A Times Square começa na Rua 42, entre a loja H&M e a Walgreens, indo sentido norte por mais 5 quadras. Estive ali há 5 dias e me deparei com um letreiro luminoso amarelo canário do Spectacles by Snap (óculos que tiram fotos e que podem ser postadas posteriormente na plataforma Snapchat). Achei o anúncio mais colossal do que nunca, porém notei que o espaço havia mudado desde a minha última visita.

O movimento mimético característicos de nova-iorquinos e turistas de tirarem selfies ali havia diminuído. A Times Square parecia espaçosa. Era possível vagar por ali, olhar ao redor e respirar.
Hoje, a Times Square celebra seis anos completos desde quando foi transformada de um congestionado espaço de passagem para uma praça ao estilo europeu. “Duvidamos da capacidade do espaço de abrigar pedestres”, diz Craig Dykers, co-fundador do escritório de arquitetura Snøhetta.
Reformar o Crossroads of the World (primeiro shopping a céu aberto dos Estados Unidos, localizado em Los Angeles) iniciou uma tendência para que as cidades no mundo todo começassem a criar mais espaços amigáveis para pedestres, favorecendo pessoas em detrimento aos carros.

Foto por Michael Grimm

O conceito minimalista da Snøhetta venceu o concurso para reformular a mais famosa atração nova-iorquina e ajudará a região a prosperar nos próximos anos. Assim como as melhores praças públicas do mundo (como Trafalgar Square em Londres ou a Piazza del Campo em Siena, Itália), a nova Times Square será moldada pelas pessoas que a usam – e não o contrário. “A praça é o espaço público mais diversificado, multi-uso, dinâmico e maleável que podemos ter”, afirma Fred Kent, fundador da Projetos para Espaços Públicos.
Urbanistas chamam essa abordagem de placemaking (processo de desenho colaborativo de espaços públicos que levam em conta os desejos, interesses e necessidades das comunidades locais – o especialista é comunidade) requer humildade. Foque apenas da estética e você irá criar algo que as pessoas irão sempre culpar o arquiteto. Foque no placemaking, como o Project for Public Spaces tem feito há 40 anos, e você terá um canvas em branco para incorporar os interesses da comunidade. A nova Times Square faz exatamente isso.
“Snøhetta fez um bom trabalho, porque ele não tentou fazer tudo sozinho”, diz Kent.

Snøhetta modelou e observou a movimentação dos pedestres e onde eles se reúnem no quadrilátero. Para que os pedestres pudessem circular fluidamente, Snøhetta colocou bancos indo de norte a sul ao longo da Broadway, colocando-os em paralelos para que parecerem cômodos. A empresa também expandiu a faixa de pedestres para 40 feet de largura, para evitar que as pessoas se aglomerem nos cantos. Foto: Snøhetta

Uma coisa crucial o escritório de arquitetura Snøhetta fez: projetou 5 tipos diferentes de bancos e os instalou ao longo da praça. Alguns são longas peças de concreto. Outros possuem cantos. Cada um estimula uma variedade de posições ao sentar. Na manhã em que estive ali, Dykers me mostrou com as pessoas se aglutinavam em torno dos bancos ou como elas deitam neles. Isso cria um espaço mais comunitário do que quando os grupos que se formam em torno das mesas metálicas de piquenique e das cadeiras próximas.

Mais importante ainda é que instalaram tomadas capazes de fornecer energia para tudo, desde amplificadores de guitarra dos artistas de rua até performances musicais do mesmo nível que vemos na Broadway.

Tal flexibilidade é importante para a programação cultural da cidade. “Uma das metáforas usada no processo de design foi a de que a Broadway e a Times Square são um palco de teatro em constante mudança”, diz Tim Tompkins, presidente da Aliança da Times Square, o qual ainda acrescenta que artistas de rua irão compor o cenário cultural no futuro. “O objetivo é que a Times Square e as praças sirvam como uma espécie de hub cultural, refletindo o talento cultural e criativo da cidade”.

Para se atingir isso, a Aliança precisa deixar que nova-iorquinos e turistas escolham como se apropriar do novo espaço.
Essa ideia foi o que, em primeiro lugar, forneceu o impulso necessário para repaginar a Times Square. Dez ano atrás, um quiosque de venda de ingressos com desconto da Broadway ficava em um pedaço de terreno abaixo da Rua 47. “Ficava sempre muito cheio com pessoas querendo comprar os ingressos”. Tomkins relata. “Mas não era um espaço público”.

“A Aliança conseguiu instalar assentos típicos de anfiteatros acima do quiosque, apesar de estarem céticos quanto a isso, já que poderia lembrar os tempos degradados da Times Square, bem como atrair prostitutas e moradores de rua. Porém, seus medos caíram por terra. “No momento em que as escadarias foram construídas, se tornaram uma experiência positiva”, diz Tompkins. As pessoas imediatamente fizeram desse novo espaço um ponto de encontro e um lugar da onde é possível assistir à divertida loucura que é a Times Square.

Snøhetta projetou 5 tipos diferentes de bancos e os instalou ao longo da praça. Alguns são longas peças de concreto. Outros possuem cantos. Cada um estimula uma variedade de posições ao sentar. Foto: Snøhetta

Agora o resto da Times Square oferece uma página em branco para que a comunidade possa se expressar, algo que sempre leva a moradores mais saudáveis e felizes. Em breve a Aliança da Times Square terá novidades sobre a possibilidade de se vender comida ali e sobre alguns desenhos de mobiliário público que parecem mais um parque de diversão. No entanto, em sua maior parte, a nova Times Square é um grande espaço aberto. Ninguém sabe no que ela irá se tornar. E esse é o ponto.

Este artigo é uma tradução livre do artigo The Brilliant Simplicity of New York’s New Times Square de autoria de Margaret Rhodes e foi publicado originalmente no portal Wired em 19.04.2017.

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.