Recentemente, publicamos uma entrevista com Charles Watson, referência mundial sobre como funciona o processo criativo, o qual contou como a criatividade mais do que um momento iluminado ou uma característica inata, é fruto da transpiração e da paixão em se realizar algo.

Criatividade, portanto, passa ser visto como um processo de aprendizado e baseia-se na alocação de energia em se realizar algo. Na entrevista a seguir, publicada originalmente pela Época Negócios, Watson além de explicar como se dá o processo criativo, mostra também sobre a importância do pensamento divergente para que empresas possam potencializar sua criatividade e serem inovadoras.


É trabalho que gera inspiração

Não o contrário. Mas muitos outros fatores determinarão o êxito da dinâmica criativa. Em uma entrevista com o pesquisador Charles Watson, revemos alguns dos principais conceitos associados com criatividade e inovação.

Watson também realiza palestras em empresas desde a década de 1990, quando foi convidado a expor suas ideias para gigantes como Coca-Cola, Shell, Deloitte Touche Tohmatsu e Arthur Andersen, entre outras. Acompanhe mais sobre o pensamento do educador especialista em criatividade, problem solving e desempenho otimizado.

1. O que é criatividade para você?
Charles Watson. Há muitas definições de criatividade. À que eu me refiro é a tendência de romper paradigmas na sua área de atuação, produzindo resultados concretos que trazem algum nível de contribuição para uma disciplina ou campo de conhecimento. Nesse sentido, por exemplo, não considero que crianças sejam criativas.

Elas são espontâneas, entusiasmadas, curiosas, pensam divergentemente e não têm medo de errar. Todos os fatores que nós, adultos, reconhecemos como fundamentais para a criação, mas que, em si, são insuficientes. O que falta a elas é o tempo necessário para internalizar as complexas regras envolvidas na maioria das atividades.

O chamado conhecimento tácito, um tipo de aprendizado intransferível que você só adquire por meio da convivência ao longo de anos com a sua atividade. O escritor Norman Podhoretz definiu bem: “Criatividade consiste na união milagrosa da energia desenfreada da criança com o senso de ordem imposto pela inteligência disciplinada do adulto”. Ou seja, o diálogo entre o pensamento convergente e divergente.

2. O que é pensamento convergente e pensamento divergente?
O primeiro foca em respostas consideradas certas ou erradas para problemas bem definidos. Normalmente, tem ênfase em reconhecimento de algo familiar e conta com informação já arquivada para a reutilização de estratégias que se mostraram eficazes no passado. Envolve uma série de passos lógicos para chegar a uma solução correta. Esse tipo de pensamento é associado a atividades analíticas e racionais.

Pensamento divergente, por outro lado, refere-se à abrangência de várias possíveis respostas, valorizadas por sua diversidade e dando espaço para a ambiguidade. Esse tipo de pensamento está associado a atividades como arte, música e afins.

3. Pessoas criativas têm características em comum?
Sim. Essas pessoas tendem a ter uma relação de paixão com o que fazem, tendem a ser persistentes, curiosas, inteligentes (até certo ponto), convictas, corajosas e frequentemente com um gosto para o lúdico.

4. Por que você diz “até certo ponto”?
Pessoas que contribuem significativamente para seus respectivos campos de atuação tendem a ser inteligentes, mas não necessariamente brilhantes. Por exemplo, a maioria dos ganhadores do Prêmio Nobel tem QI em torno de 120, 125, em vez de 140, como esperaríamos. O biólogo evolutivo E.O. Wilson, ganhador do Prêmio Nobel, definiu bem esta observação: “Gênios com QI alto têm facilidade em sua formação inicial. Acham pouco recompensadoras as tarefas necessariamente tediosas de coleta e análise de dados. Escolhem não seguir caminhos difíceis como o resto de nós, trabalhadores intelectuais menores”.

5. Os erros fazem parte do processo criativo?
O erro é uma precondição de desempenho criativo. A única coisa que a ausência de erro comprova é que a pessoa nunca experimentou algo novo. É verdade que erros podem ser dispendiosos, mas também podem abrir portas para novas direções e possibilidades e ser uma garantia de que estamos indo além do previsível. Todo sistema que penaliza o erro corre o risco de estar prejudicando sua resiliência em lidar com problemas futuros.

O físico teórico e ganhador do Prêmio Nobel, Richard Feynman, considerado uma das mentes mais criativas do século XX, falava que as únicas coisas que um físico teórico precisava eram um lápis, uma pilha de papel e, principalmente, uma lata de lixo, demonstrando que a maioria das suas ideias seria dispensável.

O químico Linus Pauling, ganhador por duas vezes do Prêmio Nobel, quando questionado se ele tinha uma proporção maior de ideias boas comparada com a de ideias ruins, respondia que a proporção era a mesma para todo mundo, só que ele gerava mais ideias. Em outras palavras, se a proporção de ideias boas é de 5% e você só tem cinco ideias por ano, você está com problemas do ponto de vista criativo.

De fato, uma mente criativa e muito produtiva vai errar mais que uma mente menos criativa e pouco produtiva. Mas, perante conquistas criativas significantes, ninguém se lembra dos erros.

6. Qual é o papel da sorte na criação?
Benjamin Franklin foi acusado de ter tido muita sorte e era categórico na resposta: “Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho”.  Sorte é uma habilidade adquirida. Para uma mente menos preparada, este evento fortuito passa despercebido. Coisas acontecem o tempo todo, mas é uma minoria que as percebe como sendo significantes. Louis Pasteur dizia que no campo da observação o acaso favorece somente as mentes preparadas. Já Joseph Henry, inventor do eletroímã, falava que as sementes das grandes descobertas estão constantemente flutuando ao nosso redor, mas elas apenas se enraízam nas mentes bem preparadas.

Para o pesquisador, a sorte é uma habilidade adquirida (Foto: Lucas de Godoy e Luiza Geoffroy)Para o pesquisador, a sorte é uma habilidade adquirida (Foto: Lucas de Godoy e Luiza Geoffroy)

7. Você acha que atualmente as empresas se preocupam mais com criatividade por vivermos uma grave crise econômica?
Deveriam, mas infelizmente as empresas interessadas em criatividade ainda são uma minoria. Muitas prestam lip service para o assunto criatividade, mas continuam homenageando os conceitos do taylorismo (caracterizado pela ênfase na eficiência e produtividade).

No fundo, parece haver contradições entre certos aspectos de um processo criativo otimizado e as estruturas hierárquicas que formam a base da maioria das empresas. No mundo complexo em que vivemos, com sobrecarga de informação, interconectividade e velocidade de comunicação, estamos experimentando mudanças num ritmo nunca antes testemunhado. E isso sugere a implementação de novos modelos de compreensão. Métodos antes associados à esfera do artístico (pensamento divergente) agora se tornam não só viáveis como fundamentais para a geração de possíveis respostas para problemas que ainda estão por vir.

8. O que significa “Síndrome do Segundo Produto”?
É uma expressão usada para sinalizar que criações de grande sucesso são frequentemente seguidas por follow ups decepcionantes. Normalmente, a expressão é usada em referência a empresas, mas se aplica a outras situações também. Como disse um ex-diretor da INTEL, Andrew Grove: “Os padrões de sucesso do passado geram a complacência que leva ao fracasso futuro”. Há uma lógica bem fundamentada nessa colocação. Mas nem sempre um criador ou empresa que atinge sucesso com um produto ou ideia inovadora entende isso. Frequentemente, tenta repetir o resultado atingido em vez de examinar e simular os mecanismos que deram neste sucesso.

9. O que alguém vindo da área de arte tem a oferecer com palestras para grandes empresas?
Em primeiro lugar, falo pouco sobre arte quando palestro em empresas. Falo muito mais sobre sistemas complexos adaptáveis, como o sistema imunológico, evolução e comportamento de animais sociais. Até porque o que rege esses sistemas todos é a maneira como se beneficiam de informação aparentemente inútil. No fundo, estou falando sobre estruturas similares, só que usando exemplos mais palpáveis para uma lógica cartesiana.


Caso esteja buscando atingir o máximo do seu potencial criativo, temos uma ótima notícia! Charles Watson estará na Escola Design Thinking nos dias 25, 26 e 27 de novembro ministrando módulo 01 da sua Master Class.

Com uma abordagem instigante, no workshop você aprenderá como os mais diversos fatores que fazem a diferença para um desempenho criativo otimizado. Também aprenderá como os fatores culturais, históricos, psicológicos e neurocientíficos influenciam na criatividade, desmistificando o conceito de talento. 

A partir de textos, vídeos e exercícios,  você entenderá os mecanismos que limitam a criatividade para que possa, ludicamente, desenvolver estratégias capazes de contornar essas limitações. Ficou curioso(a) sobre o curso e quer saber mais? Basta acessar aqui e encontre mais informações sobre a Creativity Master Class de Charles Watson. 😉

Ricardo Ruffo

Ricardo Ruffo is a born entrepreneur, educator, speaker and explorer. As a writer by passion Ricardo daydreams on how the world is changing fast and how it could be.

Ruffo is the founder and global CEO of Echos, an independent innovation lab driven by design and its business units: School of Design Thinking, helping to shape the next generation of innovators in 3 countries, Echos – Innovation Projects and Echos – Ventures. As an entrepreneur, he has impacted more than 35.000 students worldwide and led innovation projects for Google, Abbott, Faber-Castell and many more.

Specialist in innovation and design thinking, with extensions in renowned schools like MIT and Berkeley in the United States. Also expert in Social Innovation at the School of Visual Arts and Design Thinking at HPI – dSchool, in Germany.

Naturally curious, love gets ideas flying off the paper. He always tries to see things from different angles to enact better futures. In his free time, spend exploring uninhabited places around the world surfing.