Na última década, o mercado imobiliário vivenciou as duas faces da mesma moeda: o período de ouro, acompanhado pela boa fase da economia e do crédito barato, que permitia com que praticamente qualquer lançamento fosse rapidamente absorvido pela demanda. E também a crise, especialmente após os eventos de 2008.

Desde então, o mercado tem amargado tempos difíceis. Não apenas por uma questão da retração econômica, mas também porque muito da crise que vivemos hoje se dá por um descompasso, um ruído entre o que as empresas estão querendo oferecer e o que realmente as pessoas querem.

Vivemos em tempos em que o significado de moradia está mudando. O ato de morar não depende apenas de uma construção. As pessoas cada vez mais se preocupam com o entorno, com o impacto da escolha de onde vão morar nos seus trabalhos, amizades e relacionamentos. Em paralelo, outras formas de se relacionar com a cidade estão surgindo.

Empresas do mercado imobiliário que conseguem perceber esses novos paradigmas e entregar soluções nesse contexto estão conseguindo oferecer valor para os seus clientes e, consequentemente, espantar a crise. A exemplo disso, está a Ideia1 Arquitetura, um escritório de projetos arquitetônicos localizado na cidade de Porto Alegre que oferece soluções inovadoras e a partir de um olhar humano.

Conversamos com Gabriel Grandó, arquiteto e co-fundador da Ideia1 sobre como arquitetura pode proporcionar soluções significativas e inovadoras para as pessoas, bem como a sinergia que o design thinking possui no desenvolvimento de um projeto de arquitetura.


1) Por que você decidiu ser/seguir a carreira de arquiteto? O que te motivou a seguir esse caminho? 

Aos 17 anos eu só tinha certeza sobre as carreiras que eu não queria seguir, que por exclusão eram todas as outras! Nunca havia tido contato com a área da construção, fui descobrindo o que era Arquitetura nos primeiros semestres da faculdade e continuo na busca por sua essência.

2) Como você enxerga o papel do arquiteto e o mercado de projetos na construção no futuro? Tem alguma pista do que pode acontecer?

A arquitetura é fascinante por ser uma arte utilitária: um equilíbrio constante entre criação e técnica. Quando falamos de técnica temos ciência de que as transformações tecnológicas irão gerar mudanças avassaladoras no modo como resolvemos tecnicamente as edificações hoje. A Internet das Coisas e o Big Data, por exemplo, influenciarão (ou resolverão) boa parte dos problemas técnicos arquitetônicos.

Sobrará mais tempo para evoluirmos na concepção: a percepção intuitiva, a conexão de duas ideias não correlatas para gerar novas possibilidades, a criação emotiva, o entendimento das necessidades psíquicas e dos desejos das pessoas. Mesmo essa etapa sendo também influenciada pelas novas tecnologias, onde houver necessidade de criação, a mente humana continuará sendo requisitada… eu espero!

3) Você é um dos sócio-fundadores da Ideia1 Arquitetura, um dos escritórios mais respeitados no mercado. Como vocês estão preparando a empresa para ser inovadora e relevante nos próximos anos?

Atuamos com muita intensidade na área da Arquitetura para o mercado imobiliário, onde a premissa é vender antes de construir. Para esta fórmula funcionar – uma família definir pela compra de um imóvel – muitas questões entram em jogo.

Após a euforia dos últimos anos nos quais tudo o que era colocado à venda era vendido, temos agora um consumidor muito mais receoso, exigente, e que não está apto a deslocar boa parte dos seus recursos em um imóvel qualquer. Repito: em um imóvel qualquer!

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IMAGEM: ESPLÊNDIO RESIDÊNCIAS, eleito este ano o melhor edifício residencial em altura na 13ª edição do Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa em São Paulo – projeto arquitetônico da Ideia1 Arquitetura.

Acredito que estamos fazendo parte de um movimento em fazer uma arquitetura realmente de qualidade e fazer sentido para as pessoas.

Somos também muito procurados por estarmos em constante análise e preocupação com o novo: as novas maneiras de consumo, as novas maneiras das pessoas se relacionarem entre si, com os vizinhos e com a cidade.

Tudo isto deve influenciar a arquitetura, que deve responder à altura destas necessidades, e se inspirar nelas para trazer novas experiências. Uma abordagem de metros quadrados, ticket e foco no que se vende rápido – basicamente os briefings que recebíamos – não é o suficiente, ao nosso ver, para determinar o caminho de um produto arquitetônico.

Essa visão humana da arquitetura tem feito bem também para o negócio: temos aumentado consistentemente nos últimos anos o faturamento e o número de contratos da Ideia1.

4) Você e a sua sócia, Cristina Martins, fizeram conosco o curso de Design de Serviços e o Design Thinking Experience, respectivamente. Como vocês estão incorporando o Design Thinking e o Design de Serviços no modo de trabalhar do escritório e como estão introduzindo esse conhecimento nos projetos que desenvolvem?

Somos uma empresa de Arquitetos Associados, onde todos são proprietários e tem participação no bônus e ônus das decisões. Esta concepção horizontal sempre permeou nosso estilo de projetar desde o início, quando éramos apenas 03 arquitetos há 12 anos.

Quando chegávamos em um impasse em determinado projeto, ao invés de ficarmos defendendo nosso próprio ponto de vista, chamávamos outros arquitetos ou professores da faculdade para dar uma opinião externa. Isto tudo antes de conhecermos o termo “processo colaborativo”. Nossos estagiários sempre tiveram a abertura para propor soluções de arquitetura como qualquer outro arquiteto: se a ideia era boa, adotávamos ela e seguíamos no seu desenvolvimento.

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IMAGEM: 1º OPEN OFFICE de Porto Alegre na sede da Ideia1 Arquitetura, em 2014.

Em 2014, quando fizemos 10 anos, começamos a repensar nosso propósito como empresa de arquitetura. Não precisávamos mais mostrar que éramos bons, que tínhamos portfolio. Poderíamos buscar nossa essência.

Fizemos o primeiro Open Office de uma empresa em Porto Alegre. Concluímos que não tínhamos um objetivo de arquitetura para alcançar: o que fazíamos era muito mais do que só arquitetura. Éramos questionadores por essência e que olhávamos sempre para o futuro. Criamos a plataforma ComoSeraoFuturo.com.br para expandir o conceito de que perguntas certas são muito mais importantes e esclarecedoras do que respostas fechadas e que nosso entendimento deveria extrapolar a esfera de projeto arquitetônico.

Assim, na Como Será o Futuro, as pessoas são convidadas a compartilhar suas visões a respeito do futuro a partir de 5 grandes temas: “morar”, “trabalhar”, “viver na cidade”, “conectar e compartilhar” e “consumir”.

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IMAGEM: plataforma colaborativa ComoSeraoFuturo.com.br.

Em relação aos cursos da Escola Design Thinking, a Cristina Martins, também fundadora na Ideia1 Arquitetura, foi a primeira a fazer, em 2015, o Design Thinking Experience aqui em Porto Alegre.

Na semana seguinte, a Cristina já estava replicando o que aprendeu. Fizemos um workshop interno na Ideia1 e vimos que a abordagem se encaixava perfeitamente em tudo que acreditamos. Acredito que até pela nossa essência e forma de trabalho, conseguimos adotar os conceitos e o modelo mental provindo do design thinking de forma muito natural e rapidamente o incorporamos aos processos de criação e concepção do escritório.

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IMAGEM: workshop interno Ideia1: Design Thinking, 2015

Este ano, em razão da excelente experiência que tivemos em aprender Design Thinking, fiz questão de fazer um curso diferente e em local diferente: fui à São Paulo para o Design de Serviços. Um curso que nos trouxe muitas ferramentas para conseguirmos enxergar e propor melhorias no nosso Customer Journey (Jornada do Cliente) e nos ajudou a pensar na experiência dos nossos usuários.

Se passamos 2 anos desenvolvendo um projeto (e recebendo por isso), e mais 3 anos com a incorporadora construindo a edificação, então nossos clientes são as incorporadoras, certo? Mas quem irá usar pelos próximos 50 anos as edificações que projetamos?

Entender que a principal entrega de valor está para o usuário final, aquele que irá utilizar o projeto, e pensar nele antes de qualquer decisão arquitetônica parece trivial. Mas para o mercado imobiliário é uma enorme inovação!

5) Você teria algum caso para nos contar de como o design thinking ou design de serviços foram utilizados na prática para criar um projeto arquitetônico? 

Recentemente,  a Ideia1 realizou um projeto de edifício em consultórios médicos e clínicas numa área central, um complexo multi-uso para o público da Cidade Baixa em Porto Alegre (um bairro equivalente à Vila Madalena em São Paulo), e uma edificação de alto padrão, próxima ao rio Guaíba, para um público que gosta da simplicidade de um estilo praiano.

Antes de iniciarmos os lançamentos iniciais de arquitetura, buscamos entender de fato quem iria morar lá. Fizemos extensa pesquisa com os principais atores, incluindo usuários fora da área da construção e ao final criamos as Personas, representando as características, sentimentos e dores dos futuros moradores.

Chamamos parceiros e contratamos freelancers de outras áreas para acrescentar ainda mais uma dose de dúvidas e questionamentos antes de reformularmos qual a pergunta que queríamos responder ao empreender em determinado terreno.

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IMAGEM: workshop interno Ideia1: Design de Serviços, 2016

Também vemos que algumas incorporadoras já nos procuram de forma muito aberta para escutar o que temos a dizer a respeito dos novos projetos.

Um exemplo foi uma demanda por uma pesquisa e definição conceitual de produto para 03 terrenos específicos que fomos contratados, onde o briefing era: não há briefing!

Elaboramos uma pesquisa online, ligamos para imobiliárias locais para entrevistarmos corretores como cliente-oculto e fizemos algumas entrevistas por telefone com algumas pessoas indicadas pela incorporadora como possíveis clientes. Com estas informações, realizamos todas as etapas de Design Thinking internamente na Ideia1, com um processo de criação em cima de dados externos e com foco no usuário final.

O resultado foram projetos muito ricos, extrapolando a mera edificação e com insights de comunicação, marketing e estratégias comerciais já pré-definidas por nós. Uma das ideias geradas era tão potente que resolvemos patenteá-la.

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IMAGEM: complexo multi-uso lançado pela Maiojama, sucesso de vendas em 2015. Projeto da Ideia1 em parceria com o escritório Smart.

Entendemos que os arquitetos têm o poder sim de estarem no comando do processo de um produto imobiliário, e com isso retomamos com muita força o que nós queremos: uma arquitetura que transforme nossas cidades e proporcione experiências mais humanas, conectadas e verdadeiras.

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É empreendedora e educadora. Ela é cofundadora da ECHOS e suas unidades de negócios: Design Echos e Escola Design Thinking.

Ao longo dos últimos anos, Juliana tem trabalhado para desenvolver um ecossistema de inovação no Brasil. Atua como líder em projetos de inovação nas áreas de saúde, construção, internet das coisas e outros. Como educadora, dissemina o conceito de inovação para o bem.

Em 2014 palestrou no Global Innovation Summit, em San José, Califórnia e, em 2015 foi jurada do primeiro prêmio William Drentel de design para impacto social e foi convidada a palestrar no TEDx Mauá.