Era quarta-feira a noite. Dia de futebol na TV e portanto, dia de assistir pela 7a vez a última temporada de Breaking Bad. Mas um convite inusitado surgiu: passar pela experiência de uma aula aberta sobre Design Thinking. Aceitei a proposta, afinal, apesar de associar o termo com inovação, muitos post-its coloridos e isso me fascinar, confesso que a definição mais usual sobre Design Thinking ainda não entrava na minha cabeça. Preparei meu caderninho e espírito para 3 horas de palestra, mas tudo naquela noite prometia ser diferente…

Design Thinking: da teoria a pratica (ou seria melhor da prática a teoria?)

Quando vamos a uma palestra, logo vem a nossa cabeça um palestrante renomado expondo para todos na sala tudo que ele sabe sobre determinando tema. E você fica torcendo para conseguir entender e aprender pelo menos um pouquinho do que está sendo tratado.

Foi então que tive a primeira surpresa: eu não estava ali só para entender o conceito na teoria. O objetivo era aprender experimentando. Essa é uma das leis dessa abordagem e nada mais coerente do que aprender o processo passando por ele. Lápis e caderno aposentados, a ordem é utilizar a empatia como ferramenta principal – se colocar no lugar do outro e entender suas reais necessidades também fazem parte das premissas deste processo que eu estava começando a desvendar.

Um problema e dezenas de visões

A segunda surpresa da noite foi constatar que além de derrubarem o modelo professor-aluno, minha classe também não era nada tradicional. Esperava encontrar por lá pessoas com um perfil similar: indivíduos entre seus 25 e 35 anos que estavam, assim como eu, curiosas para entender o que é esse tal de Design Thinking. Mas o que eu encontrei foi um grupo de aproximadamente 40 pessoas que variavam entre 15 (!) e 60 anos. Entre eles, arquitetos, bancários, designers, administradores, publicitários (como eu) e com certeza várias outras profissões que nem tive a oportunidade de saber.

Quando o brainstorming virou uma chuva de ideias

Com um perfil tão multidisciplinar e um único desafio proposto – “Como criar oportunidades de negócio na crise?” – começou a “chover ideias”. Esta expressão pode parecer que nada mais é do que a tradução literal para brainstorming. Mas a verdade é que todo mundo apenas acha que utiliza esta técnica. Com a banalização do termo, algumas premissas básicas do processo estavam sendo esquecidas, inclusive por mim. Terceira surpresa: eu, que sempre fiz brainstormings para tudo (desde organizar minha festa de aniversário até para ter ideias brilhantes no trabalho) estava fazendo isso errado.

No Design Thinking o brainstorming acontece para abrir as possibilidades de soluções para um desafio proposto.

Algumas regras simples devem ser seguidas:

  • “Não é hora de dizer não.” Toda e qualquer ideia é bem vinda
  • “Crie em cima.” Utilize as ideias dos outros para complementar com uma sua.
  • “Espalhe, espalhe, espalhe, agrupe, agrupe, agrupe”. Parecem surgir milhões de ideias, mas depois é possível agrupá-las e encontrar um sentido que resume e norteia toda a solução.

A primeira vista, estas dicas por serem tão simples podem parecer não fazer tanta diferença no processo. Mas é por isso que esta é uma experiência para ser vivida na prática! Eu vivi e prometo: você vai se surpreender com o que um grupo diverso consegue criar em só 15 minutos seguindo apenas 3 regras.

Como saber o que o seu cliente está pensando? Pergunte a ele.

Com a nossa grande e brilhante ideia pensada – ou pelo menos a gente acreditava nisso – era hora de testar e ir pra rua (ou pra mesa do lado mesmo, já que não tínhamos muito tempo) e entender se a nossa solução realmente fazia sentido. Na nossa cabeça, não existiam dúvidas que estávamos no caminho certo.

Inocência! Foi então que tive a quarta surpresa da noite: uma das nossas hipóteses mais fortes foi derrubada. E então aprendi que no Design Thinking não existem soluções prontas nem verdades absolutas. É preciso entender qual a real necessidade do seu público e para isso, calçar seus sapatos.

Um lição tão simples que talvez por isso tenhamos o costume de deixá-la de lado.

Pare a leitura pra fazer o exercício de quantas vezes, no último mês, você perguntou ao seu cliente o que ele pensa ou sente em relação ao seu produto ou serviço.

Quando minhas mãos pensaram

Após entender o que de fato importava para o nosso público na solução que havíamos pensado, chegou a hora de prototipar a nossa solução. Uma ordem nesse processo: não poderíamos focar em desenhos ou textos. Eu logo pensei: ferrou! Com um acervo de coisas legais disponíveis na sala do curso, que iam de lego a soldadinhos de plástico, além de máscaras e botões, essa noite me surpreendeu, se é que é possível, pela quinta vez: faz sentido voltar a ser criança!

Em ambientes corporativos dificilmente você tem a possibilidade de participar de processos de inovação que te permitem brincar. No máximo utilizamos post-its coloridos e acreditamos que estamos saindo da caixa.

Mas nesta experiência a brincadeira foi séria. Prototipar a sua solução de maneira simples, mas lúdica, permite que ao apresentar novamente a solução ao seu público, seja possível captar sensações reais durante a utilização. Algo que um post it, mesmo sendo rosa fosforescente, jamais conseguirá te entregar.

Uma noite de descobertas, aprendizados e, sobretudo, surpresas. Algo que despertou em mim uma vontade de saber mais e entender como essa abordagem  se transforma em minha maneira natural de encarar problemas e encontrar soluções.

Se você leu até aqui, provavelmente deva estar curioso também para experimentar o Design Thinking na prática. A boa notícia é que na Escola de Design Thinking desenvolveu um ebook gratuito sobre o tema. Você pode baixá-lo, acessando AQUI.

Aproveite! E lembre-se de esquecer suas certezas em casa. 😉

 


Ana Luísa Gomide é coordenadora de comunicação e marketing da Echos, publicitária e apaixonada por perceber o impacto de seus projetos e trabalho na vida das pessoas. Ama o carnaval  mais que chocolate e cerveja gelada e acredita que felicidade nada mais é do que alinhamento de expectativas.

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.