirações, ou passamos a assumir um papel teatral e ridículo de “exploradores criativos” das oportunidades de consumo alheio.
O marketing está mudando, mas ele ainda versará sobre trocas e transações por um bom tempo, tenho certeza disso. O design thinking, sem dúvidas, é abordagem das mais efetivas para lidar com a inovação e com as mudanças que a sociedade atravessa neste início da era pós-digital. Aliar um ao outro é inevitável. Deturpar um pelo outro é que se mostra insustentável.
Digo isso exercendo a máxima capacidade de interseção entre uma visão analítica e uma visão intuitiva, tal qual se espera do Design Thinking. Conduzir processos, por vezes, demorados e custosos, primando pela colaboração, empatia e experimentação que lhe são valores indispensáveis, almejando meramente lançar novos produtos e serviços totalmente suscetíveis de cópia e defasagem em um tempo absurdamente curto, é injustificável!
Sei que posso estar sendo romântico, mas “isto tudo” tem que ser por algo a mais! Por uma causa realmente relevante.
“Novos mapas para um novo mundo”, “Foco no ser humano” e “Fato H” hão de ser mais do que bordões… hão de ser ensejos a um novo modelo mental… eu creio nisso.
4. DT não é a última bolacha ou biscoito do pacote
Segundo Roger Martin, citando Tim Brown, “design thinking é uma disciplina que usa a sensibilidade e os métodos do designer para suprir as necessidades das pessoas com o que é tecnologicamente factível, e recorre ao que uma estratégia de negócios viável pode converter em valor para o cliente e oportunidade de mercado.”, não compreendia nada disso até ir para a prática no curso de Design Thinking Experience…
…Confesso ainda não saber se sei, mas sei que o que eu sabia ficou para trás! Confuso? Enrolou? Bem, isto que dá ser inteligente! E quem diz isso não sou eu heim…
“Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar.”
Immanuel Kant
Encerro esta minha passagem por São Paulo e, especialmente, pela Escola de Design Thinking com uma forte propensão a adotar um novo modelo mental em minha carreira, tanto para ver, quanto para seguir por esse mundo “louco” de meu Deus.
Não saio vislumbrado, pelo contrário, até me sinto em dúvida, muitas dúvidas por sinal!
Que bom!
Se havia algum interesse na certeza, o fracasso se fez. Mas se o intuito era desnudar novas questões por trás das que me trouxeram até aqui, então congratulo a todos os empáticos, colaborativos e experimentadores facilitadores da Escola de Design Thinking.
Provavelmente outras teorias, outras abordagens e desafios hão de surgir nesse mundo acelerado e cada vez mais em transformação que vivemos. Que o Design Thinkin nos seja útil para saudar “O Novo” até quando nosso mindset não expirar sua última versão. Mas sem crise! Quando esse dia chegar, tenho a certeza que vocês estarão aptos a continuar inovando com foco no ser humano.
Muito obrigado pela convivência e vivência do modelo mental proposto pelo design thinking. Espero me juntar a vocês qualquer dia desses.
Será?
Viventes, quem viver verá. Até a próxima.
Acreditamos que assim como o Jota, o curso Design Thinking Experience, é o melhor jeito para qualquer pessoa se desapegar dos caminhos tradicionais, ABRIR A MENTE para praticar uma abordagem CENTRADA NO SER HUMANO e mudar seu jeito de inovar. Em apenas 3 dias, você conseguirá se apropriar desse modelo mental e criar soluções inovadoras em qualquer contexto ou desafio que enfrente. Clique aqui para saber como participar da próxima turma!
*Texto originalmente publicado no Linkedin em: https://www.linkedin.com/pulse/o-que-não-é-design-thinking-jacinto-netto.
**O “Jota”, é designer e marketólogo, como manda o figurino. Já para os que preferem o cosmos como limite, ele se define meramente como um livre pensador e vivente contumaz. Atua com inovação e empreendedorismo em projetos do setor comercial, público e não governamental. Acredita que inovação é coisa pra gente intrépida, 8 ou 80. Atualmente é sócio-diretor da agência Libra Design (PA) e escreve semanalmente sobre coisas de que gosta e acredita em seu LinkedIn. Para conhecer sobre o que o Jota faz, acesse http://bit.ly/1RNxKNJ.