Acredito que você já tenha ouvido falar ou estado em algum projeto ou ainda que tenha criado uma ideia inovadora que estava pronta para deslanchar, mas que ao final não saiu do papel.
Há muitas inovações e ideias circulando dentro das organizações que no entanto acabam morrendo. Desde que começamos a empreender com a Echos em 2011 aqui no Brasil, essa sempre foi uma questão que guiou nosso caminho. Por que projetos ou empreendimentos não se tornam realidade? E, principalmente, como podemos ajudar organizações a serem inovadoras de dentro para fora e não de fora para dentro?
Explico. Normalmente, as organizações tendem a começar olhando para fora em busca de inovação. O que significa fazer o tradicional benchmark, procurando o que os seus competidores andam fazendo – como fazer uma visita ao Vale do Silício. Há apenas um senso de que é preciso fazer algo diferente. Nesse modelo mental, o diferente assume uma perspectiva de que é preciso encontrar algo inédito, mas que seja acoplável ao que já se faz.
Geralmente, as empresas começam promovendo hackathons, startup weekends e também a investir em seus próprios programas de aceleração ou incubação de novos negócios. Convidam empreendedores novatos e especialistas a desenvolverem ideias conectadas ao negócio principal da empresa.
Em geral, o que acontece é que os empreendedores e as grandes companhias não se entendem. As empresas têm todos os recursos disponíveis como dinheiro, força de comunicação, canais de distribuição e base de clientes, à exceção de um recurso essencial nos dias de hoje: velocidade. A grande vantagem competitiva que as chamadas startups possuem é velocidade. Nas demais, acabam perdendo para as grandes empresas.
Status e prestígio são os ativos mais importantes para uma corporação. Possuem estrutura, economia de escala e poder para persuadir as partes interessadas. Até governos. Sabemos que há companhias maiores e mais poderosas do que países.
Além disso, empresas já estabelecidas no mercado foram programadas para repetir perfeitamente seus processos com o objetivo claro de obter a máxima qualidade e performance. Porém, esse modus operandi que as levou ao sucesso no passado, não as fará prosperar no futuro.
Aliás, as iniciativas de fora para dentro são ótimas para obter diferentes formas de inovação, mas são insuficientes para uma grande organização. Trata-se apenas do primeiro passo para persuadir os colaboradores de que há novas formas de fazer as coisas. No fundo, funcionam como uma abordagem inspiracional.
As empresas precisam também buscar a inovação de dentro para fora para que sejam bem sucedidas daqui em diante. Seus processos são tanto a causa do fracasso como um caminho para gerar inovações que tenham êxito.
O que significa, afinal, inovações de dentro para fora?
Se empresas e governos desejam inovar, a primeira ação é mudar o modelo mental. É preciso enxergar as coisas sob outra perspectiva. Como disse, os processos atuais são uma das principais razões para que as inovações não prosperem nas organizações.
Na Echos, acreditamos que a inovação apenas acontece a partir das pessoas.
Acreditamos que as pessoas precisam vivenciar as novas formas de pensar e fazer as coisas. Tudo isso em um espaço seguro e aberto ao erro.
No entanto, antes de começar a construir todo um departamento ou laboratório dentro da sua organização, pense em incentivar os colaboradores a experimentarem nesses espaços seguros. Essa é uma estratégia de dentro para fora inteligente para que as pessoas se apropriem genuinamente de um modelo mental voltado à inovação.
Inseri-los em experiências em que possam criar, testar e errar sem julgamentos e fora do ambiente habitual de trabalho é uma ótima forma de inspirá-los. Contudo, caso deseje realmente inovar é preciso ir além e ter o apoio da equipe de recursos humanos e das lideranças responsáveis por desenvolver a cultura da organização. Sem esse alinhamento estratégico, será trabalhoso conseguir desenvolver uma cultura de fato de inovação. Até porque essas são as pessoas-chave que conhecem seus colaboradores, sabem o que querem e como fazê-lo. Entretanto, em alguns momentos são deixados de lado no planejamento estratégico da organização e este é um erro grave! Equipes de gestão de pessoas são fundamentais e aliadas na criação de uma cultura de inovação.
Outro ponto que gostaria de destacar é que, como costumamos dizer aos nossos clientes, “todos querem o milagre da inovação, mas ninguém quer se dispor a fazer a peregrinação”. O que é interessante, porque as empresas ficam 5, 10, 20 anos gastando energia e recursos para fazer as mesmas coisas, só otimizando a forma como entregam seus bens e serviços. É preciso ficar claro: inserir uma cultura de inovação não acontece da noite pro dia.
As empresas estão famintas por inovação ou têm a necessidade de inovar. Mas às vezes, apenas não sabem por onde começar. Normalmente, pensam que basta, de repente, jogar novas ideias no mercado. Mas esquecem que por anos se dedicaram a se tornar especialistas em entregar seus produtos e serviços. Com isso, causam uma inconformidade, uma dissonância no mercado, a qual é interpretada como uma anomalia do sistema.
Por isso, organizações que estão projetando novas soluções e entregando a partir dos seus canais de distribuição, ou seja tentando inovar, precisam começar a focar em pessoas ou em áreas específicas que poderiam ajudar a alavancar uma mudança sistêmica, evitando essa anomalia.
Essa é a minha principal preocupação quando se fala de departamento ou laboratório de inovação. Ao criar um departamento de inovação, estará igualando ou dizendo a todos na sua organização que a inovação é uma função do sistema e não um valor que está inserido nele. Acredito fielmente que a inovação é transdisciplinar. É para todos. É um estado mental, um estado de espírito, um comportamento. Representa uma forma de ver as coisas e sentí-las a partir de uma perspectiva diferente.
Diante disso, o primeiro passo em direção à inovação é desenvolver um novo modelo mental e novos conhecimentos que irão contribuir para criar novos comportamentos. Porém, novos comportamentos somente se tornam hábitos quando praticados constantemente. Novas habilidades somente vão emergir e serão aprimoradas, se as lideranças derem carta branca para que os colaboradores possam experimentar essas habilidades. Ao fazer isso, as empresas e, principalmente, as pessoas começarão a desenvolver soluções de fato inovadoras.