O fato do mundo não ser estático é uma ideia muito poderosa que nos permite ser grandes e ousados para moldar e redesenhar o mundo em que queremos viver. O próprio capitalismo está se reinventando.
Apesar de ter servido como um excelente mecanismo de geração de riqueza e melhorado o padrão de vida de modo geral, no último século esteve fundamentalmente baseado em uma lógica de produção, interação e de geração de valor do ponto de vista de individual.
Porém, novos paradigmas estão emergindo, que propõem uma visão holística e humanizada da sociedade. Afinal, quando um sistema não consegue mais responder as questões e demandas de uma sociedade, ele muda. Novos negócios, organizações e sistemas estão surgindo exatamente que conectam a força que os negócios ao objetivo de oferecer soluções escaláveis e de alto e positivo impacto na sociedade.
É evidente que ao longo dos últimos 50 anos, o crescimento econômico global fez com que centenas de milhões de pessoas saíssem da pobreza, como também melhorou a vida de muitos.
No entanto, cada vez fica mais claro que o modelo de desenvolvimento baseado unicamente no progresso econômico é incompleto.
O crescimento econômico por si só não é suficiente. Uma sociedade que não consegue suprir as necessidades básicas, não consegue garantir oportunidades para seus cidadãos, restringe a liberdade deles e é intolerante e excludente, não é uma sociedade bem sucedida.
Essa é a conclusão do Índice do Progresso Social (SPI) 2016 produzido pela Social Progress Imperative e divulgado na semana passada.
O relatório mostra que a riqueza parece não ter eficácia no combate a problemas difíceis e menos tangíveis, como a intolerância e a exclusão social. Também revela que um país rico economicamente não garante, necessariamente, uma maior qualidade de vida para os seus cidadãos.
O presidente global da Deloitte, David Cruickshank, considera que países, empresas e consumidores podem aprender muito com este índice, porque possibilita avaliar pontos fortes e fracos de um país. (Crédito: Deloitte)
O SPI faz o ranking de 133 países de acordo com o seu progresso social, mostrando um quadro completo e robusto do desempenho social e ambiental destes países, em três dimensões:
1- Necessidades Humanas Básicas: avalia o quão bem um país atende as necessidades essenciais do seu povo através do acesso à alimentação e aos cuidados de saúde básicos, como também a disponibilidade de água potável, acesso à moradia adequada com serviços básicos, e se a sociedade tem segurança.
2- Bases para o Bem-Estar: mensura se os cidadãos têm acesso à educação básica, informação e conhecimento, tanto dentro como fora do seu país, e se existem condições para uma vida saudável. Também mede a proteção do país em relação ao seu ambiente natural: ar, água e terra, que são fundamentais para o bem-estar atual e futuro.
3- Oportunidades: mede o grau em que os cidadãos de um país têm direitos e liberdades pessoais, se eles são capazes de tomar suas próprias decisões, e se há preconceitos ou hostilidades dentro da sociedade, proibindo os indivíduos de alcançarem o seu potencial.
Ranking dos países
No SPI 2016, a Finlândia foi coroada como o país com o melhor desempenho no atendimento às necessidades sociais e ambientais de seus cidadãos, com um escore de 90,09, seguida pelo Canadá, Dinamarca,Austrália e Suíça.
Enquanto os escores de progresso social desses 5 países são muito semelhantes, o PIB per capita varia bastante. A Finlândia, na realidade, tem o menor PIB per capita dos top 5, com US$ 38.535, enquanto a Suíça tem o maior (US$ 55.260).
O Brasil ocupa o 46º lugar, com escore de 71,70. Está abaixo do Kuwait e da Jamaica e à frente dos países que compõe os BRICS no ranking global. Nosso país tem os seguintes escores nas três dimensões do SPI: Necessidades Humanas Básicas (75.90); Bases para o Bem-Estar (77,65) e Oportunidades (61,55).
A República Centro-Africano, que durante décadas foi marcada por violência, expondo profundas rivalidades étnicas, políticas e sectárias, ficou em último lugar, logo abaixo do Afeganistão.
O SPI também mostrou que há uma baixa correlação entre os escores do índice dos países e a desigualdade de renda. Por exemplo, Gana e Nigériatêm o mesmo nível de desigualdade de renda, mas ocupam posições notavelmente diferentes no índice. Gana ocupa o 92º lugar enquanto a Nigéria ocupa o 119º.
O mundo como um todo melhorou ligeiramente a sua pontuação no progresso social. O melhor desempenho foi em Alimentação & Cuidados Médicos Básicos (88.63) e Acesso a Conhecimentos Básicos (85.03), em parte devido ao foco nessas duas áreas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. As piores pontuações ficaram em Direitos Pessoais (39.15) e Tolerância e Inclusão (40,59).
O gráfico acima mostra o SPI comparado ao estado de fragilidade dos países. O Brasil está classificado em “baixa advertência”.
Iniciado em 2014, o Índice de Progresso Social é o primeiro panorama global de progresso social, que é independente do PIB, porém complementar. O gráfico acima mostra a posição dos países em relação ao PSI versus PIB per capita. O Brasil está circulado em vermelho.
O futuro para uma sociedade bem sucedida
À medida que o mundo enfrenta desafios cada vez mais complexos, o SPI serve como um roteiro que pode orientar políticas de investimentos e decisões de negócios.
De fato, o Índice fornece uma base sistemática para orientar líderes de governo, empresas e sociedade civil, em estratégias para o crescimento inclusivo. Empresas que atuam globalmente também se interessam fortemente pelo SPI, já que a abundância de dados ajuda na tomada de decisões quando pretendem fazem negócios com outros países.
No entanto, uma das principais conclusões sobre o SPI é que devemos expandir a nossa compreensão do que seja uma sociedade bem sucedida para além dos resultados econômicos. O crescimento inclusivo exige a realização de progressos, tanto econômicos quanto sociais.
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