O que torna distinta a reputação de Elon Musk como empreendedor é que qualquer empreendimento que ele assuma vem de uma visão clara e inspiradora do futuro das nossas espécies.

Não há muito tempo, Musk anunciou uma nova empresa, a Neuralink, com o objetivo de unir a mente humana à Inteligência Artificial (IA). Considerando o histórico de Musk em conseguir realizar o que aparentemente era impossível, o mundo deveria prestar muita atenção quando ele diz que quer conectar nossos cérebros aos computadores.

A Neuralink está formalmente registrada como uma companhia médica na Califórnia. Ainda que os detalhes não tenham sido anunciados, a empresa está tentando criar uma espécie de tecido neural, que, na prática, seria uma interface cérebro e máquina a ser implantada diretamente em nossos cérebros com a capacidade de monitorá-los e – mais importante – melhorá-los.

No curto prazo, essa tecnologia tem tido aplicações médicas e é utilizada no tratamento de paralisias e doenças como o Mal de Parkinson. Nas próximas décadas, no entanto, poderia nos permitir aumentar exponencialmente nossas habilidades mentais ou até mesmo mapear digitalmente a consciência humana. Fundamentalmente, representa um passo à frente na convergência entre Homens e máquinas e, talvez, possibilitar um salto na evolução humana – nos ajudando a resolver diversos desafios atuais.

O atual estágio da pesquisa

Musk não é a primeira pessoa que está em busca de conectar nosso cérebro a máquinas. Outro empreendedor da área de tecnologia, Bryan Johnson, fundou a startup Kernel em 2016 para também desenvolver interfaces entre cérebro e máquina. Do mesmo modo, nos últimos anos, a comunidade científica também tem evoluído nesse sentido.

No começo deste mês, pesquisadores suíços anunciaram que primatas diagnosticados com paralisia poderiam voltar a andar com a assistência de um sistema neuroprotético. E a CNN relatou que um homem paralítico dos ombros para baixo reconquistou os movimentos da mão direita com uma interface cérebro-máquina.

Nos últimos anos têm acontecido desenvolvimentos notáveis para essas interfaces tanto no que concerne a parte de software quanto de hardware. Especialistas estão projetando eletrodos cada vez mais intrincados enquanto programam melhores algoritmos para interpretar os sinais neurais. Os cientistas já conseguiram fazer com que pacientes paralíticos digitassem com suas próprias mentes e ainda que os cérebros desses pacientes pudessem comunicar entre si somente por ondas neurais. Até o momento, a maioria dessas aplicações bem sucedidas estão relacionadas a controle motor ou comunicação bastante primitivas em indivíduos com danos cerebrais.

O que significa dizer, portanto, que ainda há muitos desafios no desenvolvimento das BMI (Brain-Machine Interfaces ou ICM – Interface Cérebro-Máquina).

Por exemplo, a mais poderosa e precisa BMI só pode ser implementada por meio de uma cirurgia invasiva. Outro desafio é implementar algoritmos robustos que podem interpretar interações complexas de um cérebro com 86 bilhões de neurônios. A maior parte do progresso tem sido feito baseado em uma direção única: do cérebro para a máquina.

Ainda é preciso desenvolver BMI que possa nos prover com informações sensoriais ou nos permitir sentir a experiência subjetiva das sensações táteis como o toque, temperatura e dor (Apesar já existir alguma evolução nesse sentido possibilitando que pacientes que tenham essas próteses readquiram a sensação do tato).

Também há um grande desafio no que tange ao entendimento do funcionamento do cérebro, visto que se encontra em estágio inicial. Um longo caminho precisa ser percorrido para que entendamos plenamente o como e onde diversas funções como cognição, percepção, estado de alerta surgem. Para melhorar ou integrar os dispositivos a essas funções, é preciso entender as suas bases físicas. Projetar interfaces que possam comunicar com neurônios individuais e, de maneira segura, integrá-los às redes biológicas existentes requer um enorme esforço de inovação na área médica.

Vale ressaltar que essas tecnologias estão rapidamente avançando.

A ascensão dos ciborgues

Hollywood geralmente representam o futuro de uma forma distópica onde máquinas e humanos estão em guerra. Porém, futuro que estamos caminhando na verdade parece caminhar para a convergência entre homem e máquina.

Em diversos pontos, já somos ciborgues.

Futuristas como Jason Silva apontam que nossos dispositivos são uma forma abstrata da interface homem-máquina. Usamos os smartphones para armazenar e recuperar informações, realizar contas e comunicar com outras pessoas. De acordo com a teoria da mente estendida dos filósofos Andy Clark e David Chalmers, utilizamos a tecnologia para expandir as fronteiras da mente humana além dos nossos crânios. Usamos ferramentas como machine learning para aumentar nossas habilidades cognitivas ou poderosos telescópios para aumentar nosso alcance visual. A tecnologia se tornou parte do nosso esqueleto, permitindo-nos ir além das nossas limitações.

Musk já pontuou que a fusão entre as inteligências biológica e das máquinas pode também ser necessária se quisermos nos manter “economicamente produtivos”. As BMIs poderiam permitir a melhor aproveitar os benefícios do avanço da inteligência artificial. Com o aumento da automação dos trabalhos, essa poderia ser uma forma de acompanharmos as máquinas que desempenham tarefas de maneira eficiente do que os humanos conseguem.

Technologist Ray Kurzweil believes that by 2030s we will connect the neocortex of our brains to the cloud via nanobots. He points out that the neocortex is the source of all “beauty, love and creativity and intelligence in the world.” Notably, due to his predictive accuracy, Kurzweil has been referred to by Bill Gates and others as the best predictor of future technologies.

O tecnologista Ray Kurzweil acredita que por volta da década de 2030 estaremos aptos a conectar o neocortex do nosso cérebro à nuvem por meio de nanobots. Ele coloca que o neocortex é a fonte de toda “beleza, amor, criatividade e inteligência no mundo”. Notavelmente, devido a essa acurácia preditiva, Kurzweil foi referido por Bill Gates e outros como o melhor preditor do futuro das tecnologias.

Se Kurzweil está certo ou se demoram mais do que o esperado, o fato é que a nossa atual trajetória sugere que em algum momento chegaremos lá.

Poderíamos escalar a nossa inteligência ou imaginação mais de mil vezes. O que irá radicalmente romper com a forma como pensamos, sentimos e nos comunicamos hoje. A transferência de pensamentos e sentimentos diretamente para o cérebro de outras pessoas poderia redefinir a socialização e a intimidade humanas. Por fim, subir nossa “eu” todo para uma máquina poderia nos fazer transcender nossas peles biológicas e nos tornamos digitalmente imortais.

As implicações são verdadeiramente profundas e muitas questões permanecem ainda não respondidas. Como será a experiência subjetiva da consciência humana quando nossas mentes forem digitalizadas? Como iremos prever de nossos cérebros digitais serem hackeados e serem sobrescritos com pensamentos indesejáveis? Como podemos garantir acesso essas interfaces cérebro-máquina a todos e não apenas ais ricos?

Como diz Peter Diamandis, “Se o futuro se tornar realidade, seres humanos conectados irão mudar tudo. Precisamos discutir as implicações disso com o propósito de tomar as decisões corretas para que estejamos preparados para esse futuro.” 

*Texto escrito originalmente em inglês por Raya Bidshahri e publicado no dia 10/04/2017 no portal Singularity Hub. Caso queira, pode acessá-lo aqui.

 

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.